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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Toxicomanias

Já no Período Paleolítico, os caçadores tinham um “fraco” por certos vegetais. Mascando a amanita mata-moscas, que seria um desses vegetais, os brutamontes enfrentavam os monstros fantásticos em meio a delírios não menos fantásticos, o que possivelmente tornava tudo mais fácil.
Entre a caça e a fé, o tóxico foi um traço comum. Nas antigas civilizações do Egito e da Índia, os participantes de práticas religiosas consumiam o ópio, “oferenda” da papoula.
Toltecas e astecas conheciam o estímulo de diversos vegetais. No antigo México, o teonanacatl, espécie de cogumelo com substâncias que causavam sensações visuais alucinantes, era considerado a “carne dos deuses”. Para os rituais religiosos, era usado o peyotl, cacto que possibilitava visões fantásticas e comunicações divinas.
Os nativos de onde agora é o Haiti também tinham sua espécie de rapé. Contou Cristóvão Colombo que os indígenas “sorviam pelo nariz, mediante um tubo, certo pó fino, parecido com canela”. Eram os precursores da aspiração da cocaína. Menos requintados mostravam-se seus contemporâneos, os indígenas de tantas partes do continente sul-americano, que mascavam as folhas arrancadas dos arbustos de coca e obtinham graus diferentes de torpor e bem-estar.
Nem tudo, porém, foi vício. Os maias viram nos alucinógenos também uma finalidade médica. Do floripôndio extraíram poderosos anestésicos que usavam em intervenções cirúrgicas e, inclusive, na trepanação craniana.
Correndo tantas épocas e usos, no século passado os tóxicos alcançaram a literatura. Principalmente na Europa, muito se escreveu sobre os efeitos de determinadas drogas.

DEFINIÇÃO DO CAOS - Para a OMS (Organização Mundial da Saúde), as toxicomanias “são intoxicações periódicas ou crônicas, danosas ao indivíduo e à sociedade, desencadeadas pelo consumo repetido de uma droga, natural ou sintética”.
Essa definição engloba, em seu sentido, três características principais: o desejo e a busca do tóxico, a tendência a aumentar as doses e a dependência aos efeitos da droga. O desejo ou a necessidade de continuar usando o tóxico, depois de iniciado o vício, é obsessivo. Para obtê-lo, o toxicômano não mede sacrifícios ou meios. Mente, rouba e até mata, usa todos os subterfúgios, se avilta e se humilha. É capaz de tudo para obter, talvez, só mais uma dose.
Para o desenvolvimento do vício, é fundamental a tendência a aumentar as doses ingeridas. O toxicômano chega a ingerir quantidades incríveis de drogas até se enredar em toda sorte de problema, desde os de ordem econômica (o vício é muito caro) até sérios danos físicos. Chegando a esse ponto, o melhor caminho é o hospital psiquiátrico. Em alguns meses, uma desintoxicação bem conduzida consegue reduzir consideravelmente a necessidade de droga, primeiro passo para a cura total. Que nem sempre é obtida, porque o toxicômano poderá valer-se da redução para reiniciar o vício com doses pequenas e acessíveis ao bolso.
A descoberta desse subterfúgio fez com que os psiquiatras passassem a encarar com reserva todas as internações voluntárias. Muitas vezes, é difícil acreditar que o viciado esteja disposto a abandonar sua “fuga” dos sofrimentos, e a enfrentar uma existência sem tóxicos. Por trás dessa atitude, poderá estar escondida a dificuldade na obtenção de entorpecentes, o clímax das doses, a perseguição por parte da polícia ou por elementos ligados ao mundo dos tóxicos.
A terceira característica é a dependência - psíquica ou física - aos efeitos da droga. Uma das hipóteses a respeito é a de que a substância passe a fazer parte do ciclo metabólico do toxicômano, que, na abstinência, entraria em verdadeiro estado de carência. Outra proposição, contudo, valoriza mais os aspectos psicológicos e com eles relaciona as manifestações físicas decorrentes da dependência: taquicardia, sudorese, queda de pressão e mesmo febre. Essas alterações nada mais seriam do que expressão de ansiedade diante da falta do tóxico. Nesse sentido, a explicação psicológica da dependência foi reforçada pelos constantes fracassos em reproduzir os sintomas da abstinência em animais.

