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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Ortopedia: Escoliose – Diagnóstico e Tratamento


Carlos Appel


CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS

Desde 3500 A.C., publicações sobre filosofia, religião e mitologia invocavam imagens de pessoas portadoras de deformidades vertebrais.
Coube a Hipócrates (Sec.V A.C.) a primeira descrição sobre a escoliose ao comenta a magnitude do problema e identificar sua progressão antes da maturidade esquelética.
Galeno (131-201 D.C.), no entanto, foi o pioneiro na utilização da terminologia escoliose, cifose e lordose para caracterizar tais deformidades vertebrais, sugerindo, além de exercícios respiratórios, amarras torácicas para tentar controlar a progressão das curvaturas.
Ambrose Paré (1510-1590) descreveu a escoliose congênita, recomendando a utilização de coletes de aço para o tratamento da forma do adulto, decorrente, segundo seus estudos, de má postura.
Nicholas Andrè, em 1741,criou o termo ortopedia (do grego orthos = reto, paidos = criança) ao descrever as técnicas de prevenção e correção das deformidades do corpo na infância. Acreditava que a escoliose provinha de desbalanceamento muscular e má postura, preconizando repouso e o emprego de coletes.
Em 1870, Jean-André Vernel – fundador do primeiro hospital ortopédico para tratamento de deformidades esqueléticas – criou uma mesa de tração vertebral e igualmente utilizava coletes.
Em 1839, Jules Guerin referiu grande sucesso ao realizar a primeira cirurgia para correção de escoliose (uma miotomia percutânea da musculatura vertebral). Os estudos de J. F. Malagaigne, ao desmentirem tais resultados, determinaram a cassação da licença médica de Guerin, obrigando-o a transferir-se da França para a Bélgica.
Durante o século XIX, os trabalhos publicados eram consensuais quanto à má postura como fator determinante das escolioses.
Em 1895, com o advento dos Raios X, os múltiplos fatores possivelmente envolvidos passaram a ser melhor analisados, bem como o diagnóstico e controle evolutivo puderam ser monitorados e quantificados.
No início do século XX, o estudo da escoliose evoluiu a partir dos trabalhos de Percival Pott, que descreveu a cifose torácica resultante da tuberculose vertebral (mal de Pott).
Em 1911, Russell Hibbs procedeu a uma fusão espinhal em paciente portador de tuberculose. Face os resultados obtidos, em 1914 realizou tal cirurgia para tratar especificamente a escoliose, sucedendo-se inúmeras publicações sobre diversas técnicas e procedimentos cirúrgicos nas décadas subseqüentes.
Em 1948, John Cobb descreveu o método, até hoje empregado, de mensuração da escoliose.
Joseph C. Risser, em 1958, demonstrou que a não soldadura das epífises ilíacas indica a possibilidade de progressão da escoliose (sinal de Risser), pois traduz imaturidade esquelética.
Walter Blount e Albert Schmidt, também em 1958, utilizaram o colete de Milwaukee para imobilização no pós-operatório da escoliose.
Em 1966, John Moe, então presidente do 10º Congresso da Societé Internationale de Chirurgie Orthopédique ET de Traumatologie – SICOT – Paris, afirmou que “o tratamento cirúrgico da escoliose apresenta bom resultado quando , ao final da fase de crescimento, a curvatura não progrediu”.
Desde então, inúmeros procedimentos, cirúrgicos ou não, isolados ou associadamente, têm sido empregados, com grande variabilidade nos resultados cosméticos e funcionais obtidos, sem o estabelecimento de uma conduta uniformemente padronizada e devidamente protocolada.

CONCEITO

Escoliose (do grego skolios = torto) é o desvio lateral do eixo vertebral acima de 10 graus Cobb, com rotação do corpo vertebral, geralmente mais pronunciado na vértebra apical. Segundo diversos autores, os equívocos inter-observadores podem atingir até 7 graus Cobb e intra-observadores, até 5 graus Cobb.

CLASSIFICAÇÃO

Há diversas propostas de classificação das escolioses, segundo o ponto de vista de seus autores. Com finalidade estritamente didática, as escolioses poderiam ser divididas em:

a) Idiopáticas: correspondem a aproximadamente 80% do total e podem ser subdivididas em:

. Infantil: início até os 3 anos de idade

. Juvenil:

Osexo feminino – início entre 4 e 12 anos de idade
Osexo masculino – início entre 4 e 14 anos de idade

. adolescente:

Osexo feminino – início após os 12 anos de idade
Osexo masculino – início após os 14 anos de idade

b) Osteopáticas: podem ser de natureza:

. Infecciosa (mal de Pott)
. Inflamatória
. Tumoral
. Congênita (osteogênese imperfeita, displasias, síndrome de Marfan, síndrome de Ehlers-Danlos, acondroplasias, nanismo, mucópolis-sacaridoses)
. Traumática (fraturas, deslocamentos, pós-curúrgica)
. Metabólica (raquitismo, osteoporose juvenil)

c) Miopáticas: podem ser de origem:

. Neurológica:
- Lesão do neurônio motor superior:
O# paralisia cerebral
O# doença degenerativa espinocerebelar
O# siringomielia
O# trauma ou tumor medular
- Lesão do neurônio motor inferior:
O# poliomielite
O# trauma
O# mielomenigocele

. Miogênica:
- Distrofias
- Hipotonias
- Miotonis
- Contraturas
- Artrogripose

d) Funcionais: As decorrentes de:

. Problemas posturais
. Assimetria pélvica
. Condições psicológicas

e) Adulto:

. sexo feminino: após os 15 anos de idade
. sexo masculino: após os 17 anos de idade

TIPOS

Quanto ao tipo de curvatura, a escoliose pode ser:

a) Estrutural: quando a curvatura não se retifica com os movimentos de lateralidade do tronco
b) Funcional: retifica-se com a lateralidade do tronco
c) Primária: é a primeira curvatura a aparecer; pode ser de difícil identificação e não ser a principal
d) Secundária ou compensatória: é a que se localiza acima ou abaixo da principal, como tentativa de manutenção do alinhamento vertebral
e) Equilibrada: é quando persiste o alinhamento occiput x sacro
f) Desequilibrada: quando há desalinhamento occiput x sacro

INCIDÊNCIA

A literatura apresenta dados variáveis quanto à incidência da escoliose na população. antes da maturidade esquelética, sua ocorrência é, no sexo feminino, de aproximadamente 4/1000, enquanto no sexo masculino é de cerca de 1/2500. Toda a escoliose em criança em fase de crescimento, sobretudo entre as idades consideradas como as de crescimento rápido (sexo feminino, entre 10-12 anos; masculino, entre 12-14 anos de idade), deve ser considerada como potencialmente progressiva, embora tal progressão também possa ocorrer com a maturidade esquelética já estabelecida.
A incidência da escoliose na população acima dos 50 anos de idade varia, segundo os autores, entre 2 e 9%. Embora aproximadamente 80% dos casos seja de natureza idiopática, deve ser mencionado o caráter familiar das escolioses, havendo uma maior probabilidade de progressão, quando a curvatura principal for maior do que 30º Cobb com rotação da vértebra apical de mais de 33%, acompanhada de listese lateral igual ou maior do que 6 mm e aumento do ângulo lombo-sacro.

DIAGNÓSTICO

a) História clínica

Dentre os portadores de escoliose, o principal motivo de consulta é a má aparência ocasionada pela(s) deformidade(s) vertebral(is), detectada pelo próprio paciente, seus pais, professores de educação física, enfermeiros, pediatras ou clínicos, que deverão estar sempre atentos à sua verificação.
Embora possíveis, a dor e os sintomas cardiorrespiratórios raramente são os determinantes do primeiro atendimento especializado. Se presentes, devem ser caracterizados quanto ao modo e tempo de início, fatores desencadeantes e de alívio, grau de severidade, irradiação e, se porventura utilizados, resposta a analgésicos e antiinflamatórios. Alteração de controle esfincteriano, dificuldade para subir degraus, dor e/ou falta de forças irradiada aos membros inferiores são atípicas na escoliose, sugerindo comprometimento neurológico.

b) Exame físico

O paciente deverá ser examinado em posição ortostática, sem calçados e apenas com a roupa íntima, quando será avaliada a existência de assimetria contralateral, representada por diferença de:

- altura dos ombros e/ou escápulas;
- altura do gradeado costal;
- nível dos ilíacos;
- distância dos cotovelos aos troncos;
- profundidade e número das pregas cutâneas da cintura pélvica (mais profundas e numerosas no lado côncavo).

Deverão ser verificadas a simetria, a sensibilidade e a força muscular paravertebral, abdominal, das cinturas pélvica e escapular, dos membros superiores e inferiores, incluída a pesquisa dos respectivos reflexos neurológicos. A presença de dor e/ou limitação de movimentos articulares no exame de membros superiores ou inferiores indicará a possibilidade da existência de enfermidade articular ou periarticular da região comprometida.

Com a pesquisa dos movimentos de flexo-extensão, rotação e lateralidade do tronco, serão analisadas a mobilidade, a extensibilidade e a força da coluna vertebral, bem como se a escoliose porventura constatada é de caráter estrutural ou funcional. O teste de Adam é bastante útil no exame clínico em que se pretende verificar a existência de escoliose. O paciente em posição ortostática, sem calçados e sobre o plano, fará a flexão do tronco (cerca de 90º), mantendo os joelhos completamente estendidos e os membros superiores pendentes ao longo do eixo principal do corpo (como se fosse olhar para trás de si por entre os joelhos). Na presença de escoliose, o olhar do examinador – paralelo ao bordo superior do tronco do examinado – constatará a assimetria torácica e/ou lombar contralateral, notada sob a forma de elevação do lado convexo da curvatura.

A fim de tentar quantificar e monitorar a possível progressão de tal assimetria, foi desenvolvido um escoliômetro (Orthopedic Systems Inc., Union City, Ca, EUA), capaz de auxiliar na mensuração no ângulo da escoliose, com a sua colocação centralizada sobre o ponto de maior curvatura. Os estudos demonstraram que uma angulação de 7 graus corresponderia a uma escoliose de aproximadamente 20º Cobb.

A maioria dos autores recomenda avaliação radiológica quando existe óbvia deformidade no teste de Adam, medida de 7º ou mais pelo escoliômetro, nítida obliqüidade pélvica e assimetria escapular que não melhora significativamente com o ajuste postural.

c) Raios X

O principal método de imagem para avaliação da escoliose é o estudo radiológico do paciente em posição ortostática, sem calçados e sobre o plano, incidência póstero-anterior, filme de 90 x 36 cm com anodo a 1,80 m de distância, incluindo bacia e bordo superior do sacro. A análise de tal investigação permitirá demonstrar as curvaturas principal e, se houver, compensatória, caracterizando sua localização, grau e extensão (lado de sua convexidade, número de vértebras envolvidas, vértebra apical, os graus Cobb, se a escoliose é equilibrada ou desequilibrada, se há rotação vertebral, desnível de epífises femorais ou inclinação do plateau sacro e se existe crescimento ósseo remanescente das epífises ilíacas (sinal de Risser).

O ângulo de Cobb é formado por perpendiculares às linhas que tangenciam o bordo superior da vértebra mais cranial e o bordo inferior da vértebra mais caudal que representem as extremidades do menor número de vértebras capazes de produzir a maior angulação vertebral.

O sinal de Risser avalia o grau de maturidade esquelética, através do índice de ossificação das epífises ilíacas. Quanto menor tal ossificação, maior será a imaturidade esquelética e, portanto, maior a possibilidade de progressão da escoliose. Divide-se em 5 estágios:

1: 25% de ossificação
2: 50%
3: 75%
4: 100%
5: fusão

Isso posto, recomenda-se a não aceitação de laudos radiológicos que não atendam a todas as especificações supracitadas, necessárias e indispensáveis para a adequada avaliação dos pacientes portadores de escoliose.

