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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Toxicômano

Qualquer indivíduo pode encontrar facilidades para se tornar um toxicômano, mas jamais ficará dependente dos efeitos da droga se não tiver, internamente, as condições psíquicas de um viciado.
Quando se procura determinar as características do comportamento do toxicômano, um fato imediatamente salta aos olhos. É a sua falta de sociabilidade. Por trás do contato imediato e superficial - que chega a impressionar pelo calor humano que transmite - encontra-se uma frieza social grave e constante. A simpatia aparente é apenas encarada como uma das possibilidades de que se serve o viciado para resolver o seu problema básico. Enquanto uma pessoa puder ser útil para a solução das dificuldades encontradas, estabelece-se uma situação de boas relações e até de estreitamento de laços afetivos. Basta, porém, desaparecer a utilidade do amigo para que tal relação seja abandonada sem o menor constrangimento.
Nisso tudo, um fato pode parecer paradoxal. É o aparecimento de uma ligação e proteção verdadeiramente estreitas entre os toxicômanos, que se auxiliam mutuamente e jamais denunciam seus companheiros de vício. Para que se compreenda tal “afetividade” é preciso que se verifique, por trás dela, o objetivo extremamente egoístico de proteção. A proteção mútua é, a rigor, protecionismo do próprio indivíduo no que diz respeito à obtenção das drogas e no fortalecimento da luta destes indivíduos contra a sociedade ameaçadora e restritiva. Formada a “panela”, a indiferença com relação às pessoas que não pertencem ao grupo é então facilmente vista como uma atitude anti-social.
Reagindo diante das medidas restritivas à satisfação prazerosa por eles procurada, os toxicômanos desenvolvem atitudes contra o meio em que vivem. Justamente por isso, tal revolta deve ser sempre encarada como secundária a alguma proibição ou limitação. O sentimento básico é sempre o de ausência de afetos fraternais. Os grupos só se formam quando existe e enquanto perdura um fim comum a ser desenvolvido e defendido.

EGOCENTRISMO - O que predomina no viciado, portanto, é uma tendência egocêntrica. A satisfação é encontrada na própria pessoa que, então, não se liga a nada que é exterior porque encontra sempre um prazer narcísico.
A vontade de tais pessoas é então posta a serviço dessa satisfação narcísica, registrando-se uma procura permanente de imobilidade ou indiferença diante das situações externas. E, quando, por algum motivo, a satisfação íntima é prejudicada por limitações exteriores, então o viciado se volta contra o mundo e passa a lutar contra ele. Sua atuação poderá ser nitidamente anti-social ou, ao contrário, extremamente cativante para obter os fins almejados.
O estado básico de humor é geralmente oscilante. Predomina quase sempre um fundo de angústia cortado por reações de irritabilidade e impulsos coléricos. Os estados afetivos são instáveis, da mesma forma que toda a conduta.
No estudo do toxicômano devem ser levados em consideração os dois fatores mais importantes em jogo: de um lado as respostas do uso da droga e, de outro, as respostas da própria personalidade em exame. Assim, a euforia comumente encontrada é condição que tanto pode ser atribuída aos efeitos do tóxico como à reação do próprio viciado. Certas drogas, especialmente as do grupo dos opiáceos, desenvolvem nas primeiras fases da intoxicação um intenso estado eufórico. A pessoa vive um intenso bem-estar, cessando por completo a angústia que experimentava. Chega mesmo a encontrar uma nova maneira de se relacionar com o mundo, selecionando só experiências e percepções agradáveis enquanto abafa todas as demais.
Nem todas as drogas e nem todos os viciados desenvolvem intensamente esse “paraíso”. Acredita-se, porém, que todas as dependências toxicomaníacas se desenvolvem na base da lembrança de situações eufóricas passadas. O bem-estar e a seleção das impressões felizes é que mobiliza todo o interesse para a repetição da experiência. A imaginação sofre um processo de enriquecimento; desliga-se das limitações da realidade e o indivíduo passa a constituir o centro de toda a felicidade.
Freqüentemente esta situação é acompanhada por colorido erótico, presente mais num plano fantasioso e de construções mentais do que tendente à realização concreta. Durante a fase eufórica da intoxicação, os viciados vivem verdadeiro sonho onde a inspiração encontra livre trânsito.
Essa possibilidade de liberar a fantasia tem fundamental importância na atividade do toxicômano. Explica até o requinte com que certos grupos de viciados cercam o consumo da droga; especialmente os que utilizam maconha procuram colocar-se num ambiente confortável e semi-escuro que propicie a liberação.
A euforia assim desenvolvida assemelha-se a um sonho, durante o qual o indivíduo se fecha em si mesmo, para organizar sua atividade mental movida pelo princípio do prazer. Qualquer interrupção, ou tentativa de abrir diálogo, provoca imediata irritação. Mas, para prejudicar todo esse processo, que parece iludir facilmente a angústia e a realidade, começam a desenvolver-se outras manifestações.

A TOLERÂNCIA - Uma dessas manifestações, mais ligada ao tóxico do que ao viciado, é a tolerância à droga. Em síntese, consiste na necessidade de utilizar doses crescentes para obter os mesmos efeitos. O aumento da droga é totalmente irregular, sem qualquer relação entre quantidades e períodos de tempo. O tóxico deve ser sempre tomado numa “faixa útil”, para evitar o perigo de não alcançar os efeitos desejados; ou, pior ainda, ingerir uma superdosagem que, além de não ser útil, provoca manifestações desagradáveis.
A necessidade de encontrar esse equilíbrio de dosagem provoca no toxicômano mais outra angústia: a dúvida de ter ou não usado uma dose que propicie o efeito desejado. Com o aparecimento da tolerância, chega a doses verdadeiramente incríveis que, se ingeridas por uma pessoa não acostumada a tóxicos, provocariam a morte.
Fato interessante é que, feita a desintoxicação numa clínica especializada, a tolerância retorna ao mínimo e o viciado volta a reagir com pequenas doses.

A DEPENDÊNCIA - Outro aspecto ligado à droga é a dependência: ligação duradoura e escravizante do indivíduo em relação ao tóxico.
A mesma droga que liberta o indivíduo na angústia, prende-se ao vício. Esta dependência se torna tão importante e central que o indivíduo passa a viver em função dela. A necessidade de satisfaze-la obriga o toxicômano a fazer “qualquer negócio”, quase sempre prejudicial à sua pessoa, para conseguir a droga.
A falta da substância (abstinência) caracteriza-se pela aparição mais ou menos súbita de vários sintomas. Iniciam-se entre 12 e 72 horas e apresentam nuanças variáveis tanto no tipo de sintoma como na sua intensidade. O quadro central é caracterizado por tremores, espasmos musculares mais ou menos amplos, insônias, excitação e uma ansiedade brutal.
Geralmente ocorre algumas complicações física, sendo mais freqüentes as infecções do aparelho digestivo ou pulmonar (broncopneumonia) que agravam ainda mais o estado geral. Com as atuais possibilidades terapêuticas, é possível controlar e mesmo diminuir a gravidade dessas manifestações.
Tudo, porém, depende do tipo de droga em uso (morfina e similares são as de conseqüências mais graves), do estado físico geral do indivíduo e, como conseqüência dos dois primeiros, a instalação paralela de um dos quadros infecciosos já citados.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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