Funções
do Fígado; Fígado e Sexo; Glândulas Suprarrenais; Fígado e Sangue; Fígado e
Nervos.
FUNÇÕES DO FÍGADO – Como
laboratório, o fígado analisa constantemente os elementos químicos que entram
na constituição do sangue e faz uma triagem deles: boa parte do que é inútil ou
prejudicial é transformada ou destruída e encaminhada para excreções; boa parte
do que é útil é também transformada, para melhor aproveitamento. E os
hormônios, como substâncias químicas que as glândulas endócrinas despejam no
sangue, tampouco escapam à ação “fiscalizadora” das células hepáticas por onde
passam.
Alguns
hormônios, ao chegarem ao fígado, são modificados mediante combinação com
substâncias que os tornam inativas. Em seguida, são levados ao intestino ou aos
rins para excreção. Outros hormônios são combinados com proteínas vetoras que
funcionam como verdadeiras embalagens e permitem o transporte do hormônio a
pontos distantes do organismo, para liberação e aproveitamento oportunos.
Por
outro lado, na mesma medida em que influi sobre os hormônios, o fígado também
sofre influência deles. A insulina, por exemplo, hormônio secretado pelo
pâncreas, atua diretamente sobre o mecanismo de aproveitamento de açúcar,
gorduras e proteínas do fígado.
Em
correlação das funções hepáticas e endócrinas estabelece condições para que a ocorrência
de lesões de algumas glândulas envolvam comprometimento do fígado e vice-versa.
O mais comum, porém, é que as lesões hapáticas provoquem desequilíbrios
marcantes no funcionamento glandular.
FÍGADO
E SEXO – Lesões do fígado, por exemplo, podem provocar graves alterações na
constituição e no funcionamento de órgãos sexuais, tanto dos homens quanto das
mulheres.
O
estrógeno, por exemplo, é um hormônio tipicamente feminino, secretado pelos
ovários ou pela placenta. Mas no homem também existe, embora em quantidades
mínimas, como secreção da suprarrenal. Em indivíduos de ambos os sexos, compete
ao fígado destruir os excessos desse hormônio, função que não pode ser
adequadamente desempenhada em caso de lesões sérias como as que resultam da
cirrose. A presença de estrógeno no sangue, em níveis anormalmente elevados
produz no homem atrofia dos testículos, queda dos pelos cutâneos e distribuição
pilífera do tipo feminino ou mesmo crescimento anormal das mamas
(ginecomastia), embora alterações desse tipo só tenham sido verificadas em caso
avançados de cirrose.
Na
mulher, o excesso de estrógeno pode levar a distúrbios menstruais capazes de
levar à esterilidade. Por outro lado, a incapacidade hepática em eliminar os
excessos de estrógeno pode determinar o retorno de fluxo menstrual depois da
menopausa.
Também
o hormônio masculino, a testosterona, é metabolizado pelo fígado e exerceria
efeitos protetores sobre ele. Mas nos casos de castração não se observam
efeitos da supressão da testosterona sobre as funções hepáticas.
GLÂNDULAS SUPRA-RENAIS – Experimentalmente, já se verificou que a extirpação das
glândulas suprarrenais determina alterações evidentes no aproveitamento dos
carboidratos – uma função hepática – e diminui sensivelmente a produção de
numerosas enzimas produzidas pelo fígado.
A
cortisona, um hormônio das suprarrenais, não provoca nenhuma alteração sensível
no fígado de pessoas sadias. Mas, nos portadores de lesões hepáticas, ocorrem
pelo menos três efeitos destacados:
1)
estímulos psíquicos, com aumento do apetite e melhor nutrição;
2)
alteração do metabolismo dos carboidratos, de onde decorre aumento do
glicogênio produzido pelo fígado;
3)
alteração na composição dos líquidos do organismo e nos eletrólitos que eles
contêm.
A
administração da cortisona em hepatopatias agudas determina geralmente uma
rápida regressão dos sintomas e uma precoce diminuição da dor. Isso demonstra
que de algum modo a produção de cortisona é útil ao funcionamento normal do
fígado.
Além
da cortisona – produto do córtex da suprarrenal, ou seja, pela “casca” da
glândula – outros hormônios produzidos pelo “miolo” (porção medular) das
suprarrenais também influem sobre o funcionamento hepático.
