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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Masoquismo

Termo bastante vulgarizado, “masoquismo” passou a fazer parte do vocabulário popular depois que a psicanálise o utilizou para descrever um tipo de comportamento sexual caracterizado pela perversão. A palavra passou a designar, por extensão, situações caracterizadas pela busca de sofrimento. O termo origina-se de Leopold von Sacher-Masoch (1836-1895), escritor alemão autor de diversas obras literárias onde o assunto é amplamente abordado.
Atualmente, masoquismo serve para designar, na linguagem técnica da psiquiatria, uma séria de comportamentos diferentes entre si, intimamente relacionados com a busca do prazer através de um sofrimento.

ALTERAÇÕES CONSCIENTES - Uma forma de masoquismo bastante complexa é a que visa essencialmente ao prazer sexual. Nesse tipo de atuação, a pessoa tem ciência mais ou menos completa das alterações de comportamento sexual que apresenta e se escraviza a elas. Mais cedo ou mais tarde, o indivíduo estabelece íntima ligação entre o prazer sexual e o sofrimento. Em outras palavras, o indivíduo precisa sofrer para alcançar o prazer sexual. Descobre que as manobras que realiza para a prática sexual, algumas extremamente complexas, visam a estabelecer a situação de sofrimento, sem o que não é atingido o orgasmo.
O cinema e a literatura sensacionalistas exageram o quadro, mostrando casos que chocam pela humilhação a que o masoquista se submete. Isso resulta do fato de a humilhação constituir o traço fundamental que toda atuação aberrante procura despertar. Aos olhos do espectador despreparado, o masoquista se apresenta como uma vítima, um dominado diante da situação que a parceira lhe impõe.
O papel de submissão ao vexame é assumido artificialmente, ou apenas de modo aparente, após meticulosa elaboração das regras do jogo, onde quem dá as cartas, na verdade, é o masoquista, e não a parceira “opressora”. Freqüentemente, a parceira foge do papel que lhe é imposto, não desempenhando a atuação agressiva que deve desenvolver de maneira artificial. Nos casos comuns de masoquismo, a parceira é aliciada sutil ou abertamente - nesse caso são quase sempre prostituas que aceitam desempenhar o papel exigido pelo masoquista, como uma “tarefa” desligada do ato sexual natural.
A minúcia para os preparativos da situação prazerosa vai desde o ambiente - especialmente preparado para o ato - aos trajes de ambos os participantes. O masoquista desempenha então um papel bem inferior ao que exerce na vida real, o que facilita, a seus olhos, a situação humilhante. A dor também deve ser cuidadosamente dosada para que fique no limite suficiente à produção do prazer. Se for pequena, não chega a desencadear o prazer, e, se for muito intensa, prejudica o desenvolvimento da situação prazerosa, criando-se um sofrimento muito intenso e não o prazer controlado.
Quando a parceira não cumpre rigorosamente sua função, o masoquista se irrita de maneira violenta, ficando bem claro então quem detém realmente as regras do jogo. prazer sexual que leva ao orgasmo pode decorrer tão-somente da situação dolorosa ou pode ser complementado pela relação sexual genital. Ao contrário da relação sexual normal, o mecanismo preparatório da relação sexual masoquista deve obedecer a um ritual preestabelecido, sem o que o prazer não é alcançado. Perde-se a liberdade quer de atitudes, quer de tempo, da preparação sexual normal, para se tornar uma situação de estrita obediência, trazendo prazer apenas ao masoquista.

O ANSEIO DE PUNIÇÃO - O masoquista está sempre perseguido pela fantasia de uma punição rigorosa, mais intensa do que a vivida na situação encenada. As punições envolvem atos de caráter oral ou anal, que também trazem em si o sentido de vexame e humilhação. A parceira “ideal” dificilmente é encontrada, dada a complexidade que o “ritual” exige. Parece haver mesmo uma necessidade constante de troca de parceira, que se “gastaria” na tarefa de impor sofrimento e medo ao masoquista. A familiaridade da situação altera o aspecto de medo e submissão, que sempre devem estar presentes.
O prazer é buscado em dois níveis: é o fim a que se propõe a prática mas, por outro lado, é negado porque interrompe um ato, o que em si já acarreta uma situação de prazer. Muitas vezes, essa situação evolui para atitudes solitárias; nesse caso é usada apenas a imaginação deturpada, e a relação heterossexual transforma-se em masturbação. Toda a situação é vivida em termos de uma elaboração fantasiosa, independendo da presença de uma parceira real.

OUTRAS FORMAS - A conduta masoquista desligada da sexualidade é uma atitude muito mais geral, identificada com o modo de o indivíduo relacionar-se com o mundo. Essa maneira de reagir é inteiramente inconsciente, em oposição à atitude consciente da busca sexual de prazer masoquista. O indivíduo é incapaz de suportar suas vitórias ou então precisa anular as vitórias obtidas. Existem inúmeras pessoas que “só estão bem quando estão sofrendo”. Por índole, procuram as situações desconfortáveis, desagradáveis, que conduzam diretamente à dor.
São pessoas para as quais a vida não tem graça, ou melhor, “não pode ter graça”. Tornam-se rabugentas e antipáticas, pois tem uma disposição especial para neutralizar as situações agradáveis.

SADISMO E MASOQUISMO - Há muito tempo a psiquiatria conseguiu identificar um par de disposições diante das solicitações, o qual recebeu o nome de sadismo e masoquismo.
Esse par tem um sentido complementar e antagônico. Pode ser comparado, em termos gerais, à atitude ativa e passiva diante das situações. Ou, em termos de uma esquematização psicanalítica freudiana, pode ser identificado como manifestações ligadas aos instintos de vida e de morte. Freud admite a existência de uma forma masoquista primária, que consiste na ligação entre prazer sexual e dor.
Em sua teoria, também é enfatizado o sentimento de passividade. Em oposição encontra-se a atitude sádica, ativa, voltada para o exterior. O indivíduo, na impossibilidade de magoar a si próprio, procura externamente um alvo para realizar suas ânsias de tortura.
Por fim, esse sadismo pode retornar ao próprio indivíduo, transformando-se assim na forma de sadismo inconsciente, de sentido dessexualizado.
O comportamento neurótico tem com freqüência componentes sado-masoquistas. A perturbação do relacionamento com as pessoas tem como uma das conseqüências o mau uso da agressividade; ou a pessoa teme exageradamente ser agredida e então está constantemente em atitude defensiva, ou, ao contrário, assume atitudes superagressivas diante do perigo efetivo de cada situação.
Cria-se, dessa maneira, um mecanismo misto, com esses dois componentes, resultando, ao final um relacionamento ou atemorizado ou aterrorizante com as pessoas. Isso acaba por impedir a convivência normal dentro da sociedade, e a pessoa progressivamente se vê impossibilitada de desenvolver um sentimento de amor e afeição.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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