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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Ortopedia: Anatomia e Biomecânica da Coluna Vertebral

José Tupinambá Sousa Vasconcelos

ASPECTOS GERAIS
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Arranjo anatômico geral da coluna vertebral
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A coluna vertebral é uma série de ossos individuais - as vértebras - que quando articuladas, constituem o eixo central esquelético do corpo. A coluna vertebral é flexível porque as vértebras são móveis, mas a sua estabilidade depende principalmente dos músculos e ligamentos. Embora seja uma entidade puramente esquelética, do ponto de vista prático, quando nos referimos à "coluna vertebral", na verdade, estamos também nos referindo ao seu conteúdo e aos seus anexos, que são os músculos, nervos e vasos com ela relacionados. Seu comprimento é de cerca de dois quintos da altura total do corpo. É constituída de 24 vértebras móveis pré-sacrais (7 cervicais, 12 torácicas e 5 lombares). As 5 vértebras imediatamente abaixo das lombares estão fundidas no adulto para formar o sacro. As quatro vértebras mais abaixo também se fundem para formar o cóccix.
As vértebras tornam-se progressivamente maiores em direção inferior até o sacro, tornando-se a partir daí sucessivamente menores.
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Funções da coluna vertebral
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A função primária da coluna vertebral é dotar o corpo de rigidez longitudinal, permitindo movimento entre suas partes. Secundariamente, constitui uma base firme para sustentação de estruturas anatômicas contíguas, como costelas e músculoss abdominais, permitindo a manutenção de cavidades corporais com forma e tamanho relativamente constantes. Embora muitos textos assinalem que a proteção da medula espinhal é uma função primária da coluna vertebral, isso não é verdade. Sua função primária é músculo-esquelética e mecânica, constituindo-se apenas como uma rota fortuita e conveniete para a medula espinhal ganhar acesso a partes distantes do tronco e dos membros.
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Regiões da coluna vertebral
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A coluna vertebral do adulto apresenta quatro curvaturas sagitais: cervical, torácica, lombar e sacral. As curvaturas torácica e sacral, convexas posteriormente, são denominadas primárias porque apresentam a mesma direção da coluna vertebral fetal e decorrem da diferença de altura entre as partes anteriores e posteriores dos corpos vertebrais. As curvaturas cervical e lombar, côncavas posteriormente, formam-se após o nascimento e decorrem da diferença de espessura entre as partes anteriores e posteriores dos discos intervertebrais.
  • CERVICAL: Constitui o esqueleto axial do pescoço e suporte da cabeça.
  • TORÁCICA: Suporta a cavidade abdominal e permite mobilidade entre a parte torácica do tronco e da pelve.
  • LOMBAR: Suporta a cavidade abdominal e permite mobilidade entre a parte torácica do tronco e da pelve.
  • SACRAL: Une a coluna vertebral à cintura pélvica.
  • COCCÍGEA: É uma estrutura rudimentar em humanos, mas possui função no suporte do assoalho pélvico.
Desenvolvimento e ossificação
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As vértebras começam a se desenvolver no período embrionário como condensações mesenquimais em torno do notocórdio. Posteriormente, essas condensações mesenquimais se condrificam e a cartilagem assim formada é substituída por osso. Ao nascer, as últimas vértebras sacrais e as coccígeas podem ser inteiramente cartilagíneas. Nesse caso, começam a ossificar durante a infância. Centros de ossificação ocorrem sucessivamente nas vértebras durante o crescimento, de modo que um aumento pequeno, porém significante na altura dos corpos vertebrais dos homens, ocorre entre 20 e 45 anos de idade.
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Variações e anomalias
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Ocorrem variações vertebrais segundo raça, sexo, fatores genéticos e ambientais. Por exemplo, as colunas com maior número de vértebras ocorrem com mais frequência em indivíduos do sexo masculino e aquelas com número reduzido de vértebras ocorrem mais amiúde no sexo feminino.
As variações são congênitas e podem ser de número, forma e posição, sendo as primeiras mais frequentes.
As variações mais comumente observadas são:
  • Uma costela articula-se com a sétima vértebra cervical.
  • 12ª costela torácica com tamanho reduzido ou aumentado, podendo haver uma pequena costela lombar.
  • A 5ª vértebra lombar está parcial ou totalmente incorporada ao sacro (sacralização de L5).
  • O primeiro segmento sacral está parcial ou totalmente separado do sacro (lombarização de S1).
  • Aumento de tamanho dos processos transversos de L5 ou L5 (megaapófises).
  • Segmentação parcial do segmento sacral inferior.
  • Incorporação ao sacro do segmento superior do cóccix.
COMPONENTES ANATÔMICOS DA COLUNA VERTEBRAL
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Vértebras
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A vértebra típica
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Um corpo
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É a parte que suporte carga. Consiste basicamente de osso esponjoso, mas as bordas das superfícies superior e inferior são compostas de osso compacto. O corpo está separado dos corpos das vértebras acima e abaixo pelo disco intervertebral.
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Um arco
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Está posterior ao corpo. É composto dos pédículos direito e esuerdo e das lâminas direita e esquerda. Juntamente com a fce posterior do corpo vertebral, forma as paredes do forame vertebral que envolve e protege a medula. O conjunto dos forames vertebrais em toda a extensão da columa forma o canal vertebral.
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Os processos
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São espículas ou pontas ósseas que partem das lâminas.
  • Processo espinhoso: Parte posteriormente de cada arco vertebral.
  • Processo transverso: Parte lateralmente da junção dos pedículos com as lâminas.
  • Processos articulares: Possuem facetas articulares superior e inferior para articulação com as vértebras acima e abaixo.
As vértebras cervicais
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Atlas e áxis
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Atlas é a primeira vértebra cervical, e o crânio repousa sobre ela. Recebe esse nome a partir de Atlas, que na mitologia grega tinha a reputação de suportar a terra. Não tem espinha nem corpo. Consiste apenas de duas massas laterais conectadas por um arco anterior curto e um arco posterior longo.
Áxis é a segunda vértebra cervical e recebe esse nome porque forma um pivô (processo adontóide ou dente) em torno do qual o atlas gira, levando consigo o crânio.
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Terceira à sexta vértebras cervicais
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Cada uma apresenta um corpo vertebral pequeno e largo, um grande forame vertebral triangular e um processo espinhoso curto e bífido.
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Sétima vértebra cervical
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É conhecida como vértebra proeminente, porque possui um processo espinhoso longo, visível na anatomia de superfície, principalmente com o pescoço flexionado.
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Vértebras torácicas
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São normalmente em número de 12 e suportam as costelas.
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Primeira vértebra torácica
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Assemelha-se a uma vértebra cervical.
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Segunda à décima primeira vértebras torácicas
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São as vértebras torácicas típicas. Possuem corpo em forma de rim, forame vertebral circular, processo espinhoso longo e delgado. Sua principal distinção anatômica é a presença das fóveas costais superior e inferior, para encaixe da cabeça das costelas correspondentes.
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Décima segunda vértebra torácica
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É uma vértebra de transição, possuindo fóveas costais como as vértebras torácicas e processos articulares e espinhosos semelhantes às vértebras lombares.
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As vértebras lombares
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Distinção com as vértebras torácicas
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Distinguem-se das vértebras totácicas pelo seu grande tamanho, pela ausências de fóveas costaise e forames transversais, processos transversais finos e processos espinhosos quadriláteros.
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Características comuns das vértebras lombares
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Corpos grandes e reniformes, forames vertebrais triangulares, pedículos e lâminas curtas e espessas.
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O sacro
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Constituição geral
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O sacro está formado por cinco vértebras que se fundem no adulto para formar um único osso em forma de cunha. Articula-se superiormente com a quinta vértebra lombar e lateralmente com os ossos do quadril.
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Face pelvina
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É côncava e lisa e possui quatro pares de forames sacrais pelvinos, por onde saem os ramos ventrais dos primeiros nervos sacrais e seus vasos.
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Face dorsal
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é rugosa e convexa. As espinhas dorsais das vértebras sacrais formam a crista sacral mediana. A fusão dos processos articulares forma as cristas sacrais intermediárias. Possui quatro pares de formas sacrais dorsais. Inferiormente, os cornos sacrais se articulam com os cornos coccígeos.
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Parte lateral ou massa sacral
