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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Psicoses Artificiais

Há muitos séculos, para atingir a certos estados mentais diferentes do normal, o homem vem utilizando produtos tóxicos. Inicialmente com mais simplicidade, limitava-se a mastigar as folhas de alguns vegetais, ou a fazer chás.
Existem indicações seguras de que há 6 mil anos, sacerdotisas indianas tomavam infusões vegetais para alcançar o estado de êxtase, durante as cerimônias religiosas. Os chineses também tinham seu “chazinho” euforizante, há cerca de 5 mil anos. E documentos que relatam guerras milenares também falam em uma erva (possivelmente maconha) que tornava os soldados mais valentes e insensíveis à dor, sendo muito boa para “as práticas guerreiras e sanguinárias”.
Desde o princípio, esses vegetais foram usados com reservas, sob a justificativa de que eram privativos de certas castas. Isso porque verificou-se que a mesma planta que permitia aos escolhidos o contato com suas divindades, quando usada por outras pessoas provocava efeitos diametralmente contrários, ficando elas “tomadas do demônio”. A mesma explicação era utilizada em vários países e diferentes épocas, para os casos de doenças mentais: “está com o diabo no corpo”.

COPIAR A LOUCURA - Em épocas bem mais recentes, os médicos começaram a pesquisar as doenças mentais. Procuravam meios de faze-las aparecer artificialmente, da mesma forma que nas culturas de laboratório os vírus de moléstias eram isolados e cultivados na pesquisa das doenças e seu tratamento.
Muitos meios foram tentados para se reproduzir as doenças mentais. Nessa busca, foram selecionadas algumas substâncias, chamadas alucinógenas (que geram alucinações) que, em doses muito pequenas, desencadeiam com regularidade satisfatória variados distúrbios mentais.
Tais substâncias foram - e ainda são - muito discutidas. Até hoje, não se chegou à concordância total sobre a forma de agir dos alucinógenos sobre o organismo. Contudo, existe uma certa concordância quanto a outro aspecto. Os alucinógenos não são meros produtos tóxicos. Nas reações que desencadeiam há manifestações que não são comuns aos tóxicos em geral, além do que os alucinógenos diferem também na intensidade de ação. Doses infinitamente pequenas produzem efeitos muito fortes.
Se conseguissem repetir experimentalmente as doenças, através de meios artificiais, os médicos poderiam tentar controlar sua evolução, criando novas possibilidades de tratamento e cura, principalmente para a esquizofrenia, doença mental que continua sendo o grande desafio para a medicina.

ADRENALINA E LSD - A adrenalina é uma substância natural do organismo, produzida pela glândula supra-renal, que se tornou conhecida como o último recurso para socorrer pessoas vítimas de “ataques” que produzem paralisação do coração. É um dos mais poderosos estimulantes do sistema circulatório que se conhece e sob seu efeito a pressão sanguínea aumenta, o coração é fortemente estimulado e o ritmo cardíaco aumenta consideravelmente. A adrenalina, que para usos terapêuticos é produzida sinteticamente, age sobre o sistema nervoso simpáticos (autônomo) e através dele age sobre os demais sistemas orgânicos.
A constituição química da adrenalina é bastante parecida com a da mescalina, que é um alucinógeno muito antigo. Os mexicanos, antes da colonização espanhola, já a retiravam de alguns cactos da região. A “queima” da mescalina e outras substâncias semelhantes à adrenalina, no corpo, resulta na formação de compostos químicos capazes de produzir as alterações psicopatológicas.
Também o ácido lisérgico (dietilamida de ácido lisérgico) tem composição química semelhante à adrenalina e à mescalina, o que levou alguns pesquisadores a pensar na semelhança de efeitos. Mas existem muitas contestações a essa idéia.

