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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Depressões

Durante a escravatura no Brasil havia uma doença que matava muitos negros cativos. Eles se tornavam tristonhos, de olhar distante, desanimados e desinteressados de tudo. A doença se tornou conhecida por banzo, e hoje seria classificada como nostalgia cultural, uma forma de depressão.
Como doença, as depressões já são conhecidas há muito tempo. Hipócrates já as citava, com a denominação e melancolia. Essa alteração mental constitui, sem nenhuma sombra de dúvida, a mais freqüente de nossos dias, no terreno da psiquiatria.
Apresenta-se de mil maneiras diferentes, em graus distintos e com causas muito diversificadas. Os pacientes podem apresentar pequenas dificuldades para enfrentar a vida, sentindo desânimo, cansaço, indiferença e tédio, ou, ao contrário, sofrer crises dramáticas, que culminam com um acontecimento mais ou menos freqüente nos casos de depressões: a tentativa de suicídio.

INFLUÊNCIAS EXTERNAS - Existem as depressões subjetivas, cujas causas “nascem” no indivíduo, como nas crises de psicose maníaco-depressiva. Mas, na grande maioria das vezes, elas são conseqüências de causas externas. Isto é, o paciente não imagina as dificuldades que realmente existem e provocam os estados de depressão. Esse tipo de alteração recebe o nome de depressão reativa.
Mudanças tais como culturais, sociais, de urbanização e outras, que ocorrem cada vez mais depressa, exigem adaptação cada vez maior dos indivíduos. Como se torna difícil acompanhar permanentemente esse ritmo de crescimento, o indivíduo chega aos seus limites, onde é obrigado a parar, ou a avançar mais lentamente do que o exigido pela vida. Assim, sente-se marginalizado, impotente e cai em profundo desagrado que irá criar as respostas depressivas, em suas mais variadas formas.
A miséria e a falta de oportunidades também são fatores importantes na origem das depressões. A situação chega ao ponto de se verificar que pelo menos um quinto dos problemas de psiquiatria apresentam como base inicial um estado depressivo.

AS CAUSAS INTERNAS - As depressões observadas nas psicoses maníaco-depressivas não são frutos de acontecimentos externos. Os fatores ambientais podem ter importância, agravando ou melhorando o grau de doença. Contudo, a alteração vem de dentro, parte do próprio indivíduo. Todas as atividades do doente são marcadas pela tristeza. O pensamento torna-se lento, dificultoso, desalentado. Outra particularidade notável é a inibição, que paralisa praticamente todas as manifestações psíquicas. Por outro lado, todos os processos fisiológicos tornam-se mais lentos. Aparecem inapetência, insônia rebelde, queixas repetidas de mal-estar físico e psíquico. Instala-se uma tristeza permanente, que não precisa de justificativa. As depressões dessa ordem agravam-se rapidamente, em questão de horas ou dias e sempre há a possibilidade de o paciente, devido ao ânimo sombrio, procurar a autodestruição para livrar-se de tudo. Essas crises costumam ser muito intensas e chegam a exigir a internação urgente em hospital especializado. As técnicas psicoterápicas atuais não oferecem resultados muito animadores, nesses casos, mesmo que o paciente seja auxiliado por um ambiente ideal. São usados principalmente medicamentos antidepressivos e convulsivos, no que se refere ao tratamento medicamentoso.

AS REATIVAS - O segundo grupo das depressões compreende as reativas, isto é, as provocadas por uma situação exterior. Existe uma série praticamente infinita de causas para essas ocorrências. O conteúdo das depressões reativas está sempre ligado a fatos ocorridos ou imaginados, a situações vividas e a modificações sofridas.
Deve se separado, aqui, um grande grupo de depressões causadas por um fator físico real, como esgotamento grave, situações de distrofia, estados pós-infecciosos, estados de pós-parto ou pós-aborto e outros. Essas respostas depressivas também têm características muito variadas. Elas tanto podem passar despercebidas, quanto ser intensas e berrantes. E costumam ser acompanhadas de grande ansiedade.

BOMBAS OU VENENO LENTO - Em outro grupo, podem ser enquadradas as depressões reativas originárias de uma alteração psíquica. Sofrimentos psíquicos - desde os agudos, que desencadeiam reações quase imediatas, aos sofrimentos pequenos e repetidos, que atuam cronicamente e envenenam aos poucos a pessoa - podem levar às depressões.
No primeiro limite, o mal surge muito rapidamente, instala-se de maneira absoluta e controlável. No segundo, ocorrem estados depressivos mais brandos, mas também importantes porque permitem o aparecimento da depressão crônica, tornando a pessoa menos capaz de se adaptar ou de responder adequadamente às exigências da vida. Viver, para estes pacientes, torna-se um pesado fardo. A vida é descolorida, feita somente de obrigações, sem nenhuma compensação.
Os aspectos agradáveis e afetivos da vida não mais são vistos pelo enfermo, porque a depressão o impede. A vida é sem graça e sem sentido. Tudo é fastidioso e cansativo. Os pacientes adaptam-se a uma rotina de vida, evitando enfrentar novas situações. Perdem qualquer interesse em progredir, porque as modificações não lhes parecem compensadoras. Sofrem de maneira inconsciente, sem localização da causa.
Outro grupo, porém, sofre por causas conhecidas, conscientes. As depressões-respostas são orientadas diretamente à causa maior e recente, e podem criar modificações muito importantes na vida da pessoa. O humor é profundamente depressivo e também as idéias são deprimidas. Há um estado de ansiedade intensa e, ao contrário do que acontece com o grupo endógeno, cujas causas se encontram “dentro” do doente, os reativos-conscientes não sofrem inibição.
Finalmente, existem os doentes nos quais as depressões são apenas sintomas de outras doenças. Assim, os tumores cerebrais de qualquer natureza, as atrofias do córtex cerebral, as demências (especialmente as que ocorrem na época da velhice), têm como sintomas acompanhantes as manifestações de sentido depressivo. Estas são importantes porque podem ser a forma mais visível de manifestação, a ponto de encobrir ou deixar em segundo plano a causa real e primária da doença. Existem, ainda, as manifestações depressivas que precedem a esquizofrenia e a epilepsia. Estas têm como característica exatamente a presença de sintomas, isto é, não aparecem isoladas, mas fazem parte de um outro quadro, maior e mais importante.
A psicanálise oferece meios para que sejam entendidos os mecanismos pelos quais a depressão funciona. Dentro do esquema psicanalítico, entende-se a depressão como conseqüência da perda do objeto amado, comparável ao luto. Freud entendia que o Ego do indivíduo, diante da perda, permite ao abandono “trabalhar dentro de si”. Dessa forma, se mantém a depressão. O mecanismo psicodinâmico que torna possível a instalação da depressão está na dependência de fatores constitucionais, auxiliados por uma personalidade não inteiramente desenvolvida, porém fixada no chamado nível oral.
Esse autor propõe a possibilidade de existirem desenganos amorosos em épocas precoces da vida da pessoa, acrescendo que esses desenganos ainda devem se repetir em épocas posteriores. É por essa via que se cria o mecanismo de sentimento da perda do objeto amado e de instalação da depressão.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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