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é formada pela fusão dos processos transversos, dando origem à crista sacral lateral. A parte superior da parte lateral apresenta uma superfície em forma de orelha (superfície auricular), que se articula com o ílio.
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A base
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Apresenta o promontório, que é a borda anterior da superfície anterior da primeira vértebra sacral e o canal sacral que contém o saco dural, a parte mais abaixo da cauda equina e o filamento terminal. Aprewsenta também os processos articulares, para articulação com L5.
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O cóccix
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Como o sacro, o cóccix possui a forma de cunha e apresenta uma base, um ápice, faces dorsal e pelvina e dordas laterais. Consiste de quatro vértebras, algumas vezes cinco e, ocasionalmente, três. A primeira possui dois cornos que se articulam com os cornos sacrais.
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RESUMO: ARTICULAÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL:
  1. Articulações entre corpos vertebrais
  2. Articulações dos arcos vertebrais
  3. Articulações costo-vertebrais e costo-transversas
  4. Articulações sacroilíacas
  5. Articulações especiais: Atlanto-occipital, Atlanto-axial, Unco-vertebrais.
ARTICULAÇÕES ENTRE CORPOS VERTEBRAIS
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Sinonímia e aspectos gerais
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É também conhecida pelo nome de articulação intersomática ou intercorpórea. Os corpos intervertebrais adjacentes são mantidos unidos por ligamentos longitudinais e por discos intervertebrais.
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O disco intervertebral
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Estrutura anatômica
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São coxins elásticos que formam as articulações fibrocartilagíneas entre os corpos vertebrais adjacentes. Consiste tipicamente de um núcleo pulposo circundado por um anel fibroso. No ânulo fibroso, duas porções podem ser identificadas. A porção externa está fortemente ancorada nos corpos vertebrais adjacentes, misturando-se aos ligamentos longitudinais. É a porção ligamentar do ânulo fibroso. a porção interna forma um denso envelope esferoidal ao redor do núcleo pulposo. O núcleo pulposo que ocupa o centro do disco é branco, brilhante e semigelatinoso. É altamente plástico e comporta-se como um fluido.
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Estrutura histológica e bioquímica
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A porção externa do ânulo fibroso é constituída de 10-12 lamelas, concêntricas de fibras colágenas, dispostas em forma de espiral, num ângulo de 65º com a vertical. A camada interna é de constituição fibrocartilagínea. O núcleo pulposo consiste de um núcleo central de matriz de proteoglicanos bem hidratadas. Esse alto conteúdo de água é maximo ao nascimento e diminui com a idde, possuindo um ritmo nictemeral, diminuindo o conteúdo aquoso durante o dia (variação de 1-2 cm na altura do disco). Com o avançar da idade, todo o disco tende a ficar fibrocartilagíneo, adelgaçando-se e sofrendo fissuras.
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Funções
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1. Ânulo fibroso:
  • Ajuda a estabilizar os corpos vertebrais adjacentes
  • Permite o movimento entre os corpos vertebrais
  • Atua como ligamento acessório
  • Retém o núcleo pulposo em sua posição
  • Funciona como amortecedor de forças
2. Núcleo pulposo:
  • Funciona como mecanismo de absorção de forças
  • Troca líquido entre o disco e capilares vertebrais
  • Funciona como eixo vertical de movimento entre duas vértebras
Topografia e características especiais
  1. São responsáveis por um quarto do comprimento da coluna vertebral.
  2. São mais finos nas regiões torácicas e mais espessos na região lombar.
  3. Os discos cervicais e lombares são mais espessos na porção anterior que na posterior, contribuindo para a formação dessas curvaturas secundárias.
Os ligamentos longitudinais
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Anterior
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É uma faixa bastante ampla de tecido espesso, que passa longitudinal e anteriormente aos corpos vertebrais e discos intervertebrais e que se funde com o periósteo e ânulo fibroso, respectivamente. Acima se insere no tubérculo anterior do atlas e abaixo, se espalha sobre a superfície pelvina do sacro.
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Posterior
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Localiza-se no interior do canal vertebral, passando longitudinal e posteriormente aos corpos vertebrais e aos discos intervertebrais. Acima, se continua com a membrana tectória, inserindo-se no osso occipital. Abaixo, se perde no canal sacral.
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ARTICULAÇÕES ENTRE ARCOS VERTEBRAIS
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Descrição e sinonímia
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Os arcos vertebrais estão conectados por articuçaões sinoviais chamadas zigoapofisárias formadas pelos processos articulares de duas vértebras contíguas e por ligamentos acessórios que se conectam com as lâminas e os processos transversos e espinhsos. Anteriormente eram também referidas como articulações interapofisárias.
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Os ligamentos acessórios
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Ligamentos flavos
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Conecta as bordas das lâminas das vértebras adjacentes. Como se estendem até as cápsulas das articuçaões zigoapofisárias, contribuem para formar o limite posterior do forame intervertebral.
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Ligamento da nuca
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É uma membrana triangular que forma um septo fibroso mediano entre os músculos dos dois lados do pescoço. Insere-se superiormente no osso occipital, prendendo-se nos processos espinhosos até a sétima vértebra cervical.
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Ligamento supra-espinhal
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Conecta as extremidades dos processos espinhosos. é muito pouco desenvolvido na região lombar inferior. Acima, junta-se com o ligamento da nuca.
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Ligamentos interespinhais
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Conecta os processos espinhosos adjacentes em sua extensão. São bem desnevolvidos somente na região lombar.
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Ligamentos intertransversais
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Conectam os processos transversos adjacentes. São insignificantes, exceto na região lombar.
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ARTICULAÇÕES COSTOVERTEBRAIS
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Articulações costo-somáticas
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Consistem nas articulações das cabeças das costelas com os corpos vertebrais.
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Articulações costo-transversas
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Consistem nas articulações dos tubérculos das costelas com os processos transversos das vértebras.
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ARTICULAÇÕES SACROILÍACAS
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Estrutura das articulações sacroilíacas
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É uma articulação sinovial plana formada pela união das superfícies auriculares do sacro e do ílio, a cada lado. Possui a função de ligar firmemente a coluna vertebral à cintura pélvica. A morfologia dessa articulação muda com a idade, passando de uma junta puramente sinovial na infância até uma junta de fibrocartilagem no idoso.
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Os ligamentos iliolombares
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São város ligamentos fortes, dispostos de tal forma, que contribuem importantemente para a estabilidade lombossacra. Esses ligamentos incluem:
  • Ligamento iliolombar superior
  • Ligamento iliolombar inferior
  • Ligamento iliolombar anterior
  • Ligamento iliolombar posterior
ARTICULAÇÕES ESPECIAIS DA COLUNA VERTEBRAL
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Atlanto-occipital
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É uma articulação sinovial bilateral entre a faceta articular superior da massa lateral do atlas e o côndilo occipital correspondente. Funcionam, em conjunto, como uma articulação elipsoidal.
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Atlanto-axial
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São três articulações sinoviais: duas laterais e uma mediana. As laterais são sinoviais planas entre os processos articulares opostos de atlas e áxis. A mediana comporta-se como um pivô e ocorre entre o arco anterior do atlas e o processo odontóide do áxis.
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Uncovertebrais
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Não constituem anatomicamente uma articulação verdadeira. É a relação entre o processo uncinado da vértebra cervical e o corpo vertebral da vértebra abaixo.
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OS MÚSCULOS DA COLUNA VERTEBRAL
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Localização topográfica
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Uma maneira prática de descrever topograficamente os músculos da coluna vertebral é definir sua posição em relação a um plano que passa pelo processo transverso das vértebras. Aqueles que estão situados anteriormente em relação à ela compõem a musculatura anterior da coluna vertebral. Aqueles ao plano posteriormente situados compõem a musculatura posterior da coluna vertebral. A coluna vertebral é dotada de músculos posteriroes em toda a sua extensão, mas só existem músculos anteriores nas regiões cervical e lombar.
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ANATOMIA NEURAL DA COLUNA VERTEBRAL
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topografia vértebro-medular
