Assuntos relacionados à saúde em geral, medicina ocidental, oriental, alternativa, trechos de livros e revistas.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Aspectos Psicológicos da Úlcera

Apesar das controvérsias existentes sobre a participação das emoções no aparecimento de úlceras do estômago ou do duodeno (primeira porção do intestino), acredita-se que determinadas condições psíquicas podem funcionar como fatores desencadeantes das úlceras.
Conflitos de personalidade, de tipo neurótico, determinariam alterações na irrigação sanguínea e no teor de acidez estomacal. Assim, quando essas alterações alcançassem grande intensidade e cronicidade, surgiria a úlcera. Os trabalhos de pesquisa para elucidar a participação do psiquismo no aparecimento das úlceras estabeleceram correlações importantes entre as áreas de conflito psíquico e as manifestações da moléstia.

COMPORTAMENTO DINÂMICO - Um caso típico, que ocorre com relativa freqüência, é o da pessoa extremamente ativa, com um desempenho profissional e social importante, que na grande maioria das vezes ocupa cargo de chefia ou, em outras palavras, mantém uma situação de grande responsabilidade, alcançada com esforço próprio através dos anos. Esse tipo de indivíduo caracteriza-se por não se acomodar diante de situações adversas, lutando sempre à procura de uma solução mais adequada para si. Geralmente, essa posição dinâmica diante das adversidades conduz o indivíduo à vitória. São as pessoas que não se satisfazem com soluções parciais; precisam sempre do que há de melhor; necessitam sempre de um novo desafio, de uma nova responsabilidade.
Quando as situações vividas pelo indivíduo não são extremamente graves ou muito solicitantes - o que ocorre na maioria dos casos -, ele se mantém numa curva da ascensão, galgando postos cada vez mais altos. Fora do setor profissional, nas relações familiares e sociais, as condições são as mesmas. Simplificadamente, o portador de úlcera é, em geral, pessoa vitoriosa, ativa e de projeção em seu meio.

CONFLITO = ÚLCERA - De acordo com as teorias mais modernas, a pessoa que mostra aquele tipo de comportamento acaba por desenvolver uma úlcera gastroduodenal, tem o comportamento agressivo-vitorioso como uma compensação ou assume uma posição de recalque de um processo de personalidade completamente oposto. Inconscientemente, essas pessoas sentem uma intensa necessidade de dependência e, ao mesmo tempo, procuram fugir dessa necessidade.
Isso ocorre porque rejeitam as tendências a depender de outras pessoas, de se sentirem submissos a alguém. É essa rejeição que faz com que assumam uma atitude de luta para superar todos os obstáculos. Dessa maneira conseguem negar seus desejos inconscientes de dependência. Para a maioria das pessoas chega a ser impossível admitir que determinada pessoa, ativa e independente, tenha medo de depender. O comportamento ativo e independente resulta da fuga de um sentimento de inferioridade que a pessoa associa com qualquer situação definida de dependência.
Em outras palavras, o indivíduo recusa-se, inconscientemente, a admitir seus desejos de dependência. Isso porque, para essa pessoa, qualquer forma de dependência representa uma manifestação de inferioridade.

CRISE ULCEROSA - A necessidade de depender, de ser amado, de receber atenção pode manifestar-se através do desejo de ser nutrido, pois uma das manifestações da necessidade de dependência é o desejo de ser alimentado. Como conseqüência, ocorre uma estimulação anormal do sistema vegetativo cérebro-espinhal, representado pelo nervo vago, também conhecido como pneumogástrico. Essa estimulação, quando crônica e intensa, pode determinar deficiências na irrigação sanguínea e, ao mesmo tempo, aumento de secreção do suco gástrico, condições que dariam origem à úlcera.
Quando os indivíduos que apresentam um comportamento aparentemente vitorioso se encontram em determinadas fases de grande importância, lutando febrilmente para alcançar alguma situação de êxito, é comum sofrerem uma crise de dores. E isso faz com que o indivíduo seja obrigado a interromper sua faina para dedicar-se a um tratamento. Desta forma a úlcera propicia ao indivíduo a oportunidade de obter atenção especial: alimentação preparada exclusivamente para ele, repouso cercado de cuidados por parte de familiares e outros acontecimentos gratificantes.

DEPENDÊNCIA FRUSTRADA - A lesão ulcerosa também pode ser resultado de uma situação completamente diversa daquela já descrita. Pode surgir em pessoas que apresentam, clara e conscientemente, o desejo de dependência. No caso da pessoa dinâmica, a necessidade de dependência é negada e compensada. Já para a pessoa manifestamente dependente, que espera “ser carregada nas costas”, que não toma iniciativas e que se queixa com freqüência da sua situação de vida, ocorre a frustração dos desejos de dependência porque disso se encarrega o próprio ambiente. Realmente, o meio nega ao indivíduo a dependência de que ele necessita.
No primeiro caso descrito, do indivíduo agressivo-vitorioso, o conflito é nitidamente interno. No segundo, o conflito é estabelecido entre o indivíduo e o meio. Apesar das diferenças, ambas as situações podem conduzir ao mesmo resultado: a úlcera gastroduodenal.
Por outro lado, verifica-se que a dependência está sempre associada a outras situações desagradáveis. Assim, poderá estar diretamente associada à imagem de castração. Para muitas pessoas, qualquer manifestação de dependência implicaria perda da virilidade. Isso pode ser confirmado ao se observar que a sexualidade dessas pessoas está voltada apenas para a manutenção da virilidade. Em outras palavras, estão mais interessadas em obter uma confirmação de sua potência sexual ou em afastar as fantasias de castração sempre presentes.
Para essas pessoas, a satisfação sexual fica sempre em segundo plano; o mais importante é provar a sua capacidade sexual. A sexualidade é vivida em função de vitória ou derrota; o prazer, em si, é secundário.
Da mesma maneira que a pessoa ulcerosa vive em termos de ganhar ou perder, interpretando os problemas vividos como desafios, também o relacionamento afetivo acompanha essa orientação. O tipo hiperativo, à procura de valorização e realização, também vive uma situação de rivalidade no plano familiar. A união conjugal satisfatória é sempre difícil, pois o indivíduo interpeta a companheira como uma possível rival.
Assim, ocorre um afastamento, necessário para que o indivíduo não se sinta ameaçado. Verifica-se que o relacionamento entre os cônjuges sofre oscilações periódicas. Quando, por algum tempo, ocorre um relacionamento mais cordial e próximo, o indivíduo sente-se ameaçado, acabando por forçar um período de afastamento. Durante esse período surge novamente a possibilidade de sentir uma dependência ou aproximação que, quando realizada, estabelece mais uma vez uma relação afetiva cordial.
Para realizar o tratamento de pacientes ulcerosos é necessária a colaboração entre o clínico e o psiquiatra, trabalhando em equipe, para vencer as dificuldades apresentadas pela personalidade hiperativa e a resistência ao demorado tratamento. É comum que esse tipo de paciente abandone o tratamento assim que se verifiquem algumas melhoras, voltando ao médico somente quando ocorre uma nova crise de dores. Quanto à psicoterapia, considera-se fundamental que o psiquiatra estabeleça um relacionamento amistoso com o paciente, pois um dos problemas básicos dessa personalidade é a necessidade de se manter independente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivo do blog

Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

Total de visualizações de página: