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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Psiquiatria: Barbitúricos

Acreditam os psiquiatras que o meio de autodestruição escolhido pelos suicidas mostra-se muitas vezes relacionado com as causas que levam a pessoa a buscar a morte. Segundo essa corrente, os barbitúricos seriam preferidos pelos suicidas que chegam ao gesto extremo devido a choques violentos com o meio em que vivem. A morte, nesses casos, não visaria a destruição como solução isolada, mas teria um sentido mais amplo, de reivindicação, de protesto, de assumir uma posição ou afirmar algo de maneira irretorquível.
Algumas pessoas que se utilizam de barbitúricos para por fim à vida apresentam, como traço fundamental de personalidade, as manifestações de cunho histérico. Essa teoria geral não significa que todos os suicidas que empregam barbitúricos se enquadram naquelas características de afirmação, reivindicação ou protesto. Há casos, mais raros, onde a finalidade principal é a morte, como processo de fuga.
Os barbitúricos têm ação sobre o sistema nervoso central e são depressores, geralmente usados como soníferos. Quando ingeridos em quantidades elevadas, podem desencadear a morte, principalmente se não houver socorro dentro das primeiras duas horas. Esse tempo também é variável, dependendo muito do tipo de barbitúrico utilizado - se pertence ao grupo de efeito rápido ou ao grupo dos de ação mais lenta.

OCORRÊNCIA DA TOXICOMANIA - Os barbitúricos são, também, usados por toxicômanos para atender seu vício. No estudo das toxicomanias tem muito mais importância o exame do próprio viciado do que da droga usada para a satisfação do vício. Não obstante o elevado número de produtos de ação excitante ou depressora, e a diversidade de ação de cada um deles, o fundamental é a análise da personalidade do viciado. O tipo de droga é secundário.
Há um grupo de substâncias muito ativas, capazes de determinar o aparecimento de uma toxicomania - principalmente os derivados do ópio -, relacionado pela Organização Mundial de Saúde. O uso dessas substâncias é vigiado rigorosamente, porque elas podem estabelecer uma dependência em qualquer pessoa que as use constantemente.
Os barbitúricos não fazem parte desse grupo. São usados pelos toxicômanos isoladamente ou em mistura com outras drogas. Em outras oportunidades, são utilizados como substitutos das drogas tóxicas tidas como de primeira linha. Os barbitúricos são hipnóticos por excelência. Os viciados em seu consumo são muito irritáveis, estão freqüentemente mal-humorados e quase sempre têm repentes explosivos contra o ambiente. Essas manifestações têm dupla origem. De um lado são ditadas pela tendência da pessoa para a irritabilidade, de outro decorrem da diminuição da lucidez, embotada pela droga que, sendo hipnótica, prejudica o nível de consciência. Os padrões afetivos e morais são alterados, uma vez que os viciados passam a supervalorizar a droga, cuja importância se torna maior, para eles, do que a da própria família, princípios morais e todo o resto.
Para obter satisfação de sua necessidade o toxicômano não reluta em mentir, engodar, criar subterfúgios, inventar dramas. Sente forte compulsão a vencer todas as dificuldades para a obtenção do barbitúrico. Se a mentira ajudar - e geralmente ajuda -, recorre a ela sem o menor constrangimento. O uso da droga provoca diminuição da capacidade geral do indivíduo. Sua atuação sobre a consciência faz que todo o processo de percepção e atenção fique diminuído. Isso dificulta a ambientação. Aliado à diminuição de rendimento físico, esse alheamento parcial torna muito difícil a convivência do toxicômano com os demais. Cria-se uma hostilidade que é mantida e ampliada, em círculo vicioso. O toxicômano tenta a aproximação, mas realmente não tem condições para realiza-la. Daí surgem as divergências e o afastamento. Ele se sente repudiado e tenta a reaproximação, ampliando cada vez mais o processo.
O uso do barbitúrico, nessas fases, pode provocar alguns acidentes, fruto do estado de confusão mental, onde predomina a agitação, com manifestações delirante-alucinatórias. Há alucinações visuais e persistentes, em geral com sentido terrificante. Esse estado é produzido por deficiências nutricionais e carências múltiplas, aliadas ao comprometimento psíquico. A linguagem se torna quase incompreensível, o doente “enrola” a língua, fala com lentidão, ainda que os sinais de excitação sejam bem visíveis.

VÍCIO E SUJEIÇÃO - Como ocorre com todas as outras substâncias que provocam a toxicomania, a supressão repentina dos barbitúricos provoca nos pacientes reações psicopatológicas muito fortes, formando o quadro denominado “síndrome de abstinência”. Em prazos variáveis entre 24 e 72 horas, aparecem os tremores, ansiedade muito intensa, suores abundantes, tendência à diminuição da pressão sangüínea e aceleração dos batimentos cardíacos. Costumam aparecer também crises de convulsões, como complicação desse quadro. Nos viciados em barbitúricos, as convulsões aparecem com mais freqüência do que nos consumidores de outras drogas, porque os barbitúricos interferem diretamente na sincronia cerebral. Por essa razão, são empregados como medicação em tratamento de crises convulsivas epiléticas. Esta é uma situação paradoxal, pois a pessoa enquanto usa barbitúricos está protegida contra as convulsões, por efeito da própria droga. Após três a sete dias da suspensão dos barbitúricos, aparecem manifestações delirante-alucinatórias. A angústia aumenta, bem como a inquietação, diante das alucinações predominantemente visuais e auditivas.
O efeito mais marcante em toda a situação patológica dessas pessoas dependentes dos barbitúricos é o alto grau de ansiedade e insônia. Esta, particularmente, pode ter sua instalação facilitada. Inicialmente, as pessoas poderiam ter dificuldade em conciliar o sono, razão pela qual, à certa altura, passaram a usar os hipnóticos. Depois de instalada a dependência, se as pessoas são levadas a lutar contra o vício e suspender o consumo desse indutor do sono, o mecanismo sono-vigília se desregula com muita facilidade. O estado de ansiedade contribui para agravar ainda mais o problema, e trava-se terrível luta no íntimo do indivíduo, que se sente tentado a recomeçar o uso das drogas. Por outro lado, cria-se uma resistência muito forte a todos os outros medicamentos, que não sejam barbitúricos, empregados para combater a insônia. Isso se explica pelo fato de haver aumentado a resistência orgânica ao mecanismo indutor do sono.

DEPAUPERAMENTO - Como manifestação da intoxicação crônica por barbitúricos, aparecem numerosas alterações físicas. Instala-se um depauperamento progressivo, que decorre principalmente da falta de apetite e da conseqüente carência de elementos vitais. Aparecem também importantes alterações cutâneas. A pele mostra extensas manchas vermelhas, semelhantes à escarlatina. Com muita freqüência, a febre acompanha esses sintomas. Instala-se ainda um mal-estar geral, o que muitas vezes provoca confusões diagnósticas, deixando idéia de doenças infecciosas. Dependendo do metabolismo - processamento de assimilação orgânica - que sofre o barbitúrico, podem ser encontradas alterações no sistema hepático. Isso dependerá principalmente da maior ou menor participação do fígado no processo de metabolização da droga.
Os barbitúricos são largamente usados por pessoas que têm trabalho noturno e precisam dormir de dia. Para resistir ao sono lançam mão de excitantes. Terminada a jornada, quando chegam ao limiar da manhã, não conseguem conciliar o sono. Para vencer essa resistência, procuram compensar o emprego anterior de excitantes, usando então barbitúricos. Dessa forma, realizam um “balanço” que compreende o consumo de excitantes à noite, para mantê-los ativos durante o trabalho, e o uso de barbitúricos pela manhã, para anular os efeitos dos excitantes.

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Quem sou eu

Nascido no Japão como filho de massagista shiatsu em 1947, imigrado ao Brasil em 1959, residente em Marília/SP/Brazil desde 1997.

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