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No adulto, a medula não ocupa todo o canal medular, pois termina ao nível de L2. Assim, não há uma correspondência entre as vértebras e o segmento medular correspondente. Considera-se segmento medular a parte da medula compreendida entre a radícula mais acima de um nervo espinhal e a mais abaixo desse mesmo nervo. A segmentação medular não é completa, já que não existem sulcos transversais separando os segmentos medulares. Nas porções superior e média da coluna cervical, o segmento medular está quase direetametne posterior à sua vértebra correspondente. A partir daí, começa a ficar aparente a discrepância vértebro-medular, de modo que o segmento C8 está imediatamente atrás da vértebra VII (um segmento mais alto). Essa relação se mantém até o nível de T11, quando, a partir daí, o segmento medular está duas vértebras acima de sua vértebra correspondente.
Os nervos espinhais cervicais saem pelo forame intervertebral acima de sua vértebra correspondente, com exceção de C8, que sai abaixo da sétima vértebra cervical. Todos os outros nervos espinhais saem pelo forame intervertebral abaixo de suas vértebras ipsissegmentares.
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As raízes nervosas
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Formação e anomalias
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Nos sulcos lateral anterior e lateral posterior da medula, fazem conexão pequenos filamentos nervosos denominados filamentos radiculares, que se unem para formar, respectivamente, as raízes dorsal (sensitiva) e vental (motora) dos nervos espinhais. As duas raízes, por sua vez, se unem para formar os nervos espinhais, ocorrendo essa união distalmente ao gânglio espinhal da raiz dorsal. As raízes nervosas ocupam cerca de 7-22% da área seccional transversa do forame intervertebral, com exceção de L5, que requer 25%-30% da área disponível.
Existe um número importante de anomalias das raízes nervosas. Uma classificação útil propõe três tipos de anomalia:
  • TipoI: Duas raízes separadas emanam de uma mesma bainha dural (raiz conjunta).
  • Tipo II: Duas raízes saem da coluna vertebral por um único forame neural.
  • Tipo III: Ocorre uma anastomose entre raízes adjacentes.
Dermátomos e miótomos
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Dermátomo é o território cutâneo inervado por uma única raiz nervosa dorsal. O dermátomo recebe o nome da raiz que o inerva. Ex: dermátomo de C5. Há uma considerável superposição entre dermátomos, de modo que os limites entre dermátomos adjacentes são imprecisos.
Miótomo ou campo radicular motor é o conjunto de músculos inervados por uma única raiz ventral. A maioria dos músculos são plurirradiculares, mas existem músculos unirradiculares, como os intercostais.
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Organização radicular da cauda equina
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A causa equina possui um padrão de inervação dentro do saco tecal, de modo que as raízes lombares superioers estão em posição lateral e as raízes lombares inferiores e sacrais estão em posição progressivamente mais medial.
Dentro de cada raiz da cauda equina há também um arranjo microanatômico. As fibras motoras estão localizadas em posição ântero-medial e as fibras sensitivas em posição póstero-lateral.
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Os nervos espinhais
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Os nervos espinhais são aqueles que fazem conexão com a medula espinhal. São em número de 31 pares, que correspondem aos 31 pares de segmentos medulares existentes: 8 pares de nervos cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacrais e 1 coccígeo. O tronco do nervo espinhal sai do canal vertebral pelo forame intervertebral e logo se divide em um ramo dorsal e um ramo ventral. O ramo dorsal, geralmente menor, se distribui à pele e aos músculos da região dorsal do tronco. Os ramos ventrais representam, praticamente, a continuação do tronco do nervo espinhal. Eles se distribuem pela musculatura, pele, ossos e vasos dos membros, região ântero-lateral do pescoço e tronco. Os ramos ventrais dos nervos espinhais formam os plexos nervosos que darão origem a importantes nervos do corpo humano.
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BIOMECÂNICA DA COLUNA VERTEBRAL
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O conceito de biomecânica
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É a disciplina que descreve a operação do sistema músculo-esquelético.
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RESUMO: MOVIMENTOS DA COLUNA VERTEBRAL
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1. Plano sagital: Flexão, Extensão.
2. Plano coronal: Lateralização direita, Lateralização esquerda.
3. Plano longitudinal: Rotação ou circundação.
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RESUMO: AMPLITUDE DE MOVIMENTO DA COLUNA VERTEBRAL
  1. Segmento cervical: Flexão (mento da fúrcula), Extensão (mento a 18 cm da fúrcula), Lateralização (30 graus), Rotações (60 graus).
  2. Segmento torácico: Rotação (75 graus), Lateralização (30 graus)
  3. Segmento lombar: Flexão (60 graus), Extensão (30 graus), Lateralização (20 graus), Rotações (5 graus).
A lateralização do segmento dorsal dá-se na transição dorso-lombar.
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A cinemática da coluna vertebral
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A cinemática descreve as amplitudes e os padrões de movimento da coluna vertebral.
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A cinética da coluna vertebral
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A cinética estuda as forças que causam e resistem aos movimentos da coluna vertebral.
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A articulação sacroilíaca
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Embora fortemente contida por seus ligamentos, a articulação sacroilíaca exibe movimentos que são pequenso na sua amplitude, mas complexos na sua natureza, normalmente não passando de 2º. Entretanto, durante a marcha ou em movimentos complexos como a flexão e extensão dos quadris, a articulação sacroilíaca pode exibir movimentos de maior amplitude em outros planos.
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BIODINÂMICA DA COLUNA VERTEBRAL
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A coluna como viga em balanço
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A coluna vertebral, do ponto de vista mecânico, é definida como uma viga em balanço, suportanto cargas estáveis e móveis.
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A estabilidade vertebral
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Depende, principalmente, do papel das articulações zigoapofisárias, dos ligamentos e da ação da musculatura, que, agindo nas estruturas anatômicas próprias. levam à formação de curvas de adaptação no sentido ântero-posterior. A estabilidade vertebral depende, portanto, dos mesmos fatores que fazem contraposição às cargas recebidas.
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Forças que atuam na coluna vertebral
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A coluna vertebral sofre a ação de forças de tração e, em antagonismo, forças de compressão. Menos importantes são as forças de cisalhamento. A descarga das forças ocorre da seguinte maneira: o corpo vertebral recebe as cargas e sobrecargas de compressão e a lâmina, por sua vez, recebe as cargas e sobrecargas equilibrantes de tração, auxiliados pelos músculos e ligamentos paravertebrais.
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Corpos de igual resistência
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Observando a forma e o tamanho das vértebras ao longo da coluna, vemos que as vértebras cervicais ocupam uma área bem menor que as lombares, para que cada uma suporte convenientemente as forças e cargas a que são submetidas. É que a coluna vertebral atende a um princípio da resistência dos materiais chamado corpo de igual resistência de determinado sólido de forma bizarra, no qual, seja qual for a seção transversa considerada, o esforço de compressão será o mesmo. Como exemplo de similitude, funciona como as chaminés de tijolos das fábricas, que é como a coluna vertebral, são cônicas por fora e cilíndricas por dentro. Assim, à medida que se desloca do ápice para a base, a área seccional transversa vai ficando cada vez maior, para que haja aproximadamente a mesma carga por unidade de superfície em quaisquer das secções consideradas.
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O papel do disco intervertebral
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Cabe ao disco o importante pepel de dissipação da energia mecânica, através de deformações elásticas que estes sofrem ao receber as forças solicitantes.
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A unidade motora vertebral
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É formada por uma vértebra montada sobre a outra, como todos os elementos constituintes intermediários. Funciona como um segmento motor vertebral.
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O canal raquidiano
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O canal raquidiano localiza-se em uma posição intermediária em relação às forças que atuam sobre a coluna vertebral, onde os esforços são mais reduzidos pela proximidade de um plano de forças neutro. Além do mais, seja qual for a posição que o indivíduo assumir, as dimensões do canal vertebral não se altera significativamente, garantindo seu papel secundário, mas importante, de proteção à medula espinhal e raízes nervosas.
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Lordose versus cifose
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Se observarmos um indivíduo lateralmente, percebemos que quanto mais profundas forem as concavidades das lordoses cervical e lombar, maior será a convexidade da cifose dorsal e vice-versa. Há, portanto, uma equivalência equitativa entre essas curvas adaptativas.
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CONCLUSÕES: As afecções da coluna vertebral constituem um dos mais comuns desafios para os profissionais que lidam com as enfermidades do aparelho locomotor. Apesar dos avanços dos métodos de imagem, o conhecimento da anatomia e a compreensão da biomecânica, continuam sendo a base para o diagnóstico e tratamento das doenças vertebrais.
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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ortopedia: Cervicalgias - Diagnóstico Diferencial

