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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Fobias

O despertar tocou pontualmente às 6 horas. Depois de levantar-se reclamando do frio que sentia, tomou banho e fez a barba. Já atrasado, engoliu o café com leite, despediu-se da esposa e saiu para o corredor. Chamou o elevador. Mentalmente, começou a organizar depressa o dia que tinha pela frente: iria ao escritório e, depois do serviço, jantaria com o seu principal cliente. No elevador vazio, apertou o botão indicador do andar térreo.
Em meio à descida, sem qualquer motivo aparente, começou a se sentir realmente mal. Tão terrivelmente como se fosse morrer. Faltava-lhe o ar, sentia-se zonzo, o coração disparado, a boca seca, enquanto suava por todos os poros. Veio-lhe a idéia de que o elevador poderia cair ou então encrencar. Os cinco andares que restavam até o térreo pareciam ter quilômetros de altura.
Quando a porta abriu, automaticamente, saiu cambaleando e lívido, aterrorizado mesmo. Sentou-se na cadeira do zelador. Sua respiração foi melhorando, lentamente. Minutos depois, estava tão bem que foi capaz de sorrir às pessoas conhecidas que entravam no prédio. O que aconteceu - e a personagem o soube depois - foi a primeira manifestação fóbica, ou seja, começou naquele dia um processo de neurose fóbica.

O QUE SÃO - As fobias constituem manifestações que acompanham a grande maioria das doenças psíquicas. Sua característica fundamental é o medo, que pode estar dirigido a um objeto, a uma situação ou comportamento. Geralmente, o objeto ou a situação escolhidos para o desenvolvimento da fobia não apresentam, por si sós, qualquer possibilidade de incutir medo. No caso descrito, ao contrário do que se poderia pensar, o elevador nada tinha de ameaçador para o seu ocupante, que o vinha utilizando há muitos anos. Daquele dia em diante, contudo, passou a se servir das escadas, lavado pelo medo que inconscientemente adquiriu, cuja causa não estava dentro do elevador e sim dentro dele próprio.
Quando as fobias acompanham outras manifestações mentais, constituem apenas um sintoma acessório, na grande maioria dos casos. No deprimido, por exemplo, é comum verificarem-se manifestações fóbicas: entre outras, tem medo de se alimentar, julgando que a comida lhe fará mal.
Resta saber o que vem a ser fobia e para que “serve”. Sua característica básica é o aparecimento do medo, desproporcionado diante das situações, em geral bem definidas e que passam a ser muito conhecidas do doente.
Ao estudar a dinâmica do inconsciente, Freud mostrou que a angústia aparece sempre como sinal de alerta diante de um conflito. É vivida como uma situação aflitiva, de morte iminente ou extremamente desagradável. Um dos recursos de que o psiquismo lança mão, para enfrenta-la, é o de colocar essa angústia fora da pessoa. Projeta-se o medo interno para o exterior, pois é mais eficiente o mecanismo de defesa da pessoa diante de agressões de fora. Voltando-se ao exemplo dado, “transferiu-se” para o elevador a responsabilidade da situação angustiante. Assim, o indivíduo passa a usar as escadas e sua vida correrá bem até que surja uma nova fobia.
De maneira geral, os psiquiatras estão de acordo em que determinadas situações são especialmente comuns no desencadeamento destas fobias. O espaço, por exemplo, desempenha papel de destaque. O indivíduo pode ter medo de ficar em pequenos cubículos (claustrofobia) ou então se sentir mal em locais abertos e descobertos (agorafobia).
Outra situação que ganha primeiro plano no quadro de sintomas é o “medo de ruas”. O fóbico procura sempre ficar em casa ou no trabalho, onde se sente mais seguro. Para andas nas ruas, precisa sempre de um acompanhante que o leve a todos os lugares. O comportamento normal que apresenta em recintos fechados só poderá ser mantido, na rua, quando encontrar um acompanhante infatigável. Pois basta que se veja só para transformar-se numa pessoa diferente, tomada de pânico, extremamente ansiosa, tibubeante, paralisada e incapaz de enfrentar qualquer situação. Para a fobia de andar na rua, portanto, torna-se absolutamente necessário propiciar ao enfermo a única condição básica para contornar o medo, através das constantes saídas acompanhado por outras pessoas.

OUTRAS FOBIAS - Outro grupo de manifestações fóbicas é o das sociais. Nela a segurança é menor porque as situações são mais flutuantes e menos possíveis de prever e, portanto, de evitar.
São muito freqüentes as fobias de falar com determinada pessoa ou, pior ainda, de falar diante de várias pessoas ou em público. Outros manifestam como neurose fóbica a impossibilidade de encarar as pessoas; ficam corados e desenvolvem um medo paralisante; “perdem a língua” e não conseguem se expressar. E uma vez passada a situação, vem a justificativa clássica de “falta de lembrança” de dizer o que deviam. Ocorre, na verdade, a suspensão momentânea e funcional das atividades psíquicas superiores.
Um terceiro grupo de situações fóbicas é o que tem por objeto os animais, de qualquer porte ou espécie. Nos de pequeno porte aparece, associado ao medo, o sentido de repugnância ou repulsão, tão característico quando se trata de ratos ou baratas que “avançam” sobre as mulheres.
Parece muito comum que esse medo com relação aos animais apareça, fora do sentido de doença, sob a forma de pesadelo durante a infância. A criança acorda assustada, em pânico, diante do perigo vivido durante o sonho. A tranqüilização que atinge ao acordar e verificar que tudo terminou - somada à proteção proporcionada por seus familiares - constitui forte mecanismo no desenvolvimento da habilidade de lidar com situações perigosas.

O FÓBICO E A FOBIA - Os fóbicos podem desenvolver dois tipos básicos de atitudes para lidar com as situações que lhes causam medo. Procuram, no primeiro caso, evita-las de todas as formas possíveis e imagináveis, encontrando mil pretextos para cada uma delas. Ou então estabelecem medidas “protetoras”, servindo de exemplo a procura de acompanhantes quando se trata da fobia de andar nas ruas. Nesse caso, o fóbico escolhe sempre pessoa de sua confiança, pois não são todos os acompanhantes que possuem a “qualidade” de tirar o medo.
No que diz respeito ao seu sentido, a fobia é um medo intenso e bem determinado, cujo estímulo é colocado fora da pessoa justamente para possibilitar-lhe a luta contra ele. Esta colocação é bastante complexa e tem como sentido principal substituir um medo interno por um medo externo. O medo interno é o da liberação de instintos agressivos e sexuais, que constantemente exigem a satisfação negada pela “censura” interior.
A pessoa que desenvolve uma manifestação de neurose fóbica apresenta uma conduta racional para evitar as situações primariamente desejadas. Evitam certas situações ou interesses que poderiam desencadear, de alguma forma, a exigência instintiva agressiva ou sexual.
Não se trata, na realidade, de medo de fazer alguma coisa. É o psiquismo do indivíduo que, movido por mecanismos inconscientes, simplesmente não empresta qualquer interesse para tais atividades. Assim, é comum verificar, em graus variáveis, dificuldades sexuais ocultas que se mostram sob a forma de desinteresse pelo sexo oposto, com reduzido encontro de prazer e satisfação. Aparecem, em conseqüência, manifestações de timidez, desinteresse e pouca disposição para maiores solicitações afetivas. Averigua-se, então, que a conduta é toda canalizada no sentido de evitar, projetar ou negar as situações onde os instintos ocultos pudessem ser revelados, contrariando a “censura” interior.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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