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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Aspectos Psicológicos da Asma

Quando se rompe a ligação entre o feto e o útero materno no parto, ocorrem alterações fundamentais na fisiologia da criança. Uma delas, provavelmente a mais significativa, é a respiração. Até o nascimento, a criança recebe oxigênio proveniente da mãe, através da irrigação sanguínea arterial que é feita pela placenta. Os pulmões do feto ainda estão desligados do ciclo vital.
Logo após o parto, a árvore respiratória da criança entra em ação, começando a cumprir suas tarefas de suprir oxigênio e eliminar substâncias, especialmente gás carbônico. Essa atividade, que se inicia logo após o nascimento, mantém-se em funcionamento contínuo por toda a vida. No entanto, nos primeiros dias de vida, ocorre instabilidade na função respiratória, porque os centros respiratórios ainda não alcançaram seu máximo desenvolvimento.
Pode-se afirmar que a respiração é a maior manifestação de autonomia do recém-nascido em relação à mãe. E também participa do mecanismo da linguagem: com cerca de três meses de vida, a criança descobre que o ar expelido pode produzir ruído e passa a provoca-lo. A rigor, esses ruídos constituem uma pré-linguagem, também conhecida como linguagem-jogo, já que não tem o sentido de comunicação da linguagem de adulto.
Mas, antes dessas experiências de modulação e jogo (atividade lúdica) com os sons, a criança exprime emoções através do choro, primeira manifestação emocional dirigida ao meio ambiente. Da mesma maneira que a linguagem e a pré-linguagem, também o choro depende do funcionamento da árvore respiratória.

INFLUÊNCIA DAS EMOÇÕES - O inter-relacionamento intenso entre a respiração e as emoções permite que determinados estados emocionais provoquem crises alérgicas (rinite, asma) do aparelho respiratório.
Geralmente, a reação alérgica é uma forma de defesa do organismo contra um determinado antígeno (agente causador da reação alérgica). É desencadeada pela formação da dupla antígeno-anticorpo. Porém, outros fatores também entram em jogo. Variações do mundo físico exterior, como mudanças de temperatura ou clima, doenças e alterações fisiológicas e até mesmo alterações emocionais podem interferir no aparecimento do processo alérgico. Esses fatores poderão influir isoladamente ou em conjunto: por esse motivo, cada indivíduo deve ser estudado em particular para que possa ser avaliado o grau de participação de cada um dos fatores. A existência de grande número de causas indica que a reação alérgica deve ser considerada como uma resposta global do organismo frente à ação dos vários fatores.
No entanto, a medicina psicossomática (que estuda a influência da psique no aparecimento de doenças) tem seu interesse voltado prioritariamente para as emoções que acompanham o processo alérgico. Alguns trabalhos de pesquisa concluíram que, em geral, o indivíduo que sofre de alergia do aparelho respiratório tem incapacidade maior ou menor para descarregar suas emoções. Verificou-se também que, quando as emoções são manifestadas, especialmente aquelas ligadas à agressividade, com excitação ansiosa ou raiva, precedem o aparecimento de uma crise alérgica. Após a crise, freqüentemente surgem estados depressivos.
Muitas vezes, as emoções são as únicas responsáveis pela reação alérgica: é o caso de indivíduos que apresentam crise de alergia respiratória não tendo nenhum contato com o antígeno. Eventualmente, emoções súbitas desencadeiam as reações; até mesmo uma mera representação ou imagem do antígeno faz o papel do próprio antígeno. Isso ocorre principalmente nos casos de manifestações alérgicas agudas como as da asma. Como exemplo, pode-se lembrar o caso de um indivíduo que tem acessos alérgicos desencadeados pelo frio e, ao assistir a um filme no qual é representada uma situação “de frio”, como uma nevasca, poderá sofrer uma crise. Ao que tudo indica, nesses casos a manifestação é resultado de um condicionamento através do qual a simples representação da situação alérgica desencadeia ansiedade e cria condições para o aparecimento da crise.
Mas nem sempre o componente emocional em si é suficientemente forte para desencadear a crise. Outras pessoas, sujeitas a reações alérgicas provocadas pelo frio, poderão assistir tranqüilamente ao mesmo filme. Possivelmente associarão a situação representada com aquela que lhes causa a reação alérgica. Poderão sentir uma certa inquietação ansiosa pela rememoração do seu problema. Mas, desde que não exista condicionamento suficiente, não haverá crise alérgica.
Um fator de grande importância nos casos de resposta alérgica por condicionamento é a ansiedade, que constitui um dos elos imprescindíveis entre o estímulo e a resposta. Em outras palavras, quando o indivíduo não desenvolve uma ansiedade intensa diante da representação, não ocorre reação alérgica. Já nos casos em que não se trata de representações, e sim de fatos concretos, a reação alérgica é uma conseqüência natural.

DEPENDÊNCIA EMOCIONAL - A partir do fato de que a respiração é a primeira manifestação de independência do recém-nascido em relação à mãe, entende-se como a respiração pode ser afetada por distúrbios de relacionamento mãe-filho. O relacionamento adequado entre a criança e a mãe desempenha um papel importante no estabelecimento de uma independência psicológica da criança. De maneira geral, as crianças que sofrem crises alérgicas do aparelho respiratório apresentam uma perturbação do relacionamento e sentem uma dependência excessiva. Como conseqüência, a criança não se sente capaz de “respirar sozinha” e tem que contar com a proteção e apoio da mãe para as suas realizações.
Se esta condição de ligação excessiva ameaça ser rompida, por uma separação real da figura materna ou por uma situação fantasiosa de separação, a criança desenvolve grande ansiedade. A separação, para a criança, representa um acontecimento intensamente indesejável. Como conseqüência, desenvolve-se a manifestação alérgica que provoca a reaproximação da mãe, estabelecendo-se um círculo vicioso mantido tanto pela mãe como pelo filho.
Na maior parte dos casos de alergia do aparelho respiratório, pode-se verificar que a mãe toma uma atitude de rejeição em relação à criança. Essa rejeição pode ser manifestada de várias maneiras. Pode ser exprimida por uma manifestação direta do desinteresse ou abandono, onde fica patente o afastamento, ou pode apresentar-se indiretamente, através de uma atitude supercompensatória, onde a atenção é excessiva. Nesse último caso, a criança é coberta de carinho, para que os sentimentos (inconscientes) de rejeição não fiquem evidentes.
Sejam quais forem as circunstâncias em que se estabeleça uma perturbação do relacionamento mãe-filho, surge o problema de dependência excessiva.
Também o adulto que continua a reagir com excessiva dependência diante da influência materna pode ser afetado. A doença psicossomática (no caso, a alergia respiratória) pode ser entendida em termos psicodinâmicos (estudo das relações entre inconsciente e manifestações) como uma tentativa, ainda que doentia, de recompor o mundo de tensões internas. Em outras palavras, cria-se um novo equilíbrio com características de instabilidade e com um componente doentio, a manifestação alérgica.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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