Embora
os estudos até agora empreendidos tenham produzido informações insuficientes,
sabe-se que a adrenalina e a noradrenalina, quando secretadas em níveis baixos
pelas suprarrenais, determinam anormalidade no metabolismo hepático do açúcar.
Mas
além dessas consequências diretas, a má correlação entre o funcionamento do
fígado e da suprarrenal oferece outros inconvenientes. Se o fígado não inativar
normalmente a cortisona, a produção desse hormônio por parte das suprarrenais
será automaticamente diminuída. Com o tempo, o córtex da suprarrenal se
“habituará” a um trabalho mais folgado. Se nessas condições ocorrerem
necessidades subidas de aumento de produção de cortisona, a glândula não terá
meios de responder com presteza à solicitação. Isso explica, em parte, a
resistência relativamente menor dos hepatopatas às moléstias infecciosas, que
aumentam a necessidade de cortisona.
Por
outro lado, se o fígado não eliminar os excessos de concentração de cortisona
no sangue, esse excesso levará a uma retenção de sal e de água, com o
consequente acúmulo anormal de água no organismo, o aparecimento de edemas nos
tornozelos e a impressionante “barriga d’água” (ascite).
O
alcoólatra, que apresenta graves lesões do fígado, geralmente apresenta essa
clássica manifestação, nos estágios mais avançados da doença.
FÍGADO
E SANGUE – Além das relações com as glândulas e com outros aparelhos do
organismo, o fígado atua sobre o funcionamento de outras partes do organismo e
recebe delas certa influência.
O
sistema cardiovascular, por exemplo, relaciona-se com o fígado em função do
papel hepático de depósito sanguíneo. Quando ocorre uma insuficiência cardíaca
do tipo daquela que resulta da pericardite, por exemplo, o coração não tem
capacidade de bombear para diante todo o sangue que chega a ele. Uma parte do
volume sanguíneo vai sendo represada então nos segmentos anteriores do sistema,
especialmente no fígado.
Com
isso, o fígado naturalmente se encharca de sangue. Se a solicitação for
excessiva, o fígado aumentará de tamanho, com uma consequente distensão da
cápsula que o envolve. O paciente assinala uma sensação de peso na região, além
de vivas dores.
Algo
semelhante é o que ocorre em casos graves de cirrose. O sangue proveniente do
baço, do intestino e do pâncreas conflui para a veia porta, que o leva ao
fígado. Mas a cirrose altera gravemente a estrutura do fígado e dificulta a
passagem do sangue, do mesmo modo que o endurecimento de uma esponja afetaria
sua capacidade de absorção. Por conseguinte, nem todo o sangue trazido pela
veia porta pode passar pelas vias normais.
O
excesso reflui então, provoca hipertensão da veia porta e se encaminha para
outros vasos. O entupimento força não apenas a veia porta como também outras
veias de acesso, de onde resultam varizes do esôfago, além de hemorroidas.
FÍGADO
E NERVOS – O sistema nervoso não sofre influência direta sensível do
funcionamento hepático. Somente em casos de afecções maciças do fígado, capazes
de provocar uma séria intoxicação do organismo, é que o sistema nervoso poderá
ressentir-se.
Em
tais casos, as funções nervosas são praticamente bloqueadas e o indivíduo entra
em coma, através de um progressivo afundamento no torpor característico. Mas
tais alterações são reversíveis.
As
manifestações neurológicas centrais e a reação total do indivíduo dependem do
estágio da enfermidade hepática que causa o coma. Nas enfermidades agudas, o
comprometimento do paciente se altera de modo brusco, enquanto e que nas
doenças crônicas a alteração é lenta e progressiva. Além de outras
manifestações clínicas surge a confusão mental, seguida de alterações
funcionais, perceptíveis no eletroencefalograma, e de inconsciência. O próprio
tecido cerebral pode alterar-se.
A
icterícia neonatal é uma enfermidade favorecida pela imaturidade do fígado do
recém-nascido. Aumenta acentuadamente a concentração de bilirrubina circulante,
e a impregnação do cérebro pelos componentes biliares pode produzir a morte na
primeira semana de vida. Em outros casos, as lesões de certas estruturas do
cérebro, no caso, resultam numa paralisia cerebral ou num retardamento
incurável.
Finalmente,
além do sistema nervoso, o fígado pode afetar até mesmo o esqueleto; longos
bloqueios do fluxo biliar determinam deficiente absorção de vitamina D e
cálcio, de onde a fragilidade óssea conhecida como “raquitismo hepático”.