FATORES DE RISCO PARA PROGRESSÃO DA ESCOLIOSE

Inexiste unanimidade na literatura sobre os fatores de risco para a progressão das escolioses e tampouco parece haver elementos que, isoladamente, sejam capazes de desenvolvê-la, posto que sua causa permanece indeterminada na maioria dos casos. Dentre os fatores mais frequentemente referidos, dever ser citados:

a) ângulo de Cobb acima de 30º;
b) rotação da vértebra apical maior do que 33%;
c) aumento do ângulo lombo-sacro;
d) presença de imaturidade esquelética;
e) idade de crescimento rápido (sexo feminino: 10-12 anos; sexo masculino: 12-14 anos);
f) sexo feminino;
g) as curvaturas duplas tendem a aumentar mais do que as simples;
h) as curvaturas torácicas simples tendem a progredir mais do que as lombares;
i) escolioses desequilibradas.

TRATAMENTO

O tratamento da escoliose é longo e difícil, particularmente porque:

a) sua causa não está definitivamente estabelecida;
b) é impossível garantir, definir ou prever resultados;
c) não há estudos conclusivos quanto à diferença no prognóstico dos casos tratados e dos não tratados;
d) as avaliações psicológicas a priori e a posteriori das medidas terapêuticas preconizadas não são definitivas;
e) face à extrema valorização dos atributos de aparência e estética que, por vezes, até mesmo qualificam as pessoas, torna-se difícil harmonizar a avaliação do médico e do paciente quanto aos resultados pretendidos e os efetivamente obtidos;
f) inexistem métidos que quantifiquem a dor e/ou o potencial doloroso da escoliose.

O principal objetivo do tratamento é permitir que o paciente portador de escoliose atinja a maturidade com a coluna vertebral tão reta e estável quanto possível. Assim, os estudos indicam que quanto mais precoce a instituição das medidas terapêuticas, maior será a possibilidade de prevenção das deformidades.

A) Não cirúrgico

a) Avaliação individual

Os pacientes portadores de escoliose, segundo a maioria dos autores, deverão ser analisados individualmente. Os estudos indicam pequena probabilidade de progressão de curvaturas de até 15º Cobb. Tais casos, no entanto, deverão ser acompanhados até que completem a maturidade esquelética.

Os que apresentam curvaturas entre 10 e 40º Cobb, com maturidade esquelética estabelecida, deverão receber orientações posturais e de exercícios, além de informações quanto à possibilidade de piora da escoliose com o avançar da idade e/ou gravidez.

Para os que ainda não completaram a maturidade esquelética (sinal de Risser em estágio 2 ou menor), encontram-se em idade de crescimento rápido, apresentam escoliose entre 20-25º Cobb e o controle radiológico evidencia progressão das escolioses, deve ser considerada a possibilidade de utilização de colete.

b) Exercícios

Embora preconizado desde a antiguidade, os trabalhos científicos comprovam que, isoladamente, são incapazes de prevenir ou corrigir a escoliose. Sua recomendação tem como objetivo o alívio de sintomas dolorosos, melhorando o tônus músculo-ligamentar e a postura, aumentando a flexibilidade e qualificando psicologicamente o indivíduo, pela sensação de bem-estar e maior auto-estima. Devem ser trabalhados notadamente os músculos peitorais, abdominais, paravertebrais, glúteo, além de exercícios de adução escapular e retificação vertebral (colocado um peso de 500 g sobre a cabeça, forçar para aumentar a estatura).

c) Tração

Utilizada no passado, a tração céfalo-pélvica horizontal caiu em desuso, face à ausência de resultados positivos e à dificuldade técnica de seu emprego.

d) Coletes

Existem inúmeros tipos de coletes vertebrais para o tratamento da escoliose, e sua utilização sem a prática regular de exercícios parece ter valor limitado. Além de ajustes periódicos (entre 3 e 4 meses) pelo fabricante, é indispensável a aderência pessoal e familiar, bem como a orientação de fisioterapeuta com treinamento específico.
A finalidade de seu emprego baseia-se na aplicação de pressão sobre o lado convexo da curvatura com contrapressão (apoio) em porções fixas do esqueleto (pelve, gradil costal) sem esforço do paciente, ou seja, é um método passivo.
Ao contrário dos coletes fixos, atualmente em desuso, os coletes móveis, com estrutura rígida, permitem sua retirada para os procedimentos higiênicos e a realização indispensável de exercícios. Há trabalhos que demonstram a eficácia de sua utilização como limitadores da progressão da escoliose, diminuindo a necessidade da adoção de procedimentos cirúrgicos.
O mais utilizado é o colete de Milwaukee, que deve ser retirado durante aproximadamente uma das 24 horas do dia. Os exercícios serão feitos com e sem o colete, diariamente.

Suas principais indicações são as que seguem:
- escoliose até 45º Cobb com rotação e angulação costal potencialmente deformante + presença de hipercifose torácica;
- escoliose precoce em evolução com 20º Cobb, com ou sem rotação vertebral;
- escoliose torácica associada a hipercifose torácica importante;
- uso noturno nas escolioses precoces de menos de 20º Cobb;
- nas escolioses de até 15º Cobb sem rotação vertebral, os autores sugerem controle radiológico trimestral. Se a curvatura aumentar 5º Cobb ou mais, considerar sua utilização.

O colete de Milwaukee não está indicado nas seguintes circunstâncias:
- curvaturas maiores de 50º Cobb;
- quando a curvatura principal é na região lombar;
- quando a curvatura principal está acima de T4-T5;
- falta de aderência pessoal e familiar.

Dentre as vantagens da utilização do colete de Milwaukee, resumem-se as seguintes:
- removível 1 hora / dia, permite a realização de atividades físicas;
- possibilidade de diminuição da progressão das deformidades;
- possibilidade de diminuição da necessidade de cirurgia;
- manutenção do tônus músculo-ligamentar.

As desvantagens da utilização do colete de Milwaukee são as seguintes:
- necessidade de utilização 23 h/dia durante a fase de crescimento;
- antiestético;
- mantém a necessidade de realização metódica de exeercícios;
- não é corretivo;
- sua retirada não garante a estabilização dos resultados obtidos.

Dentre os critérios de sua retirada, incluem-se os que seguem:
- Deverá ser procedido um controle radiológico 3 meses após a conclusão da fase de crescimento. Se a escoliose estiver estabilizada, recomendar a utilização noturna com retirada de 8 h / dia;
- Realizar controle radiológico aos 6 e 12 meses. Se a escoliose estiver estabilizada, retirar. Se houver perda da correção, considerar nova utilização. Esta é uma situação particularmente penosa, sobretudo do ponto de vista psicológico, pois encerra uma avaliação negativa face aos resultados até então obtidos.

B) Cirúrgico

Segundo a literatura, o tratamento cirúrgico deve ser cogitado nas seguintes circunstâncias:

a) escoliose que evolui apesar do tratamento consevador;
b) presença de curvatura de 50º Cobb ou mais (a capacidade vital tende a diminuir em curvaturas com mais de 60 graus);
c) dor persistente que resiste ao tratamento clínico;
d) presença de deformidade inaceitável pelo paciente;
e) vigência de quadro neurológico decorrenete da escoliose (radiculopatia, estenose de canal, etc.);
f) comprometimento da função pulmonar na ausência de doença respiratória intrínseca;
g) limitação progressiva da capacidade de bastar-se a si mesmo para as atividades diárias (vestir-se, higiene pessoal, locomoção, dirigir, etc.);
h) quadro de descompensação psicológica decorrente da escoliose.

Deve ser mencionado ao paciente que a redução da deformidade poderá atingir no máximo 30-40%, que o período de convalescença oscila entre 6 e 12 meses, que a avaliação definitiva dos resultados pode levar até 2 anos e que haverá modificações na sua auto-imagem.
Deve ser recordado que a escoliose é mais aparente nos magros e longilíneos e que as de curvatura dupla são menos evidentes. Por sua vez, as que apresentam maior rotação da vértebra apical tendem a ser mais pronunciadas.
As principais complicações do tratamento cirúrgico são as seguintes:

- pseudo-artrose (5-27% dos casos);
- dor residual (5-15% dos casos);
- lesão neurológica (1-15% dos casos);
- infecção (0,5-5% dos casos);
- tromboembolia (1-20% dos casos).

