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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Psicoses

Até agora, as classificações aqui mencionadas poderão dar a impressão de que os distúrbios mentais são nitidamente distintos uns dos outros. Aparentemente, o psiquiatra não teria muita dificuldade de diagnosticar cada caso, se assim fosse. E o tratamento seria amplamente simplificado.
Na prática, isso às vezes poderá acontecer, embora nem sempre. No procedimento normal do psiquiatra que se aproxima de um indivíduo para estabelecer diagnóstico, o médico procura inicialmente distinguir se o desvio de normalidade é quantitativo ou qualitativo.
Um distúrbio em que predomine o aspecto quantitativo (para menos ou para mais) compreende inibições e atrasos no desenvolvimento, como nos casos dos retardados mentais. Também se considera quantitativo, qualquer dos desvios congênitos que caracterizam as personalidades psicopáticas.
Nesses casos, o desvio é de quantidade porque pode ser enunciado em termos comparativos matemáticos: o paciente apresenta menos inteligência por exemplo: numa personalidade psicopática do tipo humor lábil também o desvio é de quantidade: o paciente reage em grau exagerado diante de uma situação e, portanto, a explosão emocional é mais acentuada do que a normal.
No segundo grupo, que apresenta alterações de qualidade, enquadram-se as doenças mentais em seu sentido estrito, ou seja, as psicoses. O esquizofrênico “ouve” vozes inexistentes. Aí não se trata de nenhuma disfunção quantitativa, mas de qualidade, pois o paciente toma por real alguma coisa que é puramente imaginária (alucinatória).
Quando as psicoses se manifestam após longo tempo de evolução, com a anormalidade estabelecida, o psiquiatra não encontra nenhuma, ou quase nenhuma dificuldade de enquadramento. Um indivíduo passa pela rua sujo, maltrapilho (por desinteresse em relação a seu aspecto pessoal, bem entendido, e não por limitações econômicas), aparentemente desligado do que se passa em torno dele, às vezes empenhado num monólogo incompreensível e gesticulado. Em tal caso, o psiquiatra não tem dúvidas ao afirmar que se trata de um psicótico, com modificações profundas em sua estrutura mental.
Além de casos assim evidentes de psicose, o psiquiatra poderá defrontar-se com casos de diagnóstico simples de neurose. Chega a seu consultório uma pessoa que estabelece contato normal com as do ambiente, fala e veste-se de modo comum, e procura atender a outras conveniências de apresentação pessoal. No decorrer da entrevista não manifesta nenhuma sensação acentuada de desconforto ou insubmissão a preceitos morais e sociais de conduta.
Depois de alguma dificuldade inicial, o indivíduo diz que resolveu procurar o psiquiatra por causa da impossibilidade de resolver por si um problema “que é mais uma bobagem do que um problema mesmo”: não consegue tomar um elevador.
“Já cansei de tentar, doutor. Sozinho, com amigos ou com qualquer outra pessoa, em elevador automático ou com ascensorista. Cada vez a sensação é um pouquinho diferente, mas no fim das contas acontece sempre a mesma coisa. Dentro do elevador, parece que meu coração vai sair pela boca. O medo é incontrolável, quase um pânico. Pra mim o elevador não sobe: gira, gira, gira até me tontear. é uma aflição de morte. Tenho vergonha de contar isso e de permitir que alguém perceba. Vão dizer que gira sou eu, não o elevador. Mas acontece, ué. Que é que eu vou fazer? Quando saio do elevador, a aflição vai passando e logo logo me sinto bem de novo.”
“Mas não posso evitar o problema nessa cidade danada. Já pensei até em mudar de emprego e ir para uma cidadezinha do interior, onde só haja casa térrea. Mas o sr. sabe que a gente não pode largar tudo assim. Tenho de viver escolhendo onde ir, desisto de visitar as pessoas que morem em prédio de apartamentos. Às vezes disfarço e subo uns andares pela escada. Cansa à beca, mas não passo pelo terror que me acomete quanto entro num elevador. Que é que eu devo fazer?”
O psiquiatra sente, tranqüilamente, que está diante de um caso de manifestação fóbica, prontamente enquadrável no quadro geral de neuroses. O que o paciente sofre, como fobia, é a manifestação ansiosa modificada.

A CONFUSÃO - Mas nem sempre as situações são tão cristalinas assim. Os limites entre personalidades psicopáticas, psicoses e neuroses são movediços e imprecisos. Nos casos em que a manifestação se caracteriza por duração mais breve, então, a dificuldade de enquadramento aumenta. Numa distinção simplista, costuma-se dizer que a neurose se caracteriza pela conservação da consciência, e que na psicose, ao contrário, o paciente perde contato com a realidade.
Na prática não é bem assim e as exceções são tão numerosas que acabam por desencadear discussão e divergência entre os próprios psiquiatras.

GRUPOS CLÁSSICOS - Na psiquiatria clássica, as psicoses são classificadas em dois grandes grupos:
1. No primeiro grupo classificam-se as psicoses provocadas por alterações cerebrais demonstráveis, no nível atual dos conhecimentos médicos. Agrupam-se aqui as psicoses determinadas por lesões do cérebro, como a da arteriosclerose cerebral e as psicoses resultantes de traumatismos cerebrais.
2. No segundo grupo estão os processos mórbidos de desintegração da personalidade, em processo psíquico. a diferença das psicoses desse grupo, em relação ao primeiro, está na ausência aparente de alterações da estrutura cerebral. Ainda que o cérebro seja invocado como participante do processo, não ocorre comprovação evidente e irrefutável dessa participação.
Há aqui dois subgrupos: o de psicoses endógenas e o de psicoses exógenas.
Endógenas são as psicoses que se originam do interior do indivíduo e, por isso, tem alguma aproximação com fatores hereditários ou constitucionais (entenda-se por constitucional o conjunto de disposições biológicas trazidas pelo indivíduo ao nascer). Nesse subgrupo figuram duas doenças mentais de maior preocupação para o psiquiatra de hospital: a esquizofrenia e a psicose maníaco-depressiva.
A esquizofrenia é manifestação de curso crônico, caracterizada fundamentalmente pela desarmonia das funções psíquicas, que perdem a reciprocidade no funcionamento e na regulação. A psicose maníaco-depressiva (PMD) é de natureza afetiva e caracteriza-se por uma evolução em que se alternam períodos de crise doentia com períodos de normalidade, variáveis em sua duração. O distúrbio psicopatológico primário reside em alterações afetivas em que, num ciclo, os períodos normais são truncados por outros de excessiva alegria, otimismo e humor exaltado. No mesmo indivíduo, em outro ciclo, o afeto se tinge de tristeza e inibição, descrença e pessimismo.
Tanto na esquizofrenia como na PMD os fatores determinantes originam-se do interior do indivíduo e quase não sofrem nenhuma influência dos acontecimentos ambientais.
Atualmente, as pesquisas relacionadas com as psicoses endógenas estão fortemente orientadas na busca de fatores orgânicos de natureza bioquímica, já que não se pode encontrar na raiz dessas doenças nenhuma alteração de ordem anátomo-patológica. O êxito de certas drogas estimula essa orientação.
O segundo subgrupo reúne as manifestações exógenas, isto é, causadas ou influenciáveis por fatores externos. Os quadros de apatia, lerdeza intelectual ou, ao contrário, de excitação e ansiedade aumentada, são quase sempre ligados a disfunções da tireóide. Embora um órgão interno, a tireóide responde a fatores de origem externa. E as perturbações trazidas enquadram-se, por isso, no subgrupo de psicoses exógenas.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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