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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Neurose Obsessiva

Certas pessoas, antes de dormir, demonstram preocupação excessiva em verificar se as portas e as janelas estão bem fechadas ou se o conduto de gás está devidamente desligado. Procuram sentar-se à mesa sempre em determinadas posições; cuidam da maneira de andar ou fazem questão de entrar em casa sempre com o mesmo pé (geralmente o direito). Poderão estar sofrendo de neurose obsessiva, conhecida desde os tempos mais remotos e objeto de estudos cada vez mais completos e concludentes.
Quando a psicanálise conseguiu fornecer melhores esclarecimentos sobre essa alteração, foram classificados três elementos formadores: os fenômenos obsessivos propriamente ditos, os mecanismos de defesa desenvolvidos pelo psiquismo contra as manifestações obsessivas e, finalmente, a situação do neurótico que, consciente, passa a assistir ao choque entre as duas forças anteriores. Sentindo-se na obrigação de participar da luta interna, logo descobre que não é possível. O fracasso faz com que apresente sinais de debilidade física com queixas freqüentes e variadas de fraqueza, impossibilidade de manter uma atividade física continuada. Na parte mental, sente desprazer diante de tudo; alastra-se a indiferença e falta de interesse pela vida; campeia um vago estado de desencorajamento. São evidentes os sinais de um grande gasto de energia, que o doente consome para controlar o seu psiquismo.

NA ADOLESCÊNCIA - Embora muito raros, conhecem-se casos de crianças neuróticas obsessivas aos três anos de idade. No período escolar - entre os sete e onze anos -, a freqüência já é ligeiramente maior. Nesse grupo etário, a intensidade das manifestações, que podem ser periódicas, é extremamente variável. É na adolescência, contudo, que mais aparecem e se desenvolvem os primeiros sinais da doença obsessiva. Entre os jovens, a incidência desse tipo de neurose é maior do que nos outros grupos etários.
Na fase adulta, a porcentagem de aparecimento da neurose obsessiva é consideravelmente menor que na adolescência. Na maioria dos casos registrados, a doença teve início na juventude, ocorrendo na maturidade apenas um recrudescimento de sintomas. O agravamento do estado neurótico obriga o paciente a buscar auxílio, quando então se revela a alteração. Manifestações obsessivas também podem aparecer nas idades mais avançadas, mas em porcentagem bem menor. Essas manifestações estão geralmente ligadas a alterações orgânicas cerebrais, que condicionam esses estados psíquicos.

AS “MANIAS” - O fenômeno obsessivo, popularmente conhecido por “manias”, apresenta diversos “sintomas”. Todos eles têm, como característica constante, a repetição desagradável tanto para a consciência do próprio neurótico quanto para os que o cercam. Os pensamentos obsessivos martelam com insistência a mente do indivíduo, tornando-se coisa absurda, estranha e desagradável. Não obstante, eles se repetem, mantendo uma força intensa capaz de invadir a consciência, domina-la e obrigar a pessoa a tomar conhecimento deles. Geralmente, essas manifestações têm um sentido moral ou se preocupam com pureza e limpeza, entre outras coisas. Por exemplo, a idéia de lavar as mãos, com a sensação de que estejam sujas, ainda que tenham sido lavadas pouco antes. O fenômeno é vivido como a intromissão indesejável de um pensamento destituído de sentido, que invade o consciente com insistência. Mesmo sabendo que suas mãos estão limpas, o neurótico acaba por lavá-las novamente, vencido pela obsessão, para readquirir seu bem-estar. É vencido por uma determinação que lhe entra na mente como intrusa, não parecendo pertencer ao seu mundo interior.
A obsessão pode, ainda, tomar forma de uma imagem que representa uma cena, quase sempre desagradável, freqüentemente ligada a atividades sexuais ou aos órgãos genitais. Fere violentamente a sensibilidade da pessoa, a qual não admite de forma nenhuma imagens imorais ou pornográficas. O neurótico obsessivo, geralmente, tem diminutos interesses sexuais e essas visões provocam-lhe intenso mal-estar. Outras “manias” podem girar em torno de indagações intermináveis, onde cada resposta suscita uma nova pergunta. Ou na obsessão dos números (somar, dividir) sem nenhum interesse específico, ou simplesmente repetindo de maneira interminável um número ou um grupo de números.
Apesar de ter a impressão de que a idéia fixa lhe vem de fora, “injetada” em seu cérebro, o portador da obsessão sabe que o processo se desenrola dentro da sua psique. Nisso é diferente dos delirantes, que situam fora de si as visões, como se elas realmente chegassem ao cérebro através dos olhos; ou os sons imaginários, como se fossem recebidos pelo órgão de audição e não criados por sua própria mente. O obsessivo sabe que as imposições obsessivas são absurdas e constituem produtos de sua mente doentia. Sente-se dominado por elas e gostaria de se livrar das compulsões, mas continua a obedecer-lhes, por ser a única forma de que dispõe para readquirir um relativo e temporário bem-estar.

IMPOSIÇÃO DE ATOS - Por vezes, a obsessão não se manifesta simplesmente através de pensamentos inoportunos, mas para sugerir atos que o neurótico se vê compelido a praticar, geralmente atentatórios à sua formação e aos conceitos e preconceitos sociais. O exemplo clássico é o da mãe assaltada pela idéia de matar seu filho. Sofre terrivelmente diante da situação, procura - e encontra - meios de defesa contra o impulso, que nunca chega a se realizar. No exemplo dado, o alvo da agressividade (a criança) é cuidado com todos os desvelos que se espera de uma boa mãe (processo de compensação). Nessa luta contra seu impulso primitivo, é a própria mãe quem sofre, para evitar que a compulsão se torne realidade. Muitas vezes, a agressividade é parcialmente satisfeita com a mudança de alvo. Para resguardar seu filho, a mãe quebra algum objeto valioso, a fim de realizar de forma simbólica e disfarçada o ato imposto.
Se uma pessoa, durante a missa, por exemplo, se sente compelida a gritar obscenidades que afloram insistentemente à sua consciência, fará um esforço enorme para vencer a obsessão. Não conseguindo vence-la, apenas murmurará os palavrões e, com isso, voltara a se sentir bem, até que surjam novos impulsos.

RITUAL DA DEFESA - O neurótico acaba por desenvolver processos de defesa, através de atitudes racionais. Estas, porém, transformando-se em verdadeiros rituais, acabam por se tornar novas obsessões.
A psicanálise concluiu que a neurose obsessiva é causada por uma parada na evolução da sexualidade, que impede o alcance do estágio adulto. O mundo exterior parece hostil e agressivo ao neurótico obsessivo, que encontra dificuldades em manifestar sua própria agressividade. O superego (censura interior) é extremamente rígido e ameaçador, pressionando a pessoa, para que não realize os impulsos agressivos. As obsessões exigem diagnóstico cuidadoso, uma vez que podem surgir quadros de aparência obsessiva, causados por outras alterações, inclusive psicoses. No tocante ao tratamento, a psicanálise é indicação primordial, podendo ser confirmada sempre por um psiquiatra experimentado. Há casos em que determinados medicamentos conseguem melhora no estado do paciente, constituindo-se recurso que não pode ser esquecido, seja para oferecer base a uma psicoterapia profunda, seja para dar mais alívio ao conjunto de sintomas neuróticos.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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