Por oportuno, cumpre mencionar a existência de questionamentos quanto à indicação e avaliação dos resultados cirúrgicos:

a) na vigência de escoliose tóraco-lombar, qual o segmento a ser preferivelmente corrigido? Os estudos, não conclusivos, indicam que a correção torácica tende a induzir uma diminuição da curvatura lombar;
b) inexiste consenso quanto à aceitabilidade do grau de deformidade residual, na avaliação pós-operatória, tanto pelo médico quanto pelo paciente;
c) não há estudos comparativos adequados quanto à evolução da escoliose se, na adolescê4ncia, a cirurgia não tivesse sido realizada;
d) embora as escolioses torácicas apresentem maior tendência á progressão, os autores não identificam, unanimemente, os motivos pelos quais a maioria dos problemas, nos adultos, sejam decorrentes das curvaturas lombares;
e) não há comprovação de que pacientes submetidos à correção cirúrgica da escoliose tenham tido retardado o seu processo degenerativo discal;
f) um dos procedimentos mais utilizados para a avaliação da escoliose é a mensuração do ângulo de Cobb. Tal índice unidimensional será efetivamente válido para analisar alterações de natureza tridimensional? E a intervenção cirúrgica, fundamentada – dentre outros – em valores por ele expressos, possibilitará – inequivocamente – uma qualidade de vida superior aos que a ela se submeteram, comparados aos que dela abdicaram?

ESCOLIOSES NO ADULTO

A maioria dos autores menciona a existência de particularidades diferenciais entre as escolioses do adulto e as infanto-juvenis. Em ambas, a história clínica e o exame físico são fundamentais para a sua adequada caracterização e localização (grau, amplitude, extensão, etc.). Nos adultos, entretanto, há maior possibilidade de deformação dos corpos vertebrais por assimetria dos espaços intervertebrais, ou seja, há degeneração discal do lado côncavo da curvatura por compressão assimétrica do disco.

Escoliose existente ao término da fase de crescimento vertebral (sexo feminino, 15 anos; masculino, 17 anos) indica sua persistência na vida adulta, com possibilidade de progressão. Além de maior tendência à degeneração discal, os adultos com escoliose têm maior probabilidade de apresentar um quadro doloroso, seja por artropatia facetaria, estenose de canal medular, radiculopatia e/ou fadiga muscular.

A avaliação radiológica fundamentará o diagnóstico e permitirá seu controle evolutivo.

As possibilidades de progressão da escoliose no adulto são as seguintes:
- curvaturas torácicas acima de 50º Cobb: aumento de 1 grau/ano;
- curvaturas tóraco-lombares: aumento de 0,5 grau/ano;
- curvaturas lombares: aumento de 0,24 grau/ano;
- curvatoras torácicas abaixo de 30º Cobb: tendem a não aumentar.

Na dependência do quadro evolutivo e na presença de radiculopatia, suspeita de estenose de canal e alterações neurológicas, poderão estar indicadas a tomogravia computadorizada e/ou a ressonância magnética.

A mielo-tomografia computadorizada poderá ser necessária na vigência de grandes rotações vertebrais e implantes metálicos.

Nos pacientes com quadro de insuficiência respiratória, antecedentes de doença pulmonar e nos portadores de escolioses torácicas com mais de 65-70º Cobb, poderão estar indicadas as provas de função pulmonar.

TRATAMENTO DA ESCOLIOSE DO ADULTO

A) Não cirúrgico

O tratamento não cirúrgico inclui a utilização de analgésicos (se houver dor) e coletes. Igualmente devem ser melhoradas a capacidade aeróbica, a força muscular, a flexibilidade do tronco e a auto-estima, através de exercícios apropriadas já referidas.

Nos quadros intensamente dolorosos e resistentes às medidas convencionais, são preconizados os bloqueios de raiz, injeções epidurais e facetárias.

