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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Inconsciente

Expressão extremamente difundida nos tempos atuais, inconsciente é um termo que envolve dois aspectos bastante distintos.
A primeira acepção da palavra é talvez a mais usada. “Após o acidente, Fulano deu entrada no hospital em estado inconsciente”. É uma frase que pertence ao cotidiano. A informação permite deduzir que o indivíduo em questão está desacordado, perdeu a consciência. Nesse sentido, inconsciência seria a caracterização de todo estado diferente do normal (a vigília). No caso mencionado, representaria a suspensão profunda e mais ou menos completa da atividade mental no estado de coma. Também quando dorme, o indivíduo está inconsciente, ao contrário da vigília.
O segundo significado do termo é aquele que se refere a uma qualidade ou setor da personalidade. É comum ouvir-se: “Eu não sou assim, a menos que isto seja inconsciente”, ou então, “Isto não é eu, é uma idéia má que me assalta”. Continuando nessa linha, acaba-se por concluir que do eu não resta senão um ponto imaginário que é, ao mesmo tempo, segundo Kretschmer, “a entidade mais imaginária e a mais imediatamente certa”. Isto equivale dizer que se trata de uma porção da personalidade que está fora do conhecimento e também do controle do indivíduo.

INFLUÊNCIA - Ainda que se atribua a revelação do inconsciente a Freud, torna-se necessário esclarecer o que veio a ser esta “descoberta”. Conhecido desde a Antiguidade, o inconsciente era encarado como um aspecto sem função ou interferência na atividade humana. Freud revolucionou toda a Psicologia ao demonstrar claramente a influência do inconsciente na vida psíquica.
No final do século passado, chegou-se a uma descoberta fundamental ao serem estudados os primeiros casos de histeria. Verificou-se que os sintomas histéricos tinham um sentido: representavam “deformada e simbolicamente” um acontecimento passado desagradável, afastado do campo da consciência justamente por despertar sentimentos indesejáveis.
Descobriu-se também que tal fato desagradável permanecia “arquivado” no inconsciente, mantendo toda a sua energia. Esta energia é, portanto, a responsável pelo aspecto atuante do inconsciente. Quando submetidos à hipnose, os pacientes histéricos reviviam o fato inconsciente e causador do trauma. Com isso, obtinha-se a liberação da energia até então reprimida e o decorrente término do sintoma.
O inconsciente é o sistema que abrange toda a atividade instintiva, ou seja, as representações psíquicas de todos os instintos, sempre à procura de satisfação. Nele também estão abrigados todos os afetos desagradáveis que não puderam ser livremente vividos e, portanto, sofreram a repressão. Estes afetos reprimidos também estão continuamente à procura de satisfação.
Existe todo um sistema bem articulado e preparado para evitar que tais impulsos inconscientes alcancem a consciência e que, assim, cheguem ao conhecimento do indivíduo. Em outras palavras, os impulsos inconscientes não são acessíveis à consciência clara, ou o são com extrema dificuldade. Fatos penosos que foram reprimidos ou recalcados - porque considerados contrários à moralidade, indesejáveis ou desagradáveis - dificilmente conseguem transpor o limiar da consciência. Genericamente, o sistema toma o nome de “censura” e tem a função de ajuizar a conveniência ou não de aparecer tal ou qual desejo.

LEIS DO INCONSCIENTE - Regido pelo princípio do prazer, o inconsciente atua pela sua obtenção, sem levar em conta qualquer outro dado. Totalmente desligado do princípio da realidade, quer apenas ser satisfeito, simples e instantaneamente.
Um segundo aspecto muito importante do inconsciente é a falta de qualquer sentido temporal em sua constituição. Os instintos, os afetos reprimidos, tudo enfim que forma o inconsciente, não guardam qualquer relação de tempo. Podem aparecer, numa mesma representação, fatos extremamente separados “no tempo aqui de fora”, já que os dias não são contados nos processos inconscientes.
A contradição é outro aspecto que não atua na regulação das atividades inconscientes. Há, por assim dizer, uma verdadeira “coexistência pacífica”. Fatos extremamente contraditórios podem viver lado a lado, sem qualquer problema. Tal “harmonia” é impossível no mundo consciente, que é regido pela lógica e não admite a coexistência de fatos contraditórios sem que isso cause dificuldades intelectuais ou emocionais ao indivíduo.
Todo fato inconsciente, em si, não pode ser conhecido. Somente seus efeitos é que afloram à superfície. Assim, nas neuroses os sintomas representam sempre manifestações inconscientes que, com o aspecto de deformação, conseguem atingir a consciência iludindo de alguma maneira a “censura”. São manifestações “inocentes” do inconsciente que conseguem alcançar a consciência.

SONHOS E GAFES - Por estas razões, os fatos inconscientes têm sido objeto de estudos intensivos, uma vez que são os responsáveis por certas formas de conduta anteriormente inexplicáveis. Exemplos disso são os lapsos de linguagem, de leitura e de escrita, gestos inesperados que o indivíduo não desejou afetar, esquecimento súbito de palavras familiares, estados sonambúlicos, sonhos, tiques nervosos, fobias, anestesias histéricas e muitas outras reações inadequadas.
Os sonhos, principalmente, constituem um meio muito importante que os conteúdos inconscientes utilizam para obter a sua satisfação. O processo onírico é sempre uma realização de desejos. Nos sonhos, utilizando-se de processos próprios do inconsciente - tais como simbolização, condensação de afetos, deslocamentos de pontos importantes dos sonhos para um segundo plano de outros -, os impulsos iludem a “censura” e conseguem atingir a consciência.
Os atos falhos constituem outra maneira importante de se encontrar manifestações do inconsciente e, por isso, foram exaustivamente estudados por Freud e seus colaboradores. Determinadas gafes, cometidas aparentemente sem qualquer intenção, na verdade representam sempre a realização disfarçada de algum desejo do inconsciente.
Quando num funeral um indivíduo “distraidamente” deseja “parabéns” à família, está manifestando um desejo inconsciente que pode ser a expressão de inúmeras situações. Por isso, cada caso deve ser analisado separadamente. Poderia, por exemplo, representar que o indivíduo preferiria uma festa ao invés da situação triste de um enterro. Como também poderia significar que a morte de tal pessoa não é realmente sentida com pesar pelo “distraído”. Nota-se portanto que, tal como nos sonhos, não pode haver uma explicação prévia e fixa para cada caso, pois bem grande é o número de situações que cada um deles pode representar.
O mesmo se poderia dizer sobre os motivos que levam alguém a esquecer, de maneira muito estrada, de ir ao casamento de um amigo que o convidou no dia anterior à cerimônia. Aos órfãos e aos enjeitados, por exemplo, seria difícil buscar no próprio inconsciente as razões para certos atos que praticam contra a sociedade. Tudo isto porque a motivação da conduta se esconde, em grande parte, no domínio do inconsciente.
Contudo, prevalecem a oposição e a “luta” entre o inconsciente e o “ego”, que comanda o contato com o mundo exterior e é regido pelo princípio de realidade, especialmente o “superego” - diferente do primeiro porque constitui o “ideal”, o censor incansável que exerce constante vigilância sobre a atividade do inconsciente. Desta forma, pesa sobre os impulsos inconscientes, regidos pelo princípio do prazer, toda uma “censura” que permite satisfações somente quando as exigências da realidade o permitem, obedecendo-se às determinações do “ego-ideal”.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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