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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Complexo de Édipo

O oráculo predissera a Laio, rei de Tebas, que seu filho o mataria. Para fugir à profecia, Laio passou a abster-se de relações sexuais. Mas numa noite de embriaguez sucumbiu aos encantos de Jocasta, sua esposa, e gerou um filho. A criança foi abandonada logo depois do nascimento, suspensa pelos pés numa árvore do Monte Citeron. Um pastor recolheu o menino e o levou para Corinto, onde foi adotado pelo rei Políbio. Deram-lhe o nome de Édipo (“o dos pés inchados”).
Só depois de adulto é que Édipo ouviria insinuações sobre sua origem. Consultou um oráculo que lhe revelou apenas o trágico futuro: mataria seu pai e casaria com a mãe. Certo de que Políbio fosse seu pai, Édipo fugiu para Tebas. Logo ao chegar às vizinhanças da cidade, encontra Laio e o mata num incidente banal, sem saber que se tratava do rei, seu pai.
Chega à cidade finalmente, onde vem a saber que o sucessor de Laio oferecia o trono e a mão de Jocasta a quem decifrasse o enigma da Esfinge: “Qual o animal que caminha primeiro sobre quatro pés, depois em dois e finalmente em três?” Quem errasse a resposta, era devorado e muitos tebanos já haviam perecido na tentativa de livrar a cidade do monstro. Édipo candidatou-se e acertou a resposta (“O homem, que engatinha, depois anda ereto e na velhice se apóia no cajado”). Com isso, rompeu-se o encanto da Esfinge, Tebas foi salva, Édipo ganhou o trono e casou com Jocasta, sua mãe. Tiveram quatro filhos. Anos depois a verdade foi revelada; Jocasta se toma de horror e enforca-se. Sobre seu cadáver, Édipo arranca os próprios olhos e sai pelo mundo em penitência.

ÉDIPO E ELECTRA - Dessa lenda grega Freud tirou o nome que iria designar o interesse sexual dos filhos pelos pais e os problemas neuróticos resultantes: o complexo de Édipo.
A idéia do complexo de Édipo ocorreu a Freud numa extensão de sua discutível teoria da libido; portanto achava que a atração sexual do filho em relação à mãe era expressão de um instinto universal, inerente a todas as pessoas. Dessa atração resultaria a hostilidade em relação ao pai, a rivalidade fraterna na disputa do afeto da mãe, o conflito entre a tendência à identificação com pai e o ressentimento do ciúme. E, finalmente, a angústia resultante do temor de ser punido por desejo tão culposo. Essa angústia se exprimiria como o receio inconsciente de ser castrado.
Numerosas e veementes objeções foram formuladas contra a teoria, que Freud remendava com afirmações ainda menos convincentes. Se o desejo sexual reprimido se orientasse para o genitor do mesmo sexo, isso seria para Freud o complexo homossexual de Édipo. A atração da filha pelo pai seria “o complexo de Édipo na mulher”. Jung propôs a expressão “complexo de Electra”, em alusão à lenda de Electra que vinga a morte do pai ao assassinar a própria mãe, mas Freud nunca aceitou tal denominação. Apesar disso, o “complexo de Electra” se tornou aceito na psiquiatria.
Posteriormente, Freud retificou seu conceito, ao verificar que nos adultos quase nunca se distinguiam vestígios do “complexo de Édipo” como fator de perturbação do comportamento. Freud atribuía tal circunstância ao fato de as pessoa por ele examinadas haverem sido bem sucedidas na repressão do desejo sexual pelos pais. Mas continuou insistindo no poder do complexo de Édipo, que segundo ele se resolveria por efeito de três fatores, de ação combinada ou isolada: 1) a decepção ou a série de decepções nos propósitos sexuais inconscientes (evasivas do genitor,m repressão disciplinar às manifestações mais ousadas, nascimento de irmãos, frustrações diversas); 2) a própria evolução do indivíduo e sua conseqüente dispersão de interesse sexual por outras pessoas; 3) o temor repressivo da castração, considerado por ele o mais eficaz agente de recalcamento do complexo.

