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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Assistência ao Epiléptico

O problema fundamental, no tratamento dos epilépticos são os aspectos psicológicos. No atendimento, este tópico deve ser encarado sempre com prioridade, porque dependem dele praticamente todos os demais resultados.
A repulsa, clara ou disfarçada, que a maioria das pessoas sente pelos epilépticos cria dificuldades muito grandes à sua integração. E por isso as manifestações de personalidade dos epilépticos são geralmente de caráter reativo. Isto ocorre porque desde a infância se sentem tratados de modo diferente dos demais, o que lhes incute o sentimento da doença.
O isolamento dos pacientes, em alguns casos, chega a ser fatídico, ao destruir todas as chances e possibilidades de uma vida normal que poderiam levar, se fossem aceitos pelos demais. Um epiléptico convulsivo, por exemplo, tem manifestações episódicas, rápidas, de apenas alguns minutos de duração. Mesmo assim, é olhado com olhos esquivos e suspeitos até nos intervalos entre os ataques.
A desconfiança e o afastamento são encontrados na maioria dos casos. Existe o receio, totalmente infundados, de que a doença seja transmissível e comparável às taras hereditárias.
Dessa forma, negam-se oportunidades de vida normal a pessoas que em apenas uns poucos instantes da vida são presas de ataques, facilmente controlados com medicamentos. Até mesmo pacientes que algumas vezes tiveram uma crise, ou passaram por um estado crepuscular (de obnubilação da consciência), um período psicótico ou ocorrência semelhante, são tratados de modo diferente por todos os que tomaram conhecimento de tais fatos.
Se as manifestações ocorrem na infância, a atitude da família pode ser altamente prejudicial. Poupar a criança, trata-la como se “fosse de vidro” tolhe seu desenvolvimento. A criança, quase sempre, é coberta por uma superproteção e isso bloqueia a evolução dos sentimentos psico-afetivos. Daí vai surgir uma complicação emocional muito mais séria do que as manifestações epilépticas por se tornar um estado de superestrutura, agravando ainda mais a situação.
Para evitar isso, o estabelecimento de um programa de desenvolvimento normal, principalmente para os doentes que não tenham limitações reais muito pronunciadas, deve ser encarado com primazia no conjunto do tratamento. Mediante uma programação bem conduzida, esses pacientes poderão desfrutar das mesmas oportunidades que todos têm. A desmistificação do problema, com aceitação das manifestações como fruto de uma doença comum, permitirá a integração dos doentes na sociedade.
Nos dias atuais, muito poucas restrições são realmente necessárias à pessoa epiléptica. Esportes, trabalho, casamento, estudos e todas as atividades normais podem ser desenvolvidas sem problemas. Somente os estados que ofereçam perigo permanente ou mesmo condições de periculosidade eventuais devem ser evitados enquanto a doença não estiver totalmente controlada do ponto de vista medicamentoso. Não há qualquer motivo para o afastamento do trabalho, quando o paciente se submete a um tratamento de bons resultados, obtidos na grande maioria dos casos. Muito ao contrário, o estabelecimento de uma condição de inferioridade, devido ao isolamento da pessoa, apenas servirá para agravar o problema.
O principal é estabelecer uma atitude realística diante de cada caso, situando-se as possibilidades e limitações verdadeiras do paciente, e agindo de acordo com elas. Tanto os médicos quanto os seus auxiliares, os familiares do doente e as pessoas que se relacionam com ele concorrem para um resultado satisfatório no tratamento. Todas essas pessoas são importantes para a reintegração do paciente na vida normal.

AS PARTES E O TODO - O tratamento do epiléptico deve ser feito com base em estudos acurados de todos os itens de seu estado e comportamento. A análise desses itens permite a elaboração de um programa de tratamento global, com possibilidades muito boas de eficiência. O plano precisa ser elaborado com critério, evitando-se as atitudes de franco descrédito, que tendem a abandonar o doente à sua própria sorte. Isto é, todos os recursos modernos, inclusive os novos conhecimentos sobre o assunto, devem ser aplicados. Também é danosa a subestimação das manifestações, como se elas não tivessem nenhuma importância. Isso pode levar a promessas de curas milagrosas, tratamentos rápidos e radicais, que dificilmente são possíveis.
A instituição de um tratamento correto depende de um diagnóstico igualmente correto. De certa forma, poder-se-ia afirmar que a epilepsia tanto pode ser “principal” quanto “dependente”. Se depois dos exames verifica-se que ela não é provocada por outra doença qualquer, passa então a ser considerada doença “principal” ou primária. Quando, ao contrário, a epilepsia é apenas uma manifestação de um quadro maior de doença ou um sintoma de outra alteração, ela é “dependente”, secundária ou sintomática. Nesse segundo caso encontram-se, por exemplo, os ataques epilépticos provocados pela formação de tumores no crânio. As manifestações epilépticas podem ainda ser desencadeadas por muitas outras causas, como intoxicações diversas. Dentre essas, toma importância especial a intoxicação alcoólica crônica, que leva a uma encefalopatia (alteração do encéfalo) alcoólica.
E uma de suas manifestações é a crise convulsiva. Mas também surgem os estados crepusculares e de irritabilidade, os distúrbios do sono e outros. Uma vez removido o tóxico e feito um tratamento de reposição vitamínica no organismo - melhorando o estado geral do paciente -, podem ser eliminadas as causas que criam maior sensibilidade às convulsões ou outras manifestações. A partir disso, pode ser restabelecido o equilíbrio do paciente.
Uma grande porcentagem de casos, no entanto, não apresenta causas determinadas. São manifestações isoladas, muito freqüentes e que exigem um tratamento de sentido restrito à epilepsia. Atualmente existe um verdadeiro arsenal de medicamentos para o tratamento das manifestações episódicas. Se for estabelecido um tratamento adequado, especialmente as convulsões podem ser totalmente controladas, numa grande maioria dos casos. Em porcentagem bem menor estão aqueles cujas manifestações diminuem em número e adquirem caráter mais benigno. São excepcionais os casos em que os beneficiados melhoram pouco com o tratamento .

TRATAMENTO LONGO - O paciente precisa ser esclarecido de que seu tratamento vai ser longo e que é fundamental tomar a medicação com a maior regularidade possível. Deve ser suficientemente esclarecido, para que não se resolva a “relaxar” o tratamento, abandona-lo ou muda-lo por conta própria. A estrita obediência ao programa estabelecido é fundamental para o controle completo. Um dos maiores empecilhos que o paciente encontra é a lentidão dos progressos e a conseqüente demora na cura. Fatores de inúmeras naturezas intervêm para justificar as interrupções. Uma grande porcentagem de pacientes epilépticos age dessa forma, passando a olhar o tratamento com displicência, algumas vezes com descrédito ou abandonando-o inteiramente sob as mais variadas desculpas. Também quase sempre voltam ao tratamento, depois de algum tempo, quando novamente são acometidos pelas manifestações da moléstia.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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