O “DEBUT” - Muitos caminhos levam à iniciação na sociedade fechada que constitui o mundo dos tóxicos. Qualquer que seja o status social do viciado, o tipo de contato ou a via de acesso, há sempre a tendência ao agrupamento em círculos restritos. Por essa razão, costuma-se afirmar que todo toxicômano é um traficante em potencial.
Em tal sociedade, distinguem-se três castas: a alta, que sorve o caríssimo “rapé” de cocaína; a média, na sua maioria artistas e estudantes, que consome psicotrópicos e barbitúricos; e a pobre e proletária, que usa a maconha. Dentro do métier, também existe a separação por categorias: o traficante, que é o atacadista, o intermediário, no papel de revendedor, e o “passador”, varejista que serve a clientela.
Uma das vias de acesso à sociedade toxicômana é o contato puramente acidental. Por espírito de imitação, ou na busca de novas experiências, muitos indivíduos são levados ao vício. Merece destaque a atuação do traficante nas grandes cidades. Interessado em aumentar sua freguesia, propicia o contato com determinadas substâncias e cria novos toxicômanos.
A via terapêutica é outra forma de acesso de grande importância. Tanto que as autoridades encarregadas exercem um controle eficiente do receituário médico, combatendo a toxicomania com medidas restritivas do uso de substâncias capazes de desencadeá-la. Diante de pacientes com dores muito intensas, o médico por vezes utiliza um opiáceo, para sedação. O desaparecimento das dores constitui, por si, um atraente “convite” ao vício: cessado o tratamento, qualquer dor mais forte ou a “doce” lembrança conduzem o paciente à procura da mesma substância.
Por último, está a procura deliberada e franca de uma droga que possa resolver os problemas preexistentes de estruturação da personalidade. O indivíduo que sempre sofreu intensos problemas psicológicos lança mão de vários tóxicos, até encontrar um que consiga tira-lo da situação angustiante. Encontrado o “remédio”, estabelece-se a dependência e concretiza-se a toxicomania.

AS DROGAS - Muitas são as drogas e múltiplos seus efeitos. As mais conhecidas são as seguintes:
Ópio - Extraído da semente da papoula cultivada no Egito, Índia, China, Birmânia e outros países, é distribuído universalmente. São também opiáceos a morfina e a heroína, que substituíram o ópio na utilização médica.
Morfina - Usada como sedativo para dores intensas, provoca sono profundo e euforia. Quando falta, o paciente fica angustiado, sofre palpitações e sufocamento, sua frio. Seu uso continuado leva à perda do apetite e desinteresse sexual.
Heroína - Analgésico várias vezes mais forte que a morfina, age com doses mínimas, o que pareceu aos médicos fator decisivo contra a possibilidade de viciar. Mas esta também é mais forte. A heroína é um dos tóxicos mais caros.
Cocaína - Extraída das folhas da coca, difundida na América do Sul. Tratada, transforma-se num pó branco, que é aspirado pelo nariz ou aplicado em solução por via venosa. O cocainômano sofre taquicardia, alucinações coloridas e insônia; mais tarde, apresenta cansaço, irritação e angústia.
Sintéticas - São tomadas pela boca ou injetadas na veia. Os psicotrópicos (Pervitin, Dexamil, Stenamina) são excitantes, cortam o sono e o apetite. São usados, geralmente, em trabalhos noturnos e regimes de emagrecimento. Os barbitúricos (Namuron, Nambutal) são obtidos com a síntese da uréia com o ácido malônico. Combatem a insônia, impondo quantidades cada vez maiores de droga.
Maconha - Extraída da Connabis, cuja fibra é usada na fabricação de tecidos rústicos. Provoca confusão mental, sonolência, irritabilidade, depressão, enfraquecimento do organismo, tonturas e perturbações circulatórias.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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