Silvio Figueira Antonio
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INTRODUÇÃO
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O conhecimento da coluna cervical e suas patologias inerentes são indispensáveis na prática clínica reumatológica, uma vez que estas podem se manifestar como queixas inespecíficas, como cefaléia e mialgias difusas, até quadros nítidos de mielorradiculopatias, com impotência funcional importante. Devemos ter em mente as inúmeras patologias que podem acometer a coluna cervical, citando traumatismos, processos inflamatóriois, degenerativos e neoplásicos, além da gama de diagnósticos diferencias com outras condições da medicina interna (endócrinas, metabólicas, hematológicas, etc.) que podem se apresentar com dor cervical. A prevalência de cervicalgia no âmbito damedicina ocupacional vem aumentando significativamente, sendo considerada como um dos grandes problemas da sociedade moderna.
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EPIDEMIOLOGIA
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Existe uma grande dificulade em obter dados fiéis para traçar um perfil da prevalência das cervicalgias, visto que se trata de um grupo de patologias com aspectos clínicos multifatoriais, envolvendo fatores de risco individuais, como caracteres físicos e psicossociais, além de fatores relacionados a ergonomia e atividades laborativas.

A cervicalgia é menos frequente que a lombalgia. Sua prevalência atual na população geral é estimada em 29% nos homens e 40% nas mulheres, e estes índices podem ser ainda maiores quando avaliamos populações selecionadas de acordo com atividades exercidas no trabalho. Nos casos de acidentes automobilísticos, a condição conhecida como síndrome de chicote (Whiplash) apresenta uma incidência variável de 18 a 60%.

Embora haja uma clara relação entre as queixas músculo-esqueléticas e fatores ocupacionais, muitos estudos apresentam baixa qualidade metodológica, sendo que até o presente momento existem evidências positivas de cervicalgias relacionadas com posturas fixas e prolongadas, curvatura exagerada do tronco, flexão cervical acentuada durante as atividades, ergonomia inadequada e atividades que envolvam vibração do segmento mão-braço.

A maioria dos estudos indica a necessidade urgente de orientação e programas de reeducação postural, com finalidade de diminuição de custos advindos das síndromes dolorosas cervicais. Estimativas da Holanda postram gastos diretos e indiretos de cerca de US$4 milhões ao ano com tais condições.
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ANATOMIA E BIOMECÂNICA
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A coluna cervical está envolvida com o processo de sustentação e movimentação da cabeça, proteção das estruturas neurais e vasculares. Estima-se que a mobilização da coluna cervical ocorra cerca de 600 vezes por hora, ou a cada 6 segudos.

É constituída por sete vértebras, sendo que as duas primeiras (atlas e axis) apresentam propriedades distintas das restantes. O atlas tem a forma de anel, não possui corpo vertebral e se articula com a base do crânio através da articulação atlanto-occipital, sendo responsável por grande parte do movimento sagital da coluna cervical. O áxis, a segunda vértebra, possui proeminência que emerge do seu corpo vertebral, chamada processo odontóide, o qual se projeta para o interior do atlas, formando um pivô sobre o qual a articulação atlanto-axial consegue efetuar a rotação do crânio; entre estas duas vértebras não existe disco intervertebral, e são separadas e sustentadas por diversos ligamentos internos.

As demais vértebras cervicais de C3 a C7 são mais homogêneas, possuem corpo vertebral anterior e arco neural posterior e se diferenciam das vértebras torácicas e lombares por apresentarem o forame transverso, através do qual passa a artéria vertebral.

Os corpos vertebrais são separados pelos discos intervertebrais, que são compostos por duas porções: uma central, chamada de núcleo pulposo, o qual é constituído por 90% de água e proteoglicanos e outra periférica, denominada de ânulo fibroso, formado por fibras resistentes, dispostas em lamelas concêntricas. Tais estruturas são responsáveis por absorção de impacto e dispersão de energia mecânica, sendo importantes alvos de processos degenerativos.

A biomecânica da coluna cervical envolve a distribuição de forças sobre o disco intervertebral, sendo que a região do ânulo fibroso é responsável pela recepção de carga, distribuindo posteriormente para o núcleo pulposo. Durnate o processo de envelhecimento, ocorre uma redução da quantidade de água do núcleo pulposo e uma diminuição na capacidade de embebição do disco, associado a um aumento do número de fibras colágenas, determinando uma menor elasticidade e compressibilidade. Tais alterações tornam o ânulo fibroso susceptível a rupturas, podendo, através destes pontos, produzir herniações discais com compressões radic ulares. O processo degenerativo se caracteriza ainda por formações osteofitáris, diminuição da altura do disco intervertebral e esclerose subcondral.
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EXAME FÍSICO
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O exame físico da coluna vertebral compreende a inspeção, a palpação, a mobilização ativa e passiva e manobras especiais.

Durante a inspeção, devemos observar se existem deformidades, alterações da lordose cervical, posições antálgicas, anormalidades porturais e sinais traumáticos. Durante a palpação devemos verificar a presença de pontos dolorosos, contratura da musculatura paravertebral, além de detectarmos adenomegalias ou massas cervicais; deve ser realizada, como rotina no exame, a palpação da tireóide e dos pulsos carotídeos.

A mobilização ativa e passiva fornece a amplitude de movimento e o possível segmento cervical acometido. No eixo sagital, a flexão e a extensão atingem uma amplitude de movimento de aproximadamente 70 graus; a rotação compreende 90 graus e a lateralização cerca de 45 graus, sendo que estas amplitudes são reduzidas com a idade e na vigência de processos inflamatórios.

Durante o exame físico, a presença de dor irradiada para ombro, escápula e membro superior denota a necessidade de avaliação neurológica cuidadosa, com ênfase nas alterações de reflexos, presença de paresias ou parestesias e sua distribuição dermatomérica.
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TESTES ESPECIAIS
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Teste de compressão: realizado com compressão progressiva da cabeça; ocasiona um aumento da dor cervical, devido a estreitamento foraminal, aumento da pressão na raiz acometida, sobrecarga nas facetas articulares e sensibilização muscular.

Teste de tração: promove um alívio da sintomatologia dolorosa, por consequente aumento do diâmetro foraminal, diminuição da compressão radicular e da tensão nas estruturas acometidas.

Teste de Valsalva: ocasiona aumento da pressão intratecal; auxílio diagnóstico nas lesões expansivas.

Manobra de Spurling: extensão e rotação conjuntas da cabeça, com reprodução da dor radicular.

Sinal de Lhermitte: presença de parestesias em mãos e/ou pernas, durante a flexão cervical forçada, sugestivo de mielopatia.

Teste de Adson: palpação do pulso radial durane a abdução, extensão e rotação externa do braço, com rotação homolateral do pescoço. A diminuição do pulso caracteriza um teste positivo, sugestivo de síndrome do desfiladeiro torácico.
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DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DAS CERVICALGIAS
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Os pacientes apresentando queixas de dor cervical devem ser avaliados no sentido de descartarmos possíveis condições orgânicas subjacentes que podem ser responsáveis pelo seu quadro clínico, seja por meio de propedêutica clínica ou armada.
São inúmeros os sinais que têm como origem a patologia cervical, podendo estes, muitas vezes, ser inespecíficos, dificultando seu diagnóstico e ampliando o espectro do diagnóstico diferencial:
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Quadro resumo - Causas de dor cervical:
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- Causas mecânicas
- Doenças reumáticas
- Infecções
- Tumores e lesões infiltrativas
- Doenças endócrinas, metabólicas e hereditárias
- Doenças neurológicas e psiquiátricas
- Dor referida
- Miscelânea
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A presença de febre ou perda de peso é sugestiva de processo infeccioso ou tumoral. Pacientes apresentando dores que pioram na posição deitada ou durante a noite podem ser portadores de um processo infiltrativo medular ou tumoração da coluna vertebral. A presença de rigidez matinal prolongada fala a favor das espondiloartropatias soro-negativas. Dor cervical localizada pode ocorrer de forma secundária a doenças sistêmicas que aumentam a remodelação óssea, por exemplo, a doença de Paget ou a uma tumoração óssea localizada (osteoblastoma). Pacientes com dor viscerogênica (angina pectoris, síndrome do desfiladeiro torácico, doenças esofagianas) apresentam sintomas que afetam outras estruturas, além da coluna cervical, e apresentam recorrência de maneira regular.