B) Cirúrgico

Deverá ser considerado nas seguintes circunstâncias:

- Abaixo dos 40 anos de idade:
Ocurva torácica progressiva com mais de 50-60º Cobb;
Odor crônica resistente ao tratamento conservador;
Opresença de deformidade inaceitável pelo paciente.

- Acima dos 50 anos de idade:
Opresença de comprometimento da função pulmonar;
Opresença de sintomas neurológicos, caracterizados sobretudo por dor e/ou déficit motor;
Oprogressão da curvatura.

RESUMO

Classificação:

1. IDIOPÁTICAS (80%)

- Infantil: início até 3 anos
- Juvenil:
OF: início 4-12 anos
OM: início 4-14 anos
- Adolescentes:
OF: após 12 anos
OM: após 14 anos

2. OSTEOPÁTICAS:

- Infecciosa
- Inflamatória
- Tumoral
- Congênita
- Traumática
- Metabólica

3. MIOPÁTICAS:

a) Neurológicas:
- Lesão do neurônio motor superior:
OPC
OSiringomielia
OTu / Trauma medular
- Lesão do neurônio motor inferior:
OPólio / Trauma
OMielomeningocele

b) Miogênicas:
- Artrogripose
- Distrofias
- Hipotonias
- Miotonias
- Contraturas

4. FUNCIONAIS:

- Postural
- Assimetria pélvica
- Psicológica

5. ADULTO:

- F: após 15 anos
- M: após 17 anos

Incidência:

- Antes da maturidade esquelética:
OF: 4/1000
OM: 1/2500

- > 50 anos:
O2-9%

- Idade de crescimento rápido:
OF: 10-12 anos
OM: 12-14 anos

- Maior incidência de suicídios

Diagnóstico:

1. História:
- Má aparência
- Dor
- Sintomas cardiorrespiratórios
OAtenção:
OOHistória familiar
OOComponente psicológico

2. Exame físico:
- Assimetria contralateral, gradil costal, cotovelo x tronco, pregas da cintura.
- Teste de ADAM
- Escoliômetro (7º - 20º Cobb)
- Estrutural x Funcional

3. Raios X:
- Curvaturas principal, local, compensatória, grau, extensão
- Sinal de Risser:
OEstágio 1: 25% de ossificação
OEstágio 2: 50%
OEstágio 3: 75%
OEstágio 4: 100%
OEstágio 5: fusão
- Equilibrada x desequilibrada (C7 x S1)
- Rotação vertebral
- Assimetria pélvica
- Inclinação plateau sacro
- MMII desiguais
- Malformações vertebrais

Fatores de risco para progressão:

- > 30º Cobb
- Rotação vértebra apical > 33º
- Aumento ângulo lombo-sacro
- Imaturidade esquelética
- Idade de crescimento rápido
- Sexo feminino: dupla > simples, torácica simples > lombar
- Desequilibradas
- alargamento interpedicular

Colete de Milwaukee:

1. Critérios de retirada:

RX 3 m após conclusão da fase de crescimento.
Estabilizada: uso noturno com retirada de 8 h/dia
RX 6 – 12 m:
Oestabilizada = retirar
Operda da correção = usar

2. Tratamento cirúrgico

- Progressão da curva
- 50º Cobb
- Dor persistente (melhora: 70-95% dos casos)
- Psicológico:
Oredução da deformidade: 30-40%
Oconvalescença: 6-12m
Oavaliação dos resultados: 2 anos
Oauto-imagem
- Sintomas neurológicos
- Função pulmonar

ADULTO

1. Tratamento não cirúrgico:

a) Analgésicos
b) Colete
c) Melhorar capacidade aeróbica, força muscular, flexibilidade, auto-estima
d) Bloqueio de raiz
e) Injeção epidural
f) Injeção facetaria

2. Tratamento cirúrgico:
a) < 40 anos: - Curva torácica progressiva > 50-60º
- Dor crônica sem resposta ao tratamento
- Deformidade inaceitável
b) > 50 anos:
- Progressão da curvatura
- Sintomas neurológicos
- Comprometimento da função pulmonar

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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