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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Psiquiatria: Antidepressivos - Efeitos Colaterais

Christina Hajaj Gonzalez

Introdução

Os medicamentos antidepressivos são substâncias utilizadas para o tratamento de transtornos depressivos e outras condições médicas e psiquiátricas.
Neste artigo, abordaremos os principais antidepressivos disponíveis para o uso clínico, seus mecanismos de ação e características, suas indicações e efeitos colaterais mais importantes.
Os antidepressivos são divididos em: antidepressivos tricíclicos, os primeiros a serem introduzidos na prática clínica há algumas décadas; inibidores da monoaminoxidase, e inibidores seletivos da recaptação de serotonina, além de alguns outros grupos (como os inibidores seletivos de noradrenalina, os de ação dual, etc.). Estes últimos são medicamentos que vêm sendo amplamente utilizados na prática médica nos últimos anos.

Antidepressivos Tricíclicos

Mecanismo de ação:
Os antidepressivos tricíclicos (ADTs) têm, como principal mecanismo farmacológico de ação, a inibição da recaptação de serotonina (5HT) e de noradrenalina (NA). Essas propriedades são responsáveis pelo efeito antidepressivo dessas medicações. Também bloqueiam receptores colinérgicos muscarínicos, receptores histaminérgicos H1 e H2 e receptores alfa-1-adrenérgicos, causando frequentemente efeitos colaterais.

ADTs:
Os ADTs mais importantes são: imipramina, amitriptilina, clomipramina e nortriptilina.

Indicações:
A principal indicação dos ADTs é no tratamento de transtornos depressivos, incluindo a distimia. Também são medicações úteis em diversas outras condições como: dor crônica, fibromialgia, cefaléias e enxaquecas, insônia, enurese infantil (imipramina), transtornos ansiosos (transtorno do pânico, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de estresse pós-traumático), transtorno obsessivo-compulsivo (clomipramina), transtornos alimentares (anorexia nervosa e bulimia nervosa) e narcolepsia.

Efeitos colaterais:
Os efeitos colaterais dos ADTs são decorrentes do bloqueio de diversos receptores em várias vias do sistema nervoso central, e de ações periféricas.
Os efeitos que ocorrem por bloqueio de receptores histaminérgicos H1 e H2 são: sonolência, fadiga, tontura, ganho de peso e náuseas. Os efeitos anticolinérgicos são: boca seca, constipação, visão turva, sonolência e retenção urinária. Os efeitos dos alfa-1-adrenérgicos são: tontura, hipotensão ortostática, sonolência, taquicardia, tremores, nariz entupido e disfunção sexual (retardo de ejaculação, anorgasmia).
Os ADTs podem induzir a episódios maníacos em pacientes com transtorno bipolar (“virada” maníaca). Em pacientes com transtorno de pânico, no início do tratamento, podem induzir a aumento de ansiedade e à maior freqüência de ataques de pânico.
Esses medicamentos podem agravar o quadro de glaucoma de ângulo estreito devido à ação anticolinérgica.
As alterações cardiovasculares mais freqüentes apresentadas são taquicardia, hipotensão e alterações no eletrocardiograma como: achatamento da onda T, prolongamento do intervalo PR e aumento do complexo QRS. Os ADTs não devem ser utilizados em pacientes com bloqueios de ramo, alterações da condução cardíaca e história de infarto agudo do miocárdio.
Os ADTs inibem o sono REM e podem ocorrer mioclonias noturnas e pesadelos.
Os efeitos colaterais mais raros incluem: ataxia, convulsões, icterícia colestática, exantemas, urticária, agranulocitose, leucopenia, eosinofilia, amenorréia, galactorréia e hiponatremia por síndrome de secreção inadequada do hormônio antidiurético.
Em quadros de intoxicação por ADTs pode ocorrer síndrome anticolinérgica central com quadro confusional agudo, alucinações auditivas e visuais, delírios, agitação e hipertermia. Nessa situação, pode-se utilizar a fisostigmina para o tratamento da intoxicação.
A superdosagem é caracterizada por agitação, delirium, mioclonias, convulsões, reflexos tendinosos profundos hiperativos, paralisia vesical e intestinal, alterações na pressão arterial, alterações na temperatura, midríase, acidose metabólica, depressão respiratória, arritmias cardíacas, coma e morte. A conduta na superdosagem inclui medidas de suporte geral, administração de fluidos, uso de agentes para aumenta a pressão arterial, monitoração das convulsões e tratamento das arritmias cardíacas.
A retirada abrupta de ADTs pode causar síndrome de abstinência que cursa com náuseas, vômitos, diarréia, câimbras abdominais, fadiga e cefaléia.

Inibidores da Monoaminoxidase

Mecanismo de ação:
Os inibidores da monoaminoxidade (IMAOs) são substâncias que inibem a MAO, enzima que metaboliza as catecolaminas. Produzem seu efeito antidepressivo por meio do acúmulo de catecolaminas.
Quando se utiliza um IMAO, deve-se orientar o paciente para evitar alimentos que contêm tiramina (queijos curados, enlatados, embutidos, vinhos, cervejas e favas, entre outros). Quando ocorre inibição da MAO na presença de tiramina, há acúmulo de noradrenalina e pode haver aumento importante da pressão arterial. Medicamentos que contêm simpatomiméticos, estimulantes, derivados opiáceos, ADTs e inibidores seletivos da recaptação de serotonina não devem ser utilizados até 2 semanas após a retirada do IMAO.

