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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Aspectos Psicológicos da Gravidez

Em que pesem todos os adjetivos usados para definir a gravidez, ela continua sendo uma experiência sem dúvida impregnada de sentido todo especial para a mulher, mesmo a mais experiente. Um processo que atinge globalmente o organismo não poderia deixar de envolver também os mecanismos psíquicos, já eu a gravidez, antes de tudo, representa uma enorme solicitação à mulher.
Sendo uma solicitação importante - por sua intensidade, ou por sua duração - freqüentemente surgem respostas que se afastam da normalidade. O conceito de normalidade, nesse caso, deve ser entendido sob dois ângulos: por se encontrar fora da média das respostas numa população significativa e por se caracterizar por um ato novo, ligado à patologia. Este último, portanto, se baseia em critério de valor, ao contrário do primeiro, que é critério estatístico.
Num contexto geral, as manifestações psicossomáticas podem ser encaradas como uma resposta global do indivíduo à situação solicitante. Embora não apresentem uma patologia mais declarada, os distúrbios do aparelho digestivo constituem uma disfunção moderada de diversos setores. Muitas vezes surgem queixas de distúrbios do apetite, dificuldades de digestão, repulsa a certos alimentos - em especial os “pesados” - desorganização do hábito intestinal.
Geralmente o diagnóstico desses sintomas não se restringe ao âmbito físico. Ainda que as alterações de disposição e localização das vísceras abdominais, e as alterações hormonais e hidroeletrolíticas possam ser invocadas para se explicar as situações descritas, nunca se deve esquecer que o aparelho digestivo constitui uma via através do qual a resposta emocional é bastante freqüente.

AS “RESPOSTAS DIGESTIVAS” - O aparelho digestivo é uma via de manifestação adequada aos pequenos distúrbios psíquicos. Assim, manifestações de ansiedade freqüentemente se exteriorizam por meio de alterações digestivas. A chamada “resposta digestiva” tende a se desenvolver em mulheres que antes da gravidez já apresentavam, em situações estressantes (de tensão), esse tipo de resposta. A gravidez será apenas uma nova ocasião para uma manifestação habitual da pessoa.
Os aspectos emocionais desempenham papel básico nos vômitos da gravidez, que às vezes adquirem caráter incontrolável (“vômitos incoercíveis”). Devem ser combatidos energicamente, em especial quando já se atingiu o terceiro mês da gravidez ou quando, pela intensidade, chegam a alterar o estado geral da paciente, perturbando seu equilíbrio hidroeletrolítico ou até ocasionando a morte do feto.
Por vezes, mudanças de ambiente são o bastante para que se obtenham resultados surpreendentes, demonstrando a profunda relação entre os fatores psicológicos e os vômitos.

ASMA E GRAVIDEZ - Ainda dentro das manifestações psicossomáticas, o quadro asmático costuma apresentar modificações importantes no transcurso da gravidez. As solicitações vitais representadas pelo aparecimento da gravidez, e a vivência emocional que o processo acarreta, se relacionam com a asma e desencadeiam respostas variáveis dentro de um grande espectro. Embora sejam raros, os quadros asmáticos de difícil controle podem apresentar um período de normalização importante durante a gravidez e melhorias que perduram mesmo depois de terminado esse período.
Casos de asma benigna podem tornar-se rebeldes durante a gravidez, tornando esse período tormentoso e cheio de acidentes, que se constituem em crises asmáticas. Também nesse caso o recrudescimento da asma é uma das formas de resposta à situação solicitante da gravidez, uma vez que após o período geralmente as crises cessam, voltando ao estado antigo, caso retornem as condições emocionais anteriores.
Durante a gravidez podem surgir manifestações neuropsiquiátricas variadas, resultantes de agressões ao território neurológico. Como exemplo, há as polineurites, causadas por carência vitamínica. Surgem a partir do segundo mês e dos sintomas são neurológicos (paralisia, flacidez) ou psíquicos.
As manifestações psíquicas têm caráter confusional, isto é, a gestante fica parcial ou completamente desorientada. A consciência torna-se perturbada, surge às vezes um estado de sonolência permanente. A mulher grávida passa a responder aos estímulos de maneira incoerente ou desadaptada à realidade. Costume-se obter bons resultados com um tratamento de reposição maciça de vitaminas.

CORÉIA GRAVÍDICA - Entre as manifestações neuropsiquiátricas que atingem a gravidez, deve também ser destacada a Coréia gravídica, que comumente nada mais é que uma reagudização de um quadro anterior de Coréia. A anomalia, em termos psiquiátricos, se caracteriza por confusão mental, de grau variável, e por vezes pode se complicar, com manifestações de agitação psicomotora que podem perturbar a evolução da gravidez.
A epilepsia pode instalar-se durante a gravidez ou então já existir anteriormente. Em ambos os casos é sempre importante um estudo detalhado das manifestações para uma orientação adequada. Os casos de epilepsia anteriores à gravidez podem sofrer importantes alterações durante esse período, devendo, pois, ser acompanhados de perto pelo médico. Isso se deve ao fato de a medicação precisar ser constantemente atualizada e corrigida, conforme a evolução da doença.
É importante ressaltar que a medicação antiepiléptica não atinge o feto. Não há risco de que ele fique alterado nesta situação. Podem surgir, acompanhando a doença, as chamadas psicoses epilépticas, que oferecem dificuldades múltiplas, uma vez que a mulher grávida não pode ser submetida a determinados tratamentos psiquiátricos mais intensos, como o da aplicação de insulina. Nas manifestações convulsivas, é importante verificar se não se trata de uma epilepsia sintomática ou de alguma manifestação de origem cerebral estritamente relacionada à gravidez.
Cabe distinguir ainda das manifestações epilépticas a eclampsia. Trata-se de quadro bastante importante dentro da patologia gravídica e pode apresentar manifestações confusionais com alucinações visuais polimorfas muito insistentes que conduzem a sérios estados de ansiedade. Outro aspecto da eclampsia (crise convulsiva que geralmente ocorre no fim da gravidez) é a agitação psicomotora, colocando em risco não só a vida do feto, mas também da mãe.

PSICOSES ENDÓGENAS - Quanto à psicoses endógenas, não há manifestações mais freqüentes no cômputo da população geral. Parece não haver interferência da situação gravídica sobre o desencadeamento de esquizofrenia ou de psicose maníaco-depressiva. Deve-se apenas assinalar uma maior freqüência de depressões que se filiam ao círculo da PMD comparada à incidência de manias, no último trimestre da gravidez, não havendo, no entanto, aumento do número total. Em casos mais agudos há necessidade do emprego da eletroconvulsoterapia (eletrochoque), e a experiência de muitos anos demonstra ser este um tratamento que não apresenta complicações, nem para a mãe, nem para o feto.
Ressalte-se, por fim, que são muito raros os casos de indicação médica de aborto por razões psíquicas. Isto porque, de maneira geral, as manifestações psíquicas não requerem a interrupção da gravidez para o seu tratamento. De outra parte, as alterações psíquicas não são transmissíveis aos filhos; justamente porque a gravidez, ao que tudo indica, não sobrecarrega o patrimônio genético dos pais para a criança.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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