Pacientes com cervicalgia aguda, com menos de 15 anos ou mais de 60 anos, devem ser avaliados de maneira mais criteriosa, sendo na maioria das vezes necessária a realização de exames de imagem e determinações laboratoriais (hematológico completo, provas de fase aguda, etc.), pertinentes à forma de apresentação de cada caso:
  1. Febre/calafrios
  2. Cefaléia intensa ou dores espasmódicas em salvas
  3. Distúrbios mentais
  4. Edema visível
  5. Aumento ganglionar
  6. Sangramento: ouvidos, nariz ou bucal
  7. Distúrbios visuais, olfativos ou do paladar
  8. Parestesias ou fraqueza muscular
  9. Síndrome de Horner
  10. Dor axilar
  11. Isquemia de membros superiores
  12. Ausência de pulsos nos membros superiores
  13. Claudicação do braço
  14. Atrofia em membro superior

A classificação quanto ao tipo de dor cervical facilita a determinação da entidade patológica:

Categoria: Somática superficial (pele e tecido subcutâneo)
Nervos Sensoriais: Fibras sutâneas A
Entidade patológica: Celulite, Herpes zoster
Qualidade: Queimação, Bem definida

Categoria: Somática profunda (espondilogênica)
Nervos Sensoriais: Sinuvertebral, Ramos posteriores primários
Entidade patológica:
Distensão muscular, Artrite, > pressão venosa, Hérnia discal
Qualidade:
Bem definida (agudo), Mal definida (crônico), Incomodativa, Segmentar

Categoria: Radicular (nervos espinhais)
Nervos Sensoriais: -
Entidade patológica: Estenose foraminal, Herpes zoster
Qualidade: Irradiada, Queimação

Categoria: Neurogênica
Nervos sensoriais: Nervos mistos (sensorial e motor)
Entidade patológica: Plexopatia braquial, IAM
Qualidade: Profunda, intensa

Catogoria: Viscerogênica referida (cardíaca, carótidas), esôfago
Nervos sensoriais: Sensorial autonômico, fibras C
Entidade patológica: Carotidínia, Espasmo, esofageano, Depressão
Qualidade: Incomodativa, Cólica, Variável

Categoria: Psicogênica
Nervos sensoriais: -
Entidade patológica: Reações conversivas
Qualidade: -
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CAUSAS DE CERVICALGIA
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Cervicalgias mecânicas
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As desordens mecânicas são as causas mais comuns de cervicalgias. A dor cervical mecânica pode ser definida como dor secundária à utilização excessiva de uma estrutura anatômica normal (em geral, a musculatura paravertebral) ou como dor secundária a dano ou deformidade em uma estrutura anatômica (hérnia discal).

São caracteristicamente exacerbadas por certas atividades e aliviadas por outras. Os fatores de melhora e de piora são úteis na localização do sítio acometido, como, cpor exemplo, a flexão cervical, levando a uma piora dos sintomas relacionados à doença discal e promovendo um alívio nas síndromes dolorosas interfacetárias. Na maioria das vezes têm curso autolimitado, com a grande totalidade dos pacientes apresentando melhora completa.
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Distensão cervical
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Pode ser definida como uma dor cervical não irradiada, associada a sobrecargas mecânicas ou posturas anormais prolongadas da coluna. Caracteriza-se por dor em região cervical posterior e em área do trapézio, com restrições à mobilização ativa e passava, além de áreas dolorosas à palpação. O número exato de pacientes com distensão cervical é de difícil determinação, sendo uma condição extremamente comum e apresentando-se com um espectro doloroso variável. As condições ocupacionais devem ser enfatizadas no desencadeamento desta síndrome.

Sua etiologia ainda não está totalmente definida, porém pode sestar relacionada com acometimento músculo-ligamentar secundário a um evento traumático específico ou a uma sobrecarga mecânica repetitiva.

