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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Alterações da Percepção

Enquanto as sensações constituem o aspecto básico, a percepção é a análise elaborada, “criticada e arquivada” de uma ou mais sensações. Através da atividade perceptiva o homem recolhe informações do mundo e dele mesmo e, com tais dados, norteia sua vida. Por esta razão, a atividade perceptiva configura uma função finalística.
As doutrinas mais acreditadas na atualidade defendem que a percepção do mundo exterior já “nasce” organizada em uma unidade e que essa unidade não se forma ao acaso. Raciocinando-se um momento sobre o contínuo bombardeamento de estímulos de toda ordem que o homem recebe, verifica-se que apenas uma porção mínima deles é utilizada para formar a percepção.
Nesse particular devem ser distinguidas duas ordens de situações. Na primeira, o estímulo não tem energia adequada à percepção: é muito débil ou então ultrapassa o limite superior; em qualquer dos casos não se enquadra na faixa perceptiva. Assim, o próprio estímulo não tem as características suficientes para desencadear uma percepção organizada. O homem não percebe, por exemplo, os sons que estão abaixo ou acima da sua capacidade auditiva, ilustrando estes últimos os ultra-sons, emitidos pelos morcegos. Já na segunda situação, o estímulo não é “escolhido” para penetrar o mundo perceptivo naquele momento, ainda que reúna as condições físicas necessárias. Quanto mais o indivíduo concentra sua atividade perceptiva numa leitura atraente, menos percebe o conjunto dos demais estímulos.
Esta “seleção” ocorre porque o fator finalístico tem importância capital na percepção que, portanto, não é recolhida passivamente como num filme fotográfico. Da multiplicidade de estímulos que o atingem, o homem recolhe apenas aqueles que lhe interessam, no sentido e na finalidade. Em outras palavras, o ser humano “faz” a percepção utilizando-se do mundo que o cerca.
Paralelamente, a “síntese perceptiva” significa que, na percepção, entram partes ou aspectos reagrupados em um todo e percebidos conjuntamente. Isto equivale a dizer que é impossível perceber pontos isolados sem reuni-los com linhas imaginárias. Quando se vêem pontos geométricos, logo são percebidas figuras geométricas. Da mesma forma é impossível perceber segmentos de tempo sem procurar uma união ou, quando se repetem, sem estabelecer um ritmo. A sucessão de horas claras e escuras criou a percepção do dia e da noite.
A reunião ordenada dos estímulos “largados” no ambiente representa a organização sensorial, que tem significado porque o elemento intelectual passa a fazer parte da essência da percepção.

SENSAÇÃO E INTELECTO - As alterações da percepção estudadas em psiquiatria não dependem de anormalidades físicas dos órgãos dos sentidos. Ocorre, isto sim, uma falta de integração (“junção”) entre as sensações e os dados intelectuais.
A integração falta, por exemplo, nas agnosias, quando o indivíduo perde a capacidade de “reconhecer” os estímulos sensoriais. Todos os órgãos dos sentidos permanecem intactos; um deles somente não está “engrenado” com o cérebro. Assim, se o paciente vê um lápis e o cérebro está “desligado” do órgão da visão, o objeto não é reconhecido. Se no mesmo instante ouvir uma série de nomes e também “lápis”, nesse instante o paciente reconhece o objeto, através das “ligações” com a audição.
Ao apresentarmos uma caixa de fósforos a um agnósico, este é capaz de descreve-la, de dizer que a conhece e sabe para que serve. Apenas não se recorda do nome (agnosia de nome), o que não deve ser confundido com falta de memória. Se lhe perguntarmos se é uma caixa de fósforos, imediatamente responde que sim.
No pólo oposto da agnosia, encontra-se a convicção corporal sem sensação. O paciente tem, por exemplo, a sensação de que há qualquer coisa a seu lado. Procura por ela e não a encontra. Raciocina, então, que ela não existe, e com isso torna evidente que seu julgamento e crítica não estão alterados (não sofre delírio). Contudo, permanece a convicção, embora sem objeto.
Tais alterações perceptivas podem atingir a intensidade, a qualidade e a associação das sensações, que podem ocorrer de maneira normal. A intensidade aparece aumentada, diminuída ou nula. Os neurastênicos comumente se queixam de que sentem tudo muito intensamente: não resistem aos ruídos e fogem dos locais movimentados e apinhados de gente. Quanto à qualidade, pode haver uma generalização de determinado tipo. O indivíduo enxerga todo colorido ou, opostamente, não percebe determinadas cores (daltonismo). Nas associações anormais ocorre a soma de percepções normais com percepções acessórias. O indivíduo percebe, por exemplo, sons “coloridos”.
Outro tipo de distúrbio é a percepção alterada da forma espacial, quando os objetos sofrem modificações de forma em várias direções. Os objetos são vistos nas suas exatas proporções, embora ocorram micropsia (redução do tamanho real) ou macropsia (aumento das proporções). Pode-se verificar também metamorfopsia, quando os objetos aparecem “distorcidos” e com mudanças sucessivas de suas dimensões. O ácido lisérgico (LSD), em particular, causa alterações da forma espacial, nos três tipos.

AS PSEUDOPERCEPÇÕES - São estas, indubitavelmente, as alterações mais “sérias” do ponto de vista da doença mental. Há determinado tipo de ilusão que não é, obrigatoriamente, doentio. O indivíduo normal também pode apresenta-lo, especialmente em períodos de esgotamento, inatenção, sugestão ou tensão. A ilusão consiste na percepção enganosa dos objetos e seu aparecimento é favorecido pelos ambientes mal iluminados. Para tais pacientes é praxe aconselhar-se a claridade completa ou a escuridão total.
Outra pseudopercepção é a pareidolia, que consiste em colocar num segundo plano os objetos reais, enquanto que o primeiro plano é ocupado por determinadas imagens móveis ou fixas. Permanece, no paciente, a consciência de que tais imagens são irreais, apesar de muito claras e nítidas e da sua persistência contra a vontade da pessoa. O exemplo clássico é o do indivíduo que vê objetos ou pessoas projetados sobre as nuvens.
Além das ilusões, há também as alucinações, que consistem, segundo Gali, na “percepção sem objeto”. Os sentidos são impressionados e as percepções são recolhidas, apesar de não existir o objeto de toda essa atividade. Aparecem quase que exclusivamente nas doenças que conduzem a um grande comprometimento, transitório ou permanente, das funções psíquicas.
A alucinação, portanto, independe da existência de um objeto externo. O indivíduo projeta na realidade imagens irreais que lhe aparecem com todos os atributos das percepções alucinatórias: corporeidade, isto é, uma impressão real da coisa, não só no seu modo de ser, mas também no de estar concretamente presente no momento; localização do objeto no espaço exterior (fora do indivíduo) e objetivo; frescor sensorial, isto é, possui as características de sensação; estrutura determinada, com todos os seus detalhes; constância de forma; aparecimento e desaparecimento independente da vontade do enfermo, ao menos no seu plano consciente.
Por fim, outro tipo de psudopercepção é a alucinose, semelhante à agnosia. Consiste em percepções anormais, que o indivíduo sente como irreais. Por não acreditar em tais percepções constantes, o indivíduo sofre intensa angústia.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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