IMAQs
Os IMAOs disponíveis no Brasil são a tranilcipromina, um IMAO irreversível, e a moclobemida, um IMAO-A reversível.
Os IMAOs irreversíveis se ligam de modo irreversível à MAO e o organismo leva cerca de 2 semanas após a interrupção do uso de IMAOs para sintetizar a MAO novamente. São mais potentes e exigem cuidados com a alimentação. Os IMAOs reversíveis são menos potentes, apresentam menor risco de provocar hipertensão arterial após a ingestão de alimentos com tiramina e menos efeitos colaterais.

Indicações
Os IMAOs estão indicados no tratamento de transtornos depressivos, fase depressiva do transtorno bipolar, transtorno do pânico com ou sem agorafobia, fobia social e transtorno obsessivo-compulsivo.
São contra-indicados na gravidez, na concomitância de feocromocitoma ou em pacientes com aneurisma intracraniano.

Efeitos colaterais
Os efeitos colaterais mais freqüentes dos IMAOs são: hipotensão ortostática, insônia, fadiga, disfunção sexual, cefaléia e aumento de peso. Mais raramente ocorrem mioclonias, rash cutâneo, visão embaçada, boca seca, obstipação e crise hipertensiva espontânea.
As crises hipertensivas que ocorrem na presença de tiramina ou de medicamentos simpatomiméticos são caracterizadas por cefaléia intensa temporal ou occipital, calor, taquicardia, náuseas, vômitos, sudorese e aumento da pressão arterial. Podem causar acidente vascular cerebral, coma e morte. O tratamento da cefaléia sem aumento importante da pressão arterial é realizado com a suspensão do IMAO e nifedipina 10 mg. SL. Quando há hipertensão importante, deve-se utilizar bloqueador alfa-adrenérgico (fentolamina, de 2 a 5 mg. EV).
intoxicação por IMAO é caracterizada por agitação, instabilidade autonômica, hipertermia, mioclonias, tremores, confusão mental e coma. O tratamento da intoxicação deve incluir medidas de manutenção da temperatura, pressão arterial e balanço hidroeletrolítico adequados. A acidificação da urina ou a diálise podem acelerar a retirada do IMAO. A fentolamina e a clorpramazina são úteis para diminuir a pressão arterial.

Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina

Mecanismo de ação
Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) são antidepressivos de nova geração e têm uma ação específica na inibição da recaptação de 5HT. Exercem seu efeito antidepressivo por meio do acúmulo de 5HT na fenda sináptica. Apresentam algumas vantagens em relação aos ADTs e IMAOs: maior segurança e tolerabilidade, menor toxicidade cardíaca e menos efeitos anticolinérgicos.

ISRSs
Os ISRSs disponíveis para o uso clínico são: fluoxetina, sertralina, paroxetina, citalopram e fluvoxamina.

Indicações
Estas medicações apresentam diversos usos: transtornos depressivos, distimia, transtorno do pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos do controle dos impulsos, bulimia nervosa, fobia social, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno disfórico pré-menstrual e enxaqueca.

Efeitos colaterais
Os efeitos colaterais ocorrem por estímulo dos receptores serotonérgicos. A estimulação de receptores 5HT2 provoca agitação, acatisia, tremores, sintomas extrapiramidais (parkinsonismo, distonia, discinesia), aumento da ansiedade no início do tratamento, insônia, mioclonia noturna e disfunção sexual (diminuição da libido, retardo de ejaculação e anorgasmia). A estimulação de receptores 5HT3 causa náuseas, vômitos, diminuição do apetite e diarréia (mais comum com a sertralina). O uso da paroxetina pode causar sonolência. Os ISRSs também podem causar cefaléia e sudorese. Mais raramente ocorrem convulsões e hiponatremia decorrente da síndrome de secreção inadequada do hormônio antidiurético.
A superdosagem é caracterizada por agitação, insônia, tremores, náuseas, vômitos, taquicardia e convulsões. Nesta situação, a conduta adequada é a retirada do ISRS e a lavagem gástrica.
Quando retirados de modo abrupto, os ISRSs podem causar síndrome de descontinuação com tonturas, parestesias, tremores, ansiedade, náuseas, taquicardia e alterações de sono. Os sintomas iniciam-se geralmente em 48 horas após a retirada da medicação e podem durar até 20 dias. Para evitar a síndrome de descontinuação, deve-se diminuir gradualmente a dose até a retirada completa.
A síndrome serotonérgica maligna é uma reação tóxica, potencialmente letal, que ocorre quando medicamentos serotonérgicos são co-administrados. A combinação de ISRS e IMAO é particularmente perigosa. Os sinais e sintomas da síndrome serotonérgica maligna são: hipertermia, sudorese, hipotensão, excitação, tremores, rigidez, hiper-reflexia, mioclonias, incoordenação, taquicardia, diarréia, cefaléia, confusão, rabdomiólise, mioglobinúria, insuficiência renal, coagulação intravascular disseminada, coma e morte. O tratamento é feito com a retirada dos medicamentos, medidas de suporte geral, incluindo unidade de cuidados intensivos. O uso de ciproeptadina, um antagonista serotonérgico, pode ser útil.