O torcicolo está associado a uma contratura severa da musculatura do pescoço. A cabeça assume uma atitude de flexão lateral, com o queixo estando rodado para o lado oposto da dor. O torcicolo pode ser congênito ou adquirido. O congênito está associado a anormalidades anatômicas e neurológicas, incluindo a síndrome de Klippel-Feil, subluxação atlanto-axial, ausência congênita de músculos cervicais, malformação de Arnold_Chiari e siringomielia. A forma adquirida pode ocorrer na vigência de traumas, dano muscular, fratura ou subluxação atlanto-axial; nos quadros infecciosos, como, por exemplo, das vias aéreas superiores, adenites cervicais, osteomielite e fasciítes; pós-infecciosos (difteria, gripe), anormalidades vasculares com compressão, doenças neurológicas e síndromes radiculares (hérnias discais).
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Quadro resumo - DISTENSÃO CERVICAL
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Dor cervical não-irradiada, associada a estresse mecânico ou posturas inadequadas:
  • Origem: ligamentos, fáscias ou músculos regionais
  • Localização: pescoço, interescapular, região proximal dos ombros
  • A dor é exacerbada com movimentação do pescoço, geralmente acompanhada de cefaléia
  • Ao exame físico: dor local, espasmos e bloqueio de movimentos
Hérnias discais
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Um disco herniado pode ser definido como uma protrusão do núcleo pulposo através de soluções de continuidade das fibras do ânulo fibroso. A maioria das hérnias discais ocorrem em situação póstero-lateral, com maior incidência na quarta década de vida, quando o núcleo pulposo ainda é gelatinoso. As áreas mais frequentes de herniação são C6-C7 e C5-C6. As hérnias C7-T1 e C3-C4 são raras.
Ao contrário das hérnias lombares, o disco herniado cervical pode causar mielopatia, devido ao menor diâmetro do canal medular nesta localização. Nem toda hérnia discal é sintomática; a presença de sintomas depende da capacidade de reserva do canal medular, da presença e do grau da inflamação, do tamanho da hérnia, bem como da presença de doenças concomitantes, como, por exemplo, formações osteofitárias:
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Quadro resumo - SINAIS E SINTOMAS DAS RADICULOPATIAS CERVICAIS
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Disco: C2-C3 Raiz: C3 Sinais e Sintomas:
Dor:região cervical posterior, mastóide.
Alt. sensoriais: região cervical posterior, mastóide
Déficit motor: nenhum detectável pela ENMG
Alt. reflexos: nenhum
Disco: C3-C4 Raiz: C4 Sinais e Sintomas:
Dor: região cervical posterior, elevador escápula
Alt. sensoriais: cervical posterior, elevador escápula
Déficit motor: nenhum detectável pela ENMG
Alt. reflexos: nenhum
Disco: C4-C5 Raiz: C5 Sinais e Sintomas:
Dor: pescoço, ombro, face anterior do braço
Alt. sensoriais: área do deltóide
Déficit motor: deltóide, bíceps
Alt. reflexos: bicipital
Disco: C5-C6 Raiz: C6 Sinais e Sintomas:
Dor: pescoço, ombro, escápula (medial), braço (lateral), antebraço
Alt. sensoriais: polegar e indicador
Déficit motor: bíceps
Alt. reflexos: bicipital
Disco: C6-C7 Raiz: C7 Sinais e Sintomas:
Dor: pescoço, ombro, escápula (medial), braço (lateral), face dorsal anterior
Alt. sensoriais: indicador, III e IV dedos
Déficit motor: tríceps
Alt. reflexos: tricipital
Disco: C7-T1 Raiz: C8 Sinais e Sintomas:
Dor: pescoço, escápula (meidla), braço (medial), antebraço
Alt. sensoriais: IV e V dedos
Déficit motor: musculatura intrínseca da mão
Alt. reflexos: nenhum
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As hérnias discais cervicais são divididas em duas categorias, de acordo com a consistência do disco vertebral. Indivíduos abaixo dos 45 anos têm hérnias de disco "moles", associadas com extrusão do núcleo pulposo, resultando em compressão radicular ou medular. Pacientes mais idosos apresentam hérnias "duras", produzidas por calcificações discais e por osteófitos. As primeiras se resolvem mais frequentemente, sendo que as últimas podem estar associadas com compressão medular mais prolongada.
Clinicamente, a principal queixa do paciente é de dor no braço, não no pescoço. A dor, geralmente, é descrita como se iniciando no pescoço e posteriormente irradiando-se para o ombro, braço e antebraço, em caráter segmentar até a mão:
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Quadro resumo - HÉRNIA DISCAL AGUDA
  • A maioria das hérnias ocorrem na posição póstero-lateral
  • Faixa etária de maior incidência: quarda década
  • Locais mais frequentes: C6-C7 / C5-C6
  • Pode cursar com mielopatia associada
  • Nem toda herniação discal é sintomática
  • A presença de sintomas depende da capacidade de reserva do canal medular, processo inflamatório, tamanho da herniação e doença cervical concomitante.
O início dos sintomas geralmenete é gradual. Com a evolução do quadro, a magnitude da dor no braço ultrapassa a do pescoço e ombro, podendo ser variável na intensidade, às vezes severa o bastante para despertar o paciente durante a noite. Sintoms associados de dor lombar, dor ou fraqueza nas pernas, distúrbiosw da marcha e incontinência vesical ou anal sugerem compressão medular importante.
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Síndrome do chicote (Whiplash)
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São ocasionadas por impactos indiretos, geralm ente por colisões automobilísticas trazeiras em baixas velocidades. Ocorre um mecanismo de energia de aceleração-desaceleração com transferência de força para a região cervical. Também pode ser ocasionada por colisões laterais, mergulhos ou outros acidentes. O impacto pode resultar em lesões ósseas ou de partes moles, que, por sua vez, podem levar a uma variedade de manifestações clínicas. Em cerca de 50% dos pacientes que apresentam queixa de dor cervical crônica após tais eventos, a dor tem origem nas articulações interfacetárias. Os sintomas persistem por mais de 6 semanas em cerca de 50% dos pacientes e por mais de seis meses em 30%. Casos com dor cervical importante, localizada e com evolução mais protraída ou na presença de sintomas radiculares, devem ser estudados com radiografias em extensão e flexão e com ressonância magnética, visando à detecção de alterações passíveis de correção cirúrgica.
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Quadro resumo - Síndrome do Chicote
  • Impacto cervical com hiperextensão forçada
  • Geralmente a dor é autolimitada, respondendo ao tratamento conservador
  • Cerca de 15% dos pacientes evoluem com dor cervical crônica - envolvimento zigoapofisário ou discal
CAUSAS REUMÁTICAS
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Osteoartrose da coluna cervical
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A artrose cervical é um processo crônico, caracterizado pelo desenvolvimento osteofitário e outros sinais degenerativos, como consequência de doença discal também relacionada com a idade. Pode produzir uma grande variedade de sintomas; no entanto, alguns pacientes com alterações osteoartrósicas severas na coluna cervical podem cursar completamente assintomáticos.
A artrose cervical envolve predominantemente os segmentos de C4 até T1. Inicialmente, ocorre uma desidratação do núcleo pulposo, com consequente redução de seu volume, provocando alterações estruturais no ânulo fibroso, o qual se distende lateralmente, sendo submetido a uma sobrecarga mecânica pelo peso da cabeça. Os movimentos se tornam irregulares, com a unidade funcional vertebral, tornando-se susceptível a danos adicionais nos ligamentos de sustentação e nas articulaç~çoes interapofisárias posteriroes. Como ocorre uma diminuição da distância entre os corpos vertebrais, secundárias aos fenômenos discais degenerativos citados, aumenta o estresse mecênico nas facetas e articulações uncovertebrais, levando a ruptura, desorganização cartilaginosa e formação osteofitária. Na dependência da magnitude dessas alterações, a artrose pode apresentar-se de maneira isolada, ou com radiculopatia, mielopatia ou radiculomielopatia associada, secundária aos fenômenos compressivos ocasionados pelas múltiplas estruturas acometidas.
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Quadro Resumo - OSTEOARTROSE CERVICAL
  • Patologia crônica, definida pelo desenvolvimento osteofitário e outros sinais degenerativos, como consequência de doença discal também relacionada à idade.
  • Apresentação: artrose isolada, com radiculopatia, mielopatia ou mielorradiculopatia associada
  • Acomete pacientes acima dos 40 anos. Achado universal após 70 anos de idade.
  • Pode ocorrer cefaléia suboccipital concomitante; dor referida é comum
  • Exame físico: dor à mobilização cervical. Exame neurológico geralmente normal.
Acomete pacientes acima dos 40 anos, sendo um achado quase universal em estudos radiológicos em pessoas acima dos 70 anos, porém nem sempre sintomática. Os casos sintomáticos apresentam dor cervical episódica associada a restrições dos movimentos do pescoço ao exame físico. A dor é referida nas regiões posterior e lateral do pescoço, com eventuais irradiações para a área escapular, ombro homolateral e membro superior.