CONCEITO MODERNO - Atualmente, a psiquiatria não atribui grande importância ao famoso complexo de Édipo e suas variantes. Em primeiro lugar, existe entre os psiquiatras a suspeita generalizada de que o complexo de Édipo, embora possa existir na forma de uma dependência afetiva mórbida, não constitui uma regra universal e um fator infalível de distúrbios de comportamento.
Muito mais plausível, por exemplo, é explicar o interesse psicológico dos filhos em relação ao pai a partir das conclusões de Pavlov sobre reflexos condicionados. A criança suga o seio da mãe para alimentar-se, posteriormente recebe manifestações evidentes de proteção que lhe reafirmam o sentimento de segurança, recebe alimento das mãos da mãe, banhos, agasalho, acomodação para dormir. Pelo mecanismo de condicionamento, a figura da mãe passa a representar satisfação de necessidades biológicas fundamentais. Daí o temor resultante da ausência materna, a dependência afetiva e outras expressões que dão à figura materna a aura cantada pelos poetas. Mas, de um ponto de vista puramente psicológico, o mecanismo através do qual se desenvolve a dependência afetiva não é nada diferente, em essência, daquela que se estabelece entre o cão e o dono (ou dona) que o tenha criado.
É evidente que o interesse sexual latente possa a princípio fixar-se na figura de um dos genitores, quando esse proporciona estímulos sexuais. As carícias que o pai concede à filha na pré-puberdade (em países europeus e outros é bastante comum, por exemplo, o beijo na boca entre pais e filhos) poderá produzir nela uma satisfação gratificante de fundo libidinoso. E, nessa fase de desenvolvimento genital, é possível que o interesse latente e inconsciente se localize a princípio na figura do pai.
Mas não parece plausível que esse interesse deva perdura pela vida adulta e que a mulher necessariamente vá procurar a figura do pai na pessoa do marido, Durante a infância, os pais ocupam uma posição de personagens quase exclusivos do mundo. As outras pessoas também existem para a criança, mas são mais peças animadas do cenário do que propriamente personagens. Portanto, é crível que o interesse sexual rudimentar dessa fase da vida se restrinja aos genitores.
Mas, à medida que o mundo da criança se amplia e novas personagens o penetram e ganham destaque, o interesse sexual se torna mais difuso e vago, com ocasionais localizações numa ou noutra pessoa. O processo evolui normalmente e o interesse sexual pelo genitor acaba por se diluir.
Outro fator não biológico (isto é, fator externo, sem relação imediata com instintos ou libido) pode ser lembrado para explicar ainda o relacionamento especial entre filhos e pais. A criança alimenta o afeto que sente em relação aos pais em decorrência do mecanismo de condicionamento já descrito e também porque troca seu interesse afetivo por manifestações de aprovação que lhe reafirmem a segurança. É como se dissesse: “Amo vocês e esse amor lhes cria o compromisso de gostarem de mim e me darem proteção”.
O afeto como elemento de transação, na compra de segurança, pode resultar num conflito que conduz à angústia. É que, ao lado do afeto, a criança poderá sentir, em muitas circunstâncias, profunda hostilidade em relação aos pais. Motivos: abusos de autoridade sofridos, proibições aparentemente injustas ou infundadas, castigos incompreendidos. Como essa hostilidade às vezes não pode ser manifestada, pelo temor de custar à criança a segurança buscada, resulta daí a anústia que, por sua vez, leva a criança a apegar-se a um dos genitores, na conhecida intenção de “dividir para conquistar”.
Quando buscar amor, portanto, a criança desenvolverá seu apego em função do genitor que lhe proporcione satisfação afetiva, inclusive as de fundo libidinoso. Quando buscar segurança, desenvolverá apego em relação ao genitor mais poderoso, em geral o pai, porém muitas vezes a mãe dominadora.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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