Outros antidepressivos

Neste grupo de antidepressivos, estão incluídos os medicamentos que apresentam mecanismo de ação diferente dos grupos apresentados anteriormente.
Destacam-se as fenilpiperazinas (trazodona e nefazodona), a bupropiona, a venlafaxina, a mirtazapina, a reboxetina e o hipérico.

Fenilpiperazinas: Trazodona
Mecanismo de ação:
A trazodona é uma substância que exerce seu efeito antidepressivo por meio do antagonismo de receptores 5HT2, do bloqueio da recaptação de 5HT e do potente antagonismo alfa1-adrenérgico. Também tem propriedades anti-histamínicas. Esta medicação é bastante sedativa, diminui a ansiedade e aumenta o sono de ondas lentas.
Efeitos colaterais:
A trazodona não está associada a efeitos colaterais anticolinérgicos. Sedação, hipotensão ortostática, tonturas, cefaléia e náusea são os efeitos mais comuns Um efeito colateral raro, porém importante, é o priapismo (ereções prolongadas e dolorosas sem estimulação sexual), que deve ser imediatamente tratado para não haver danos vasculares no pênis. O tratamento é realizado com a injeção intracavernosa de agonista alfa-adrenérgico (epinefrina).
A superdosagem da trazodona é caracterizada por perda da coordenação muscular, náuseas, vômitos e sonolência.

Fenilpiperazinas: Nefazodona
Mecanismo de ação:
A nefazodona exerce seu efeito por meio do antagonismo de receptores 5HT2 e do bloqueio da recaptação de 5HT e NA. é uma medicação menos sedativa que a trazodona.
Efeitos colaterais:
Os mais comuns são: tontura, sonolência, astenia, náuseas, distúrbios visuais e confusão.
a nefazodona praticamente não apresenta efeitos na esfera sexual. Não há relatos de priapismo com a sua utilização.

Bupropiona
Mecanismo de ação:
A bupropiona bloqueia a recaptação de NA e de dopamina. Apresenta menor risco de virada maníaca ou ciclagem rápida em pacientes com transtorno bipolar. Não desencadeia sintomas de disfunção sexual.
Indicações:
A bupropiona está indicada no tratamento do transtorno depressivo, principalmente na depressão com lentificação e/ou hipersonia, do transtorno bipolar, do transtorno de déficit de atenção em adultos e no tratamento da dependência de nicotina.
Efeitos colaterais:
Os efeitos colaterais mais freqüentes são: agitação, náuseas, insônia, boca seca, constipação, perda de peso, cefaléia e tremores. Mais raramente podem ocorrer convulsões com o uso de doses altas.

Venlafaxina
Mecanismo de ação:
Em doses baixas, a venlafaxina bloqueia a recaptação de 5HT e NA. Em doses maiores, também bloqueia a recaptação de dopamina.
Efeitos colaterais:
A venlafaxina, em doses baixas a médias, pode causar náuseas, sonolência, agitação, disfunção sexual, insônia, cefaléia e diminuição do apetite. Em doses mais altas, pode causar hipertensão arterial.

Mirtazapina
Mecanismo de ação:
A mirtazapina é um antagonista alfa-2-adrenérgico, potente antagonista 5HT2 e 5HT3 e potente antagonista histaminérgico H1. Tem e feito ansiolítico importante, aumenta ou restaura o sono, apresenta pouca ou nenhuma disfunção sexual, náusea ou diarréia.
Indicações:
Por apresentar propriedade ansiolítica marcante, a mirtazapina está indicada no transtorno depressivo, principalmente quando associado à ansiedade e insônia, em transtorno misto de ansiedade e depressão e no transtorno do pânico.
Efeitos colaterais:
Os pacientes que usam mirtazapina frequentemente apresentam sonolência e aumento de peso.

Reboxetina
Mecanismo de ação:
A reboxetina é um inibidor seletivo e potente da recaptação de NA. Tem pouca ou nenhuma ação em receptores adrenérgicos, muscarínicos, dopaminérgicos e histaminérgicos.
Efeitos colaterais:
O uso da reboxetina pode causar boca seca, constipação, insônia, sudorese, taquicardia, vertigem, dificuldade de micção, retenção urinária, impotência e hipotensão postural. Deve ser utilizada com cuidado em pacientes com história prévia de convulsões e glaucoma.

Hipérico
Mecanismo de ação:
O hipérico (Hypericum perforatum, erva-de-são-joão) tem efeito antidepressivo e ansiolítico por meio da inibição da recaptação de 5HT e NA e fraca inibição da MAO.
Efeitos colaterais:
Os efeitos colaterais mais comuns são: fotossensibilidade, alterações gastrintestinais, cansaço e agitação.

Um comentário:

Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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