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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Excitantes

Autoridades policiais, governos e autoridades sanitárias de todo o mundo demonstram preocupação cada vez maior com a generalização do uso de produtos tóxicos. Exploradores do vício, bem organizados, exercem a sua maléfica atividade, desencaminhando meninos e meninas, em portas de colégios, iniciando-os no vício. Os traficantes ganham verdadeiras fortunas, enquanto destroem a vida de milhares de pessoas, que se tornam dependentes dos tóxicos. A maioria dos colegiais consegue safar-se, fugindo dos marginais e negando-se “às experiências”. Mas alguns, principalmente aqueles que têm problemas mais sérios de relacionamento com a família ou com a sociedade, tornam-se escravos do vício.
No vasto quadro de drogas e produtos tóxicos, surgem com destaque os estimulantes do sistema nervoso central. Estes podem agir sobre o córtex cerebral, sobre o bulbo que é a parte do encéfalo que controla a vida vegetativa - respiração, batimentos cardíacos e outros - ou sobre as estruturas nervosas da medula. As drogas não agem exclusivamente sobre cada uma dessas três partes do sistema nervoso central, ao contrário, elas têm efeito sobre todo o SNC. Mas, como sua ação é mais forte em um daqueles três setores, a divisão é feita para indicar sua ação predominante - ou seja, qual a parte do sistema nervoso central mais afetada.
Experiências demonstraram que as mais importantes, sob o ponto de vista médico, são as drogas cuja ação predominante atinge o córtex cerebral. Estas drogas são mais perigosas porque podem, às vezes, induzir um estado agradável, desenvolvendo uma toxicomania. Por outro lado, verificou-se que as drogas que apresentam efeitos mais pronunciados nos outros setores - bulbo e medula espinhal - não criam dependência, mas, ao contrário, apresentam ação oposta, porque criam desprazer em seu mecanismo de ação.
Há dois pontos fundamentais que caracterizam a instalação de uma dependência de estimulantes. Os efeitos da droga, ou seja, as modificações psicofisiológicas reais e as necessidades da personalidade do paciente.
A combinação desses dois estados pode resultar em efeitos muito agradáveis, no caso de serem usados estimulantes-eufóricos. Para se criar uma dependência, ou necessidade inadiável dos excitantes, o paciente precisa apresentar tendências pessoais ao vício. Essas tendências, para se fixarem, precisam de ambiente favorável. Se a pessoa estiver afastada dos meios de fornecimento e uso dos excitantes, mesmo que tenha certa tendência, provavelmente não adquirirá o vício. Estados de grandes frustrações, depressões ou angústia, podem levar o indivíduo “a experimentar só uma vez...”, podendo acabar vítima do vício que lhe destruirá corpo e mente.

ACELERAÇÃO - Os efeitos básicos dos excitantes são a aceleração e o incremento das atividades psíquicas e físicas. As idéias fluem mais rapidamente, ocorre um aumento na “produção do pensamento”, o raciocínio se torna mais ágil, lembrando os sintomas que são encontrados nos portadores de psicose maníaco-depressiva, em sua fase de excitação (mania).
Ao mesmo tempo, os excitantes afugentam o sono. Por essa razão, são utilizados quase habitualmente por motoristas que viajam à noite, por estudantes nas épocas de exame e outros profissionais de vida noturna. O homem acostumado a trabalhar oito horas por dia poderá lançar mão dos excitantes para suportar o trabalho durante períodos mais longos.
Outro efeito procurado no uso dos estimulantes é a mudança do estado de ânimo, provavelmente a situação básica no desencadeamento da toxicomania. As drogas excitantes têm a capacidade de combater a depressão psíquica e atuam como estimulantes de grande poder. O grupo principal de tais substâncias compreende as aminas simpaticomiméticas. Cada toxicômano, de acordo com suas preferências pessoais, com o custo do produto ou a facilidade em consegui-lo, tem preferência por um ou por outro tipo existente no mercado. Os simpaticomiméticos também são capazes de diminuir a sensação de fome. Por isso, alguns deles são usados, a critério médico, nos programas de redução da obesidade.
Há algum tempo, os excitantes tinham aplicação médica no combate a estados depressivos. Atualmente, porém, com o aparecimento de drogas específicas antidepressivas, sem os efeitos danosos dos simpaticomiméticos, estes perderam praticamente toda sua indicação médica. As drogas excitantes que agem predominantemente sobre o córtex cerebral encontram indicações muito limitadas e precisas em medicina. Alguns medicamentos específicos usados para combater crises de epilepsia deixam o paciente em estado de grande sonolência. Os estimulantes do córtex são, nesses casos, receitados para combater essa sonolência.
Nos tratamentos de obesidade, alguns produtos dessa ordem podem reduzir a sensação de fome juntamente com o tratamento global de combate à obesidade. Porém, mesmo esse uso oferece riscos de instalação da toxicomania.