A irradiação da dor na artrose cervical pode ser do tipo somática profunda ou dermatomérica. O acometimento nos segmentos C6 e C7, e menos frequentemente C5, apresenta-se como uma dor profunda e incômoda no antebraço, lateral da mão, região lateral do ombro e do braço, respectivamente. A dor radicular ocorre quando osteófitos ou discos intervertebrais prolapsados estreitam o foram de conjugação. A comressão das raízes cervicais resulta em dor, adormecimento, parestesias, fraqueza muscular e alterações de reflexos. As raízes mais acometidas são C6 e C7.
Ao exame físico existe dor e restrição aos movimentos de lateralização e extensão. A compressão prolongada da cabeça em flexão lateral ou em extensão pode produzir ou aumentar os sintomas radiculares (manobra de Spurling) de maneira idêntica às hérnias discais cervicais.
A complicação mais séria da artrose cervical é a mielopatia. Menos que 5% dos pacientes com artrose desenvolvem tal condição. Ocorre quando existe formação de osteófitos posteriroes e outras alterações osteodegenerativas no canal vertebral, condicionando uma estenose de canal, com compressão gradual e progressiva da medula e de wseu cuprimento vascular. São descritas duas formas de estenose de canal vertebral: a estenose estática, condicionada por um estreitamento de canal em localização anatômica defnida, e a estenose dinâmica, devido à instabilidade segmentar, causando compressão de diferentes porções da medula espinhal com a flexão ou extensão da coluna cervical. O quadro clínico é caracterizado por cefaléia, distúrbioss progressivos da marcha e fraqueza de membros superiores e inferiores.
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Artrite reumatóide
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A coluna cervical é a região mais acometida do esqueleto axial na artrite reumatóide, principalmente no segmento C1-C2, condicionando a subluxação atlanto-axial. As alterações inflamatórias crônicas ocorrem nas articulações atlanto-occipital, atlanto-axial, zigo-apofisárias e uncovertebrais, em conjunção com discos intervertebrais, ligamentos e bursas. Na articulação atlanto-axial, o processo inflamatório na membrana sinovial e nos ligamentos promove enfraquecimento e frouxidão do ligamento transverso, condicionando um aumento da distância entre o arco anterior do tlas e o processo odontóide maior que 3 mm, observadas em radiografias cervicais obtidas em perfil, com flexão ou extensão da cabeça.
Alguns fatores relaconados à própria evolução da artrite reumatóide podem condicionar um maior risco de desenvolvimento de doença cervical, tais como o uso prolongado de corticosteróides, doença com altos títulos de fator reumatóide, destruição articular periférica, acometimento de nervos cervicais, presença de nódulos reumatóides e longo tempo de evolução da doença.
A frequência de queixas cervicais é elevada em pacientes reumatóides, podendo chegar a 80% durante a evolução da doença. A dor na região posterior do pesco9ço é a queixa mais comum, seguindo-se rigidez e limitação de movimentos, principalmente da flexo-extensão. O envolvimento cervical na artrite reumatóide pode levar a uma instabilidade significativa, com potencial de compressão sobre estruturas medulares e radiculares. Torna-se importante para o médico assistente obter radiografias da coluna cervical antes de procedimentos cirúrgicos que necessitem intubação orotraqueal.
Os principais tipos de subluxação são os seguintes: Subluxação atlanto-axial, Subluxação atlanto-occipital, Subluxação subaxial.
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Subluxação atlanto-axial
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Anterior: ocorre em 25% dos pacientes, sendo a mais frequente das subluxações. Ocorre pelo comprometimento do ligamento transverso, principal elemento de sustentação do processo odontóide. O diagnóstico é feito pelos raios-X obtidos em perfil e em flexão máxima, em que a distância atlanto-axial se mostra maior que 3 mm.
Vertical: ocorre em 5% dos pacientes com artrite reumatóide, sendo que metade destes apresentam sintomatologia neurológica. Frequentemente associada a subluxação atlanto-axial anterior, ocorre pela destruição das articulações interfacetárias, com migração e impactação vertical do odontóide, só não apresentanto maior gravidade devido à frequente erosão com diminuição do tamanho do processo odontóide. Os sintomas associados com essas formas de subluxação incluem cefaléias suboccipitais de moderada ou forte intensidade, episódios de perda de consciência ou síncope, incontinência esfincteriana, disfagia, nistagmo e sintomas relacionados a insuficiência vértebro-basilar.
Lateral: ocorre em cerca de 20% das subluxações, secundárias ao comprometimento das articulações interfacetárias. Pode estar associada a mielopatias. O diagnóstico desta forma de subluxação é obtido através dos raios-X transorais (boca aberta), em que as distâncias entre os corpos de C1 e C2 é maior em 2 mm lateralmente.
Posterior: ocorre em 6% dos pacientes. Existe uma anteriorização do processo odontóide sobre o arco anterior do atlas, geralmente por erosões, microfraturas osteoporótidas do odontóide, ou, menos frequentemente, por má formação do atlas.
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Subluxação atlanto-occipital
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É a forma mais rara e de maior gravidade das subluxações cervicais. Ocorre pela destruição das articulações interfacetárias entre o atlas e o occipício, também geralmente em associação com as formas anterior e vertical. Acomete pacientes com doença estabelecida de longa evolução.
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Subluxação subaxial
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Ocorre em cerca de 9% dos pacientes com artrite reumatóide, por acometimento generalizado das estruturas de sustentação da coluna cervical, condicionando o aspecto de "coluna em degrau".
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Síndromes espondilíticas
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Neste grupo de patologias reumáticas estão incluídas a espondilite anquilosante, a síndrome de Reiter, a artrite psoriásica e as artropatias enteropáticas. O envolvimento cervical nessas condições é menos frequente que o lombar, com as estatísticas mostrando incidência de 1 a 53,9% dos casos, acometendo igualmente ambos os sexos.
As queixas cervicais, quando presentes, mostram um iníco mais tardio que as queixas lombares, geralmente num período de cinco a oito anos após o início dos sintomas.
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Quadro Resumo:
  • O envolvimento cervical é menos frequente que o lombar;
  • Estatísticas: 0 a 53,9% - ambos os sexos;
  • Início mais tardio - 5 a 8 anos após o acomentimento lombar;
  • Presença de dor cervical alta, com irradiação para occipício e mastóides;
  • Rigidez progressiva;
  • Pacientes com doença articular periférica apresentam maior risco de subluxação atlanto-axial;
  • Coluna mais susceptível a fraturas, mesmo com traumas mínimos (C6-C7).
Clinicamente, a dor cervical apresenta caráter inflamatório, caracte´rizando-se por presença de rigidez progresswiva de movimentos, chegando em algumas ocasiões à limitação completa destes em todos os planos. A dor cervical tem localização alta, apresentando irradiação para a região do occipício e dos mastóides. Como no acometimento cervical da artrite reumatóide, os pacientes com doença articular periférica mais agressiva apresentam maior risco de desenvolverem subluxação atlanto-axial.
A rigidez progressiva, a formação de sindesmófitos e a calcificação ligamentar difusa, que ocorre principalmente na espondilite anquilosante, tornam a coluna cervical mais susceptível a fraturas, mesmo após traumatismos mínimos, sendo que o local de maior ocorrência se situa no segmento C6-C7.
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Hiperostose esquelética idiopática difusa (DISH)
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A hiperostose esquelética idiopática difusa, também denominada doença de Forestier, é uma condição não inflamatória, que ocorre principalmente em pacientes do sexo masculino, acima dos 50 anos de idade, com estatísticas mostrando um acometimento de até 12% da população acima dos 75 anos.
É caracterizada por neoformação óssea, calcificação do ligamento longitudinal anterior de no mínimo 4 corpos vertebrais contíguos, além da presença de entesopatias não erosivas. A doença não está associada com sacroileíte, anquilosante interapofisária ou a HLA-B27. O acometimento cervical é observado em cerca de 50% dos pacientes, sendo menos frequente que o envolvimento dorsolombar. Devido à ossificação exuberante das estruturas espinhais, pode ocorrer disfagia pela formação osteofit´ria anterior, com compressão da larige e terço proximal do esôfago, sendo mais frequente no segmento C5 ed C6. Torna-se importante uma avaliação radiológica da coluna cervical desses pacientes antes de procedimentos de endoscopia ou intubação orotraqueal, visando a evitar riscos de perfuração ou laceração esofágica.
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Quadro Resumo - OUTRAS CONDIÇÕES REUMÁTICAS
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- Fibromialgia
- Síndrome miofascial
- Artrite reumatóide juvenil
- Outras espondiloartropatias seronegativas
- Polimialgia reumática - Arterite de células gigates
- Ossificação do ligamento longitudinal posterior
- Gota
- DDPC e outras artropatias microcristalinas
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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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