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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Insônia

Com o desenvolvimento de métodos mais precisos de investigação das funções do sistema nervoso (neurofisiologia), foi possível estabelecer que o sono é um processo ativo, não apenas uma situação passiva após a vigília. Verificou-se que existe uma estrutura especial do sistema nervoso, a formação reticular, que cuida também da indução ao sono.
Além do interesse neurofisiológico, o sono também é importante para a psiquiatria, que o estuda com relação ao fenômeno do sonho. Além disso, o estudo das alterações mentais que ocorrem somente durante o sono também é valioso para permitir o melhor conhecimento dos mecanismos responsáveis pelo sono e por seus distúrbios.
De maneira geral, pode-se afirmar que o sono representa uma “pausa” no período de vigília, para o indivíduo proteger-se dos estímulos constantes do meio ambiente. Basicamente, o sono propicia repouso ao sistema perceptivo, constituído pelos órgãos dos sentidos.

ELETROENCEFALOGRAFIA - No plano fisiológico, o sono é acompanhado por uma série de modificações mais ou menos constantes. Assim, verifica-se um menor ritmo no batimento do coração (bradicardia) e na respiração (bradipnéia). Há uma tendência à diminuição da temperatura do corpo (hipotermia) e de toda a atividade vegetativa do organismo. Nesse estado de repouso, o trabalho muscular também é diminuído, para recuperar as estruturas responsáveis pela manutenção do tono muscular.
Por outro lado, a evolução das técnicas eletroencefalográficas permitiu um estudo detalhado da atividade elétrica desenvolvida pelas células nervosas do cérebro. Verificou-se que durante o sono ocorre uma diminuição do número de ondas elétricas cerebrais por unidade de tempo; aparecem ondas lentas e de grande amplitude. Foi possível identificar que em geral duas horas após o adormecimento ocorre um estado de sono profundo.
O sono, a fome e a temperatura do corpo são freqüentemente perturbados por várias doenças, de fundo psíquico ou físico. Muitas vezes, a alteração do sono é um dado útil para orientar o diagnóstico. Basicamente, as alterações do sono podem ser divididas em duas: insônia e hipersônias. As insônias caracterizam-se pela falta de sono, e a falta de repouso conseqüente provoca a estafa do organismo. Já a hipersônia, menos freqüente, caracteriza-se pelo excesso de sono, que prejudica o rendimento físico e psíquico.

“OLHEIRAS” E CANSAÇO - Muitas vezes, a insônia resulta da ação de doenças infecciosas, ou que provocam dores constantes ou ainda de afecções cardiorrespiratórias, nas quais a circulação ou respiração encontram-se alteradas. Na maior parte das vezes, essas alterações fisiológicas são acompanhadas por insônias persistentes e rebeldes.
Mas nem sempre a insônia é provocada por doenças físicas. As insônias podem ser o único motivo para o paciente procurar atendimento médico ou podem constituir um dos componentes de uma doença mental.
Em geral, a insônia isolada é supervalorizada pelo paciente, que comumente se queixa de insônia total. Afirma que está há meses em “pregar” o olho, que fica a noite inteira escutando o relógio bater as horas. Na grande maioria dos casos ocorre uma supervalorização do estado doentio. De certa forma, ele sente necessidade de provar que sofre muito e precisa de cura rápida. Na verdade, sabe-se atualmente que o homem resiste pouco à falta total de sono. Na quase totalidade dos casos, a insônia é parcial e o paciente dorme menos do que o necessário para a recuperação do organismo. Ao despertar, sente falta das horas de sono e comporta-se durante o dia inteiro de acordo com essa situação: fica irritado, pouco produtivo, cansado.

OS CARNEIRINHOS - esquematicamente, a insônia pode ser dividia em três tipos. Um deles é apresentado por pessoas que têm grande dificuldade em conciliar o sono; levam horas para dormir. É comum que recorram a diversos artifícios, como a leitura, contagem de carneirinhos imaginários ou bebida,a para “apressar” o sono. Basicamente, eles são vítimas de um distúrbio no sistema de controle do mecanismo vigília-sono. Uma vez instalado o sono, dormem regularmente por algumas horas, mas em geral por um período insuficiente para a recuperação total do organismo. O grupo de pacientes desse tipo de insônia é constituído, principalmente, de pessoas que vivem sob tensão, com preocupações intensas e angustiantes. Nesses casos, a insônia nada mais é do que um componente de uma situação de ansiedade, que se manifesta através do distúrbio no mecanismo do sono.
Num segundo grupo de pacientes, o sono é intermitente. A pessoa consegue dormir com relativa facilidade, mas acorda algum tempo depois, após uma ou duas horas, não conseguindo atingir o estado de sono profundo. Demora algum tempo para dormir novamente, sono esse que será interrompido mais uma vez, e assim por diante. A queixa característica desse tipo de paciente é de que se levanta mais cansado do que quando foi deitar-se. O sono não se manifesta como um período compensador de repouso.
Enfim, o terceiro grupo é constituído por pacientes que despertam precocemente. Adormecem sem dificuldade, conseguindo dormir por um período que varia de quatro a seis horas; após esse período, acordam e não conseguem mais dormir. É comum que esse tipo de paciente levante logo que acorda, por mais cedo que seja, para ir trata de seus afazeres; aprende que, uma vez desperto, não adormece novamente. Esses casos são característicos de insônia apenas quando a pessoa não dormiu o suficiente. Em outras palavras, existem pessoas que se sentem bem com apenas quatro ou cinco horas de sono. Por outro lado, pessoas inteiramente normais podem necessitar de mais de oito horas de sono diárias.

FUSÃO DOS TIPOS - A divisão esquemática da insônia em três tipos é estabelecida para fins de estudo. Em geral, o paciente apresenta os três tipos de perturbação e, às vezes, torna-se difícil distinguir qual é o mais importante.
Por outro lado, a insônia como estado mental isolado é muito rara; o mais comum é que faça parte de uma perturbação maior, que deverá ser identificada. Na neurose, a insônia pode ser considerada como a “fiel acompanhante” da angústia. O paciente queixa-se de insônia angustiante, sensação de morte iminente, depressão e medo infundado. Em neuroses que não apresentam manifestações agudas, a insônia poderá ser considerada como um sintoma isolado; nesses casos é sempre necessário investigar acuradamente as causas da insônia, para poder estabelecer o tratamento adequado.
Pacientes que apresentam estados de confusão ou de delírio agudo comumente apresentam insônia, que nada mais é do que uma conseqüência da alteração mental. Já em outras doenças mentais, esse distúrbio adquire importância maior. No estado depressivo da psicose maníaco-depressiva, a insônia pode ser o primeiro sinal que anuncia a instalação de um novo período da doença.
Na fase de mania da psicose maníaco-depressiva pode surgir a insônia, que nesses casos geralmente é acompanhada de intensa atividade, transtornando toda a rotina da casa. Isso porque os doentes quase não necessitam de repouso e deliberam realizar as mais diversas tarefas nos horários mais inconvenientes. Caso típico é o de paciente que decide lavar a casa, varrer, passar o aspirador de pó, tudo isso às 3 horas da manhã. É típica também a insônia das pessoas idosas que acordam cedo e não conseguem adormecer de novo.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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