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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Formas Clínicas da Epilepsia

O termo epilepsia, que identificava apenas as crises epilépticas convulsivas, atualmente assume um sentido bem mais amplo e abrange uma série complexa de fenômenos súbitos ou estados de alteração mental permanentes. Estudos clínicos acurados das formas clássicas da epilepsia - com diferenciação dos fenômenos que acompanham o conjunto de sintomas e também o estudo isolado desses mesmos fenômenos - permitiram a diversificação de suas causas.
Papel importante nesse progresso foi desempenhado pela eletroencefalografia. Contudo, existem algumas restrições ao método porque as alterações eletroencefalográficas não são exatamente equivalentes às alterações clínicas. Apesar disso, a eletroencefalografia classifica-se entre os principais fatores que contribuíram para o desenvolvimento da epileptologia, ou seja, o estudo da epilepsia como um setor especializado dentro da neurologia e da psiquiatria.

CRISES POR GRUPOS - As epilepsias podem ser classificadas em três grandes grupos: as que apresentam crises centrencefálicas, as de crises focais e as caracterizadas por crises especiais. No primeiro grupo, as crises são ditas centrencefálicas, quando se admite que os distúrbios tenham origem numa região especial do tronco encefálico (sistema centrencefálico). São determinadas primeiramente por interrupções do estado de consciência.
Nesse grupo estão as crises do chamado grande mal (crises convulsivas clássicas) e as crises de pequeno mal. Este último admite três variedades: acinética, na qual há uma brusca perda da força (tônus) muscular; a de ausência, que se caracteriza por súbitas interrupções da vigília; e a mioclônica, rara e caracterizada por pequenos abalos musculares. O que caracteriza as crises de pequeno mal é sua duração muito curta e sua grande freqüência durante o dia.
O segundo grupo compreende as crises focais. São bastante variáveis e se caracterizam, basicamente, pelas manifestações ligadas à sua sede de origem. Entre elas estão as crises frontais, as crises Bravais-Jacksonianas (convulsões localizadas, sem perda de consciência), as crises temporais (manifestações mais variadas e quase sempre de cunho psiquiátrico), as crises parietais e as occipitais. Em grande porcentagem de casos, as crises occipitais se caracterizam por alterações da visão, pois é nessa região que se situam os centros visuais.

ALCOOLISMO - Finalmente, no terceiro grupo enquadram-se as crises especiais que abrangem uma série extremamente variável de manifestações. Quase todas elas são súbitas, tanto na instalação quanto na manifestação. Podem ser exemplificadas com certas enxaquecas e impulsos anormais.
A dipsomania (impulso periódico para a bebida) pode encontrar uma de suas origens nos distúrbios epilépticos. A pessoa se vê presa a um desejo irresistível de beber. Embriaga-se durante várias horas ou dias, surgindo uma série de distúrbios diante do abuso do álcool. Um desses distúrbios, por exemplo, é o estreitamento no campo da consciência.
Para a psiquiatria é importante o estudo das variações ou alterações das funções psíquicas que acompanham os distúrbios epilépticos. Várias delas podem aparecer antes da instalação de uma crise convulsiva e são denominadas prodrômicas. Podem ser quase imperceptíveis ou mesmo ausentes, como no caso do paciente que afirma não sentir que vai ter uma crise. Outros, porém, são capazes de prever as crises através de manifestações vagas e de pequena monta.
Geralmente nota-se um estado de irritabilidade, no qual o doente torna-se mais sensível às estimulações do ambiente. Suporta menos as frustrações e fica prejudicado o seu relacionamento com o meio em que o cerca. As tarefas de rotina tornam-se mais cansativas e sem colorido. Muitas vezes, esse estado de ânimo é acompanhado por uma flutuação do humor. Algumas pessoas tornam-se deprimidas, enquanto outras ficam “moles” e choram diante de qualquer emoção mais forte. Ainda há outras que oscilam entre os extremos da alegria e da tristeza, de forma anormal .
Entre os fenômenos que ocorrem durante a crise, alguns são nitidamente psiquiátricos. O primeiro deles altera a sensopercepção, registrando-se ilusões e alucinações nos vários órgãos dos sentidos. São manifestações bastante elementares: nas ilusões auditivas, por exemplo, os ruídos e sons são pouco definidos; nas alucinações olfativas predomina a presença de cheiros desagradáveis. Nessa situação, um grande número de pacientes assinala odores semelhantes ao enxofre.

A VIDA IMAGINÁRIA - Existem, contudo, manifestações bem mais complicadas. Entre elas destaca-se a sensação do “já vivido”. É quando o doente, ao ser apresentado a uma pessoa, afirma que já conhecia essa pessoa, embora, na verdade, nunca a tivesse visto.
É também o caso do paciente que visita um lugar pela primeira vez e “reconhece” todos os detalhes que, em condições normais, seriam suficientes para eliminar qualquer confusão.
Em contraposição à sensação do “já vivido” aparece a do “jamais vivido”. Situações bem conhecidas e até mesmo coisas rotineiras são encaradas pelo paciente como se acontecessem pela primeira vez. A pessoa sente estranheza diante do fato corriqueiro e somente depois de algum tempo é capaz de reconhece-lo como parte do seu mundo diário.
Certas recordações, rotuladas como memória panorâmica, são manifestações que acompanham o conjunto de sintomas da epilepsia. São pequenos fatos específicos, geralmente de cunho desagradável ou doloroso, que de tempos em tempos reaparecem à percepção da pessoa.
Depois da crise ocorrem fenômenos diferentes dos já relatados. Depois de sofrer perturbações de consciência mais ou menos complexas, o doente pode entrar em estados crepusculares, que se caracterizam pela incapacidade de recuperar completamente o estado de lucidez. O paciente fica mais ou menos desperto e com a consciência estreitada, o que algumas vezes passa despercebido aos observadores menos atentos. São estes os períodos nos quais o doente precisa de proteção, pois facilmente sofrerá um acidente se, por exemplo, for atravessar uma rua sozinho.
Um outro capítulo muito importante é o que se refere às psicoses epilépticas. Geralmente, o enfermo vive essa psicose fora das crises epilépticas. As psicoses são muito variadas e suas manifestações clínicas são semelhantes às dos tipos psicóticos não epilépticos e independem das crises convulsivas.

DELÍRIOS - Em porcentagem muito maior do que os sintomas referidos estão os casos de cunho esquizofrênico. São os dos pacientes que apresentam manifestações de caráter delirante-alucinatório, com formas variadas e intensas, geralmente acompanhadas de uma grande ansiedade. Com muita rapidez evoluem ou “saltam” de uma situação ou “tema” para outro. As alucinações não são organizadas e a ação se desenvolve sem seqüência e com conteúdo muito variável.
Outra possibilidade de variação das manifestações da psicose epiléptica é a dos estados e atitudes depressivos ou de excitação, lembrando o que ocorre com os portadores de psicose maníaco-depressiva. Nas psicoses epilépticas, as depressões são acompanhadas de uma ansiedade, que se instala com extrema rapidez. Devem também ser tratadas imediatamente, uma vez que, não raro, os estados psicóticos se acompanham de idéias de auto-eliminação. Já as crises de excitação são caracterizadas por intensa agressividade, insônia, agitação mental e ansiedade.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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