REALIZAÇÃO E INDEPENDÊNCIA - Embora sejam altamente danosas as drogas simpaticomiméticas, não chegam a apresentar as conseqüências dos chamados “tóxicos maiores”, como por exemplo a morfina e heroína. Isso porque a dependência de excitantes não se cria com tanta facilidade.
A estrutura da personalidade e o ambiente do indivíduo são fundamentais. Assim, quando pessoas que se sentem irrealizadas experimentam um excitante, encontrando o estado de plenitude pelo qual anseiam e livrando-se, ainda que temporariamente, da angústia, depressão e frustrações, abrem a porta para se transformarem em toxicômanos.
Essa forma de toxicomania é encontrada principalmente em jovens, justamente devido à sua ação. Os simpaticomiméticos não chegam a provocar a euforia, como os tóxicos maiores, cujo padrão é a morfina. Mas provocam um estado de excitação, contribuindo para facilitar as tarefas psíquicas e mesmo físicas. Isso é muito importante para os jovens, que estão vivendo como que “ao sabor das ondas”, conduzidos, compelidos e guiados por uma estrutura que não conseguem entender nem aprovar. Os excitantes lhes dão autoconfiança para tomar atitudes diante das quais, em condições normais, vacilariam. Claro que nem todos tornam-se dependentes. Um estudante em exames, por exemplo, pode deixar de usar as drogas assim que passe o período das provas. Outros, porém, ficam presos aos efeitos dos medicamentos, tornam-se toxicômanos. Depois de algum tempo, começarão a consumir doses maiores, passarão para o uso de outros tipos de tóxicos, indo aumentar as fileiras da legião de viciados que perambulam pelas ruas em busca da droga de que necessitam. E, para consegui-la, usam todos os recursos.

FIM - Instalado o vício, o corpo do paciente entra em fase de depauperação, pela falta do repouso e de alimentação. Durante o efeito da droga está bem. Depois aparece uma depressão ainda maior do que a que motivara a procura da fuga através do excitante. O viciado tem um aspecto geral de abatimento e prostração, é irritadiço, por vezes violento e emagrece rapidamente. Algumas vezes, depois do consumo da droga, a excitação se torna excessiva, levando a um descontrole. O toxicômano pode, por exemplo, estar altamente estimulado sexualmente e mostrar-se incapaz da realização do ato sexual. Com alguma freqüência, surgem alucinações visuais e auditivas. O toxicômano cai em um círculo vicioso. As doses habituais da droga já não surtem efeitos. Consomem quantidades cada vez mais fortes, para chegarem ao estado eufórico. A depressão reaparece, agravada, a cada vez que passa o efeito de uma dose. Tenta novamente usar doses maiores, muda para outras drogas, inventa misturas.
O tratamento consiste na supressão das drogas e, principalmente, no reconhecimento do problema psíquico que abriu campo para o vício e sua eliminação, o que sempre é tarefa difícil e a longo prazo.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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