A PONTE - Mais recentemente, voltam-se as atenções para outra substância, também natural do organismo, chamada serotonina, que é uma das que interferrem nas reações bioquímicas normais do cérebro. Tal substância, isolada pelos cientistas já em 1933, apresenta incontestável influência sobre o funcionamento do sistema nervoso. Verificou-se que injeções endovenosas de serotonina provocam alterações neurovegetativas transitórias relativamente bem caracterizadas. A ação dessa substância concentra-se, principalmente, no chamado tronco encefálico. Uma de suas importantes capacidades é a de dificultar as transmissões nervosas, pela inibição das sinapses, “sinais” que passam de uma célula nervosa a outra.
As experiências mostraram que, quando se administra alucinógenos ao paciente, ocorre uma elevação da quantidade de serotonina no sistema nervoso. Assim, seria através do mecanismo de elevação da serotonina que as substâncias alucinógenas atuam sobre o cérebro, para produzir os distúrbios psíquicos.
Várias mudanças que ocorrem no cérebro, nessas oportunidades, podem ser registradas pelo eletroencefalógrafo (aparelho que registra à tinta, numa folha de papel especial, os impulsos elétricos do cérebro). É notável a freqüência com que aparecem os ritmos rápidos e o desaparecimento dos ritmos mais lentos, na atividade elétrica cerebral.
Outra descoberta importante foi que a ação da serotonina pode ser controlada com o emprego de drogas medicamentosas usadas na clínica psiquiátrica. Pacientes sob efeito de alucinógenos foram submetidos ao exame eletroencefalográfico, que registrava todas as alterações de impulsos elétricos descritas. A seguir, uma vez aplicados os medicamentos, ocorria a normalização dos sinais. O paciente passava a apresentar reações normais.

O EGO MAIS FORTE - Quando se começou a usar alucinógenos em experiências, a primeira dúvida surgida foi se realmente as manifestações de doenças mentais poderiam ser reproduzidas com seu emprego. Se isso fosse possível, seriam criadas novas e mais amplas possibilidades terapêuticas para as doenças mentais. As manifestações provocadas pelos alucinógenos são apenas temporárias e os pacientes poderiam, posteriormente, descrever o que lhes ocorria sob a ação da droga, fornecendo dados importantes para se chegar a uma conclusão.
Hoje em dia, a maioria dos autores procura mostrar duas atividades nesses alucinógenos. A primeira delas ,que se pode chamar de “fisiológica”, produz estados de confusão ou é mais propensa a atingir setores determinados “do cérebro”. A segunda seria um fruto dependente da estrutura da personalidade do paciente. A primeira atividade, a bem dizer “mecânica”, deveria se repetir na maioria das pessoas, produzindo efeitos idênticos. A segunda variaria de conformidade com a vivência e as experiências anteriores de cada paciente. A interferência profunda da personalidade nos testes, não permite a obtenção de dados mais objetivos, mais significativos, que possam valer para a maioria das pessoas.
Mas, se os alucinógenos não conseguiram resolver o maior problema de toda a psiquiatria, ou seja, o de se reproduzir doenças mentais sob controle, propiciaram outro resultado, também muito importante. Em nível individual, tornou-se possível estabelecer com muito mais clareza os padrões de conduta, de reações de cada paciente, abrindo perspectivas terapêuticas mais amplas para as situações assim descobertas.
As drogas alucinógenas, nisso concordam os especialistas, devem ser usadas somente por pessoas habilitadas, porque a sua utilização implica numerosos riscos para os pacientes. Tanto podem provocar o aparecimento de uma dependência, transformando a pessoa num “viciado”, como criar verdadeiros estados de emergência, no plano puramente físico, que dificilmente seriam controlados por pessoas não habilitadas. E ainda existem outros riscos mais remotos porém bastante reais, como a produção de uma reação irreversível, que não reais, como a produção de uma reação irreversível, que não desapareça juntamente com os demais efeitos da droga. Além disso, os efeitos terapêuticos dos alucinógenos são desiguais de pessoa para pessoa e, por isso, pouco controláveis.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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