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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Adolescência

De todas as fases de desenvolvimento, desde o nascimento à idade adulta, talvez seja a adolescência a mais difícil. Nessa época verificam-se importantes modificações físicas e, principalmente, psíquicas. O adolescente já aprendeu, na fase anterior, a raciocinar, a julgar e tirar conclusões próprias sobre o mundo que o cerca. Isso lhe confere uma forte tendência a se tornar independente, mas essa tendência é bloqueada por sentimentos opostos de respeito, amor à família e também o temor de lutar sem o apoio e proteção recebidos no lar.
O primeiro ponto difícil de se situar claramente, no estudo da adolescência, é a época exata de seu início.
De maneira geral, reconhece-se como início da adolescência o aparecimento da puberdade, por volta dos doze aos catorze anos, e seu término ocorre quando o jovem se transforma em adulto.
Praticamente, todos os autores se valem de modificações de caráter físico para estabelecer os limites entre a infância e a adolescência. A puberdade mostra uma série de transformações no menino e na menina. A eliminação de espermatozóides pelo menino e a primeira menstruação da menina - a menarca - serviram durante muito tempo para estabelecer o início da puberdade. Existem, porém, outras modificações orgânicas, em ambos os sexos, que acontecem antes da ejaculação e da menarca, e são consideradas peculiares à puberdade. Conseqüentemente, conclui-se que a puberdade já estava instalada quando a eliminação espermática ou a ovulação apareceram.

COMEÇANDO PELA IMITAÇÃO - Durante o período escolar primário, a criança passou por uma fase de estabilidade emocional. Adquiriu conhecimentos sobre o mundo e desenvolveu seu arbítrio, que a torna capaz de julgar e concluir. Assimilou códigos de ética e aprendeu os princípios de moral e de justiça. Cresceu fisicamente e ganhou músculos fortes. Durante algum tempo interessou-se pela própria pessoa e já é capaz de fazer um auto-reconhecimento ou uma autocrítica.
No início da adolescência surge uma fase de forte desequilíbrio emocional e físico. O eixo neuro-humoral - sistema nervoso e glândulas endócrinas - passa a estimular todo o organismo, provocando alterações importantes. Essas alterações físicas são acompanhadas de mudanças psíquicas que se vão manifestar até que ocorra a maturidade completa.
No menino, a primeira coisa que se nota é um rápido crescimento, acompanhado da mudança na tonalidade de voz e do aparecimento dos pelos pubianos, axilares e da barba. Os primeiros pelos dão muita alegria ao menino, que vive diante do espelho alisando um hipotético bigode. Procura, a partir daí, copiar as atitudes dos adultos e se interessa pelas atividades que lhe parecem próprias dos adultos. Rebela-se contra o horário para chegar em casa, pretende sair sozinho, insiste com os pais para participar do time de futebol da vizinhança. O problema emocional interfere nas deficiências relativas, aumentando seus efeitos. O adolescente está, nesse momento, enfrentando seu relacionamento com o mundo, em termos de pessoa amadurecida. Como é próprio da idade não aceitar acomodações e questionar os padrões estabelecidos pela sociedade, não procura corrigir as suas dificuldades. Ao contrário, permite que elas se manifestem integralmente. Tentar vencer as deficiências motoras, de certa forma, lhe causaria a sensação de estar apenas procurando ser uma “cópia” dos demais. Muitas vezes, esse processo é agravado por comentários que o acompanharam durante a infância: “igualzinho ao pai”, “seu avô também fazia assim”, ou “olha só como ele é parecido com titio”.
As modificações físicas que ocorrem nas meninas são sempre mais precoces do que nos meninos. Normalmente, as meninas chegam à puberdade um ano antes dos meninos.
A menina também passa por um período de crescimento harmônico que é seguido pelas modificações da conformação física, como aparecimento das mamas, aumento dos quadris, aparecimento de pelos e outras. Psiquicamente, o comportamento da menina tanto pode ser o de valorizar demais essas modificações quanto de repeli-las, pelo uso de roupas que escondam as novas formas, ou atitudes corporais que as disfarcem. Algumas vezes, as atitudes dos adultos pioram tais situações, com comentários tais como “já está ficando uma mocinha”. A menina tímida e introvertida pode sofrer um verdadeiro drama por causa disso.

A REVOLTA DOS JOVENS - Seguindo-se à última fase do período de adolescência, temos a fase adulta. Considera-se adulto o homem que completou o desenvolvimento de vários setores, está com seus sistemas e aparelhos completamente formados e em plena capacidade de ação. O setor da intelectualidade passou por um amadurecimento razoavelmente uniforme. É verdade que o raciocínio pode continuar se aprimorando com o correr do tempo, aproveitando-se da experiência que vai acumulando, mas o seu substrato, basicamente, se desenvolve com rapidez durante a adolescência.
O aspecto emocional merece um estudo cuidadoso, porque o homem pode ter passado por situações adversas em seu desenvolvimento psicossexual capazes de prejudicar sua evolução. Nesses casos, a experiência de vida adquirida posteriormente não tem muita influência corretiva. O amadurecimento físico não consegue eliminar os efeitos de falhas ocorridas no desenvolvimento psicossexual.
A adolescência se caracteriza por um estado de transição no qual o indivíduo é insatisfeito. A maior dificuldade que encontra, para se considerar adulto, é no relacionamento pessoa-sociedade. Particularmente a afirmação profissional sofre esperas, por vezes excessivamente longas. Profissões que dependem de formação universitária exigem, cada vez mais, complicadas especializações, provocando um retardamento ainda maior no início da atividade efetiva dos jovens. Com muita freqüência, os jovens trabalham e estudam. Porém, esse trabalho concomitante aos estudos é tido como temporário e não conduz à realização profissional. A conseqüência desses retardamentos, no sentido de independência econômica, é que o jovem se sente injustiçado.
A sexualidade está completamente desenvolvida, nos casos normais. Esse fato cria novas dificuldades aos jovens em fins da adolescência porque seus impulsos naturais são reprimidos moral e socialmente. Com isso, se cria uma contradição no espírito dos jovens. A realização do ato sexual passa a ser encarada como mais uma das maneiras de enfrentar os costumes, que eles chamam, pejorativamente, de “convenções”. Biologicamente, apto ao casamento, o jovem, no entanto, quase nunca tem condições materiais suficientes para contrai-lo. Por outro lado, os costumes institucionalizados na sociedade ocidental não admitem outra forma de união que não seja o matrimônio, medida baseada no princípio da manutenção da família. Isso leva os rapazes a considerar o ato sexual como demonstração de liberdade e conquista, e algumas moças a admitir, pregar e até praticar o amor livre.
Outro aspecto importante é a impossibilidade dos jovens de assumir o poder, no mais amplo sentido, para as reformas que acham inadiáveis. Sua capacidade de realização também é bloqueada pelos costumes sociais e daí nascem as disputas com as velhas classes dominantes. A impossibilidade de entendimentos amplos entre os jovens e os mais velhos e a existência da organização adulta e da organização jovem são causas geradoras do choque de gerações, cada vez mais claro e intenso. Mais do que nunca está nas mãos da juventude, com seu potencial de luta e criação, a mudança das estruturas arcaicas em que ela se vê mergulhada. Resta verificar, no futuro, se ela venceu o